26 Sábado, 08 de Maio de 2010.The Wall Street JournalPoder estatal volta com força no petróleoIan BremmerEspecial para o Wall Street JournalQual é a maior empresa petrolíferado mundo? ExxonMobil? BritishPetroleum? Royal Dutch Shell?Na realidade, hoje as 13 maiorespetrolíferas do planeta, de acordocom as reservas que elas controlam,pertencem e são operadas porgovernos. Saudi Aramco, Gazprom(Rússia), Corporação Nacional dePetróleo da China, National IranianOil Co., Petróleos de Venezuela,Petrobras e Petronas (Malásia)são maiores que a ExxonMobil, amaior entre as multinacionais. Coletivamente,as multinacionais depetróleo produzem apenas 10% dasreservas de petróleo e gás natural.As estatais hoje controlam mais de75% de toda a produção de petróleo.O poder do Estado está de volta.Com o fim da Guerra Fria, a crençade que os governos poderiamadministrar áreas da economia egerar prosperidade parecia morta.A China comunista vinha testandoo capitalismo desde 1978. As burocraciasmarxistas da União Soