10 Sábado, 29 de Maio de 2010.CapaOito perguntinhas de bolsoAfinal, o que se passou em 27 de Maio de 1977?«Eles que fiquemcom a taça»1. Tempos livres?Poucos, mas vou tendo alguns, e esses poucos ocupo-os em consultas,leituras diversas e vendo filmes.2. Que Livro está a ler?«Atitudes que nos Tornam Vitoriosos», da autoria de Jonas MendesBarreto, um pastor evangélico brasileiro. Um livro que me foi oferecidopela minha filha primogénita, por ocasião do Dia do Pai.3. Sabe cozinhar? O quê, por exemplo?O meu prato preferido é muamba de ginguba em bragre seco commutetas, que confecciono aos sábados com muito capricho. De resto,a culinária, assim como as demais lides domésticas, não escondemmuitos segredos para mim. Sou uma espécie de… Mário vai a todas.Aprendi com a minha mãe e tenho orgulho disso.4. Filhos?Tenho cinco filhos: de 34 anos, de 30, de 27 e de 16, respectivamente.Três rapazes e duas meninas, aliás, donas de casa. Este é o meu pecúliofamiliar. Também sinto muito orgulho deles.5. Clube? Que papel jogou na criação do Progresso do Sambizanga?Sou do Progresso. Mas estou a deixar o Progresso para aqueles que oquerem açambarcar. Para mim, eles que fiquem com a taça! Não apareço,não dou muito a cara, porque, de há algum tempo a esta parte, vêmaparecendo pára-quedistas a quererem retirar-nos o co-protagonismona criação do clube, e não só. Que fazer? O clube está aí, tipo quemdá mais… me leva. Tenho pena. No Progresso, cada dia vai havendomenos pessoas capazes de convencerem-me a marcar presença assídua.Neste Progresso começo a deixar de me rever.6. Onde passa Férias?«Férias» é uma expressão que oiço apenas pelo facto de ter já netas aestudar. Há muito deixou de fazer parte do meu léxico e dos meus hábitose costumes. Sinceramente, não sei há quanto tempo não gozo férias.7. Sua opinião sobre a poligamia e a poliandria?Gostaria de ter um pouco mais de tempo e espaço para abordar comalguma profundidade esses assuntos. Assim, vou acomodar-me só aconsiderar a sua questão, como tendo sido formulada do modo maissimples. A resposta, muito comodamente, é esta: não concordo.8. Seu B.I.?Emanuel de Jesus Conceição Costa (Manino), filho de Manuel Antónioda Costa e de Juliana Jerónimo da Conceição Paím da Costa, nascidoaos 14 de Dezembro de 1951, em Luanda. Técnico de Contas, casado,residente no Município do Sambizanga, Luanda. ■Uma enorme manchaR. SousaConquistada a independência,a 11 de Novembro de 1975, emAngola foi instaurado um regimemarxista, tendo como Presidenteo médico António AgostinhoNeto, que chefiava, já lá iam doisanos, o MPLA, um dos três movimento<strong>sem</strong>ancipalistas que lutaramde armas na mão contra oregime colonialista português.A independência fora proclamadasob o ardor de uma guerrafratricida que opunha as três formaçõespolítico-militares, cadauma delas com o suporte de paísesda região e de potencias que sedigladiavam no decurso da chamada«guerra-fria».O MPLA, com o apoio dos seusprincipais aliados, Cuba e UniãoSoviética, conseguiu levar vantagemsobre os seus adversáriosdirectos, nomeadamente a FNLAe UNITA que contavam com osuporte da administração norteamericanae do regime do apartheidda África do Sul.Alguns meses após a proclamaçãoda independência, a FNLAviu dissolvido o seu braço armado,o ELNA, enquanto a UNITAfoi resistindo com as suas milíciasdenominadas FALA que se acantonaramdurante anos nas chamadas«terras do fim do mundo»,no extremo sudeste de Angola.O MPLA confrontava-se comdisputas intestinas das suas váriastendências. A facção vitoriosa deAgostinho Neto conseguiu subjugaros seus adversários das RevoltasActiva e do Leste. Esta últimaque era chefiada por Daniel JúlioChipenda, foi completamentedesmantelada da sua componentemilitar, tendo alguns dos seusmembros sobreviventes indo integraras fileiras das FAPLA, doMPLA, ELNA, da FNLA, e FALA,da UNITA.Por seu turno, os principaisdirigentes da facção Revolta Activaforam enviados para os calabouçosda DISA, designação daprimeira política da RepúblicaPopular de Angola (RPA), criadapor Decreto-Lei presidencial de29 de Novembro de 1979. A DISA(Direcção de Informação e Segurançade Angola) era directamentedependente do Presidente doMPLA e da República e orientadasuperiormente pela ComissãoNacional de Segurança do Partidogovernamental.Na facção vitoriosa do MPLAhavia duas alas fundamentais, asaber: a primeira tinha como rostosvisíveis Lúcio Lara, Iko Carreira,Ludy Kissassunda, HenriqueSantos (Onambwe), Carlos Rocha(Dilolwa) e outros membros provenientesmaioritariamente doexílio no Congo-Brazzaville e Argélia;a segunda facção era constituídapor elementos provenientesda chamada primeira regiãopolítico-militar, ex-presidiáriosdos campos políticos do regimecolonialista, funcionários da administraçãopública e intelectuais,e os principais chefes eramAlves (Nito) Bernardo Baptista,José Van-Dúnem, Jacob João Caetano(Monstro Imortal), ManuelBagé e outros.Ambas as facções declaravampublicamente fidelidade a AgostinhoNeto, Presidente do Partido-Estado. O primeiro grupo considerava-seherdeiro dos princípiosconsignados no programa maiordo MPLA, de defesa dos interessesdas camadas mais desfavorecidasda população e o segundoarrogava-se também defensordessa franja da população, mascom base na aplicação rigorosa domarxismo-leninismo na versãopró-soviética.As duas facções tinham poderreal dentro do MPLA e do País. Ogrupo de Lúcio Lara tinha comoprincipal suporte os meios de difusãomassiva (rádio, televisãoe jornal estatais), os órgãos doaparelho central e provincial doEstado e importantes franjas dasForças Armadas e da DISA. Porseu lado, o grupo de Nito Alvesexercia influência sobre as camadasmais jovens das Forças Armadas,segmentos inferiores daDISA, organizações de massas domovimento e sobre alguns governosprovinciais.De ambos os lados eram emitidossinais provocatórios, o quecriava fortes sinais de instabilidadenas áreas sob controlo do Governo,que constituíam mais dedois terços do território nacional.A DISA, cumprindo as directiva<strong>sem</strong>anadas da Comissão Nacionalde Segurança e do Bureau Políticodo MPLA, executava a detençãodos principais elementos civis oumilitares conotados com a facçãode Nito Alves espalhados pelopaís inteiro.Foi nesse contexto que NitoAlves e José Van-Dúnem foramexpulsos d Comité Central do
Sábado, 29 de Maio de 2010. 11CapaMPLA e passaram a conceber anecessidade de mudança da direcçãodo país através de uma insurreiçãopopular que tomaria asrédeas do movimento e do Estado.Com um alegado apoio tácito dospaíses da chamada comunidadesocialista do Pacto de Varsóvia epromessa de não interferência nosassuntos internos de Angola porparte do corpo expedicionário deCuba, a facção de Nito Alves levouuma intentona golpista a 27de Maio de 1977.O «putch» não teve êxito e a facçãode Lúcio Lara, que <strong>sem</strong>pre <strong>sem</strong>ostrara fiel ao Presidente AgostinhoNeto, com o apoio directodas tropas cubanas subverteu asituação, tomando o controlo absolutoda mesma. Como resultadodesse choque de facções, algunsdirigentes políticos, militares edo Governo com posicionamentopróximo a Lúcio Lara acabarampor sucumbir no ardor da refrega.A resposta do governo centralnão se fez esperar e na voz do própriopresidente Neto saiu a ordempara não serem perdoados todosos elementos «fraccionistas»,numa alusão aos adeptos ou simpatizantesdo movimento insurrecionalde 27 de Maio.O pós-27 de Maio de 1977 foia maior desgraça que se abateusobre a terra angolana: famíliasinteiras terão sido dizimadas.Quadros da função pública, militarese paramilitares, estudantes,professores, intelectuais com formaçãosuperior foram presos, torturadose muitos deles fuzilados.Na sua obra autobiográfica intitulada«O Pensamento Estratégicode Agostinho Neto», o falecidogeneral Iko Carreira, ex-ministroda Defesa da RPA e membro daComissão Nacional de Segurançado MPLA, afirmou que do seu conhecimentoforam fuzilados poucomais de duzentos angolanosligados ao «putch» de Nito Alves.Na sequencia daquela tragédiaque se bateu sobre os angolanos,o Presidente cubano Fidel CastroRuz deu a conhecer ao mundo que60 mil compatriotas seus foramenviados a Angola para que estepaís africano pudesse fazer faceàs dificuldades que enfrentava.A declaração do chefe de Estadoda República de Cuba deusubstâncias às informações quecirculavam no mundo de queapós a intentona golpista em Angolateriam desaparecido entre 30mil a 60 mil cidadãos angolano<strong>sem</strong> circunstâncias não esclarecidas.De uma maneira geral, todasas famílias dos principais centrosurbanos de Angola terão sidoafectadas com a perda de um oumais entes queridos após a eclosãodo movimento de 27 de Maio.O tecido social angolano foi assimfortemente abalado no que demais nobre possuía: estudantes,quadros administrativos e político-militares,assim como intelectuaisdos mais variados ramos dosaber desapareceram do mundodos vivos <strong>sem</strong> deixar rasto.Com o esmagamento da oposiçãointerna, o regime do MPLAtornou-se mais agressivo e monolítico,não dando tréguas a qualquervoz dissonante utilizandopara tal os órgãos de repressão,com especial destaque para a suapolícia política, a DISA. Quemexpressasse publicamente opiniãodiferente da do regime incorria nasevera pena atribuída aos crimescontra a segurança do Estado. Eraa época do chamado «delito deopinião». À DISA foram atribuídasfunções como ordem de detençãode qualquer cidadão suspeitoassim como a instrução dorespectivo processo que era maistarde encaminhado para tribunaisque agiam em consonânciacom a polícia política.O preenchimento dos quadrosde pessoal da DISA não careciade qualquer visto ou anotação doTribunal Administrativo, nem depublicação no Diário da República,daí que os seus integrantes nãopoucas vezes agiam ou tomavamdecisões inspirados no livre arbítrio.Apesar do reforço interno doregime, a situação social das populaçõesdeteriorava-se progressivamente,o que terá contribuídosobremaneira para o desenvolvimentoe crescimento da rebeliãoarmada encetada pela UNITA deJonas Savimbi, com o apoio multiformeda administração norteamericanae do então regime segregacionistasul-africano.Muitos combatentes e estrategosdas forças governamentaiscom larga experiência na arte eciência militares haviam sido eliminadosfisicamente na ressacado 27 de Maio, o que terá provocadosignificativas fissuras naestrutura de comando castrenseda República Popular de Angola.As hordas militares da Repúblicade Cuba não combatiam directamentea rebelião da UNITA e sóo faziam em retaliação a qualquerataque às suas posições pelos homenscomandados por Jonas MalheiroSavimbi.Não é por acaso que muitosanalistas de diferentes quadrantesreputam as purgas verificadasapós o movimento de 27 de Maiode 77 como uma das causas dadiminuição da prontidão combativadas forças governamentaisangolanas que em finais de 70 ena primeira metade dos anos 80do século passado permitiram aexpansão da guerrilha do «galonegro», que dos confins do KuandoKubango emergiu para todasas províncias do país, incluindo oenclave de Cabinda.A desconfiança e a intolerânciainvadiram o quotidiano dosangolanos e o tempo encarregousede mostrar a todos que afinalnão foram os seguidores de NitoAlves, os chamdos «fraccionistas»,os causadores de todas asdesgraças que se abateram sobreAngola. Com a derrota dos«fraccionistas» cresceu a delinquência,os crimes de sabotagemeconómica, o garimpo e tráficoilegal de diamantes, a corrupçãogeneralizou-se em todas as áreasda vida nacional e para o cúmulode tudo isso a guerra fratricidaentre as forças governamentaisde Angola as forças militares daUNITA perduraria até 25 anosdepois da intentona golpista de27 de Maio.Conquistada a paz em 2002,ainda não estão inscritas no soloangolano as páginas do maior genocídioqualificado que se abateusobre o Povo de Angola, ocorridona sequência do 27 de Maio. Aindahoje, 33 anos passados desdeos infaustos acontecimentos, opaís inteiro ainda se debate coma problemática da falta de quadrosque nem o recrutamentocontínuo e sistemático de expatriadosconsegue preencher. ■O grupo de Lúcio Lara tinha como principal suporte osmeios de difusão massiva (rádio, televisão e jornal estatais),os órgãos do aparelho central e provincial do Estadoe importantes franjas das Forças Armadas e da DISA.O grupo de Nito Alves exercia influência sobre ascamadas mais jovens das Forças Armadas, segmentosinferiores da DISA, organizações de massasdo movimento e sobre alguns governos provinciais
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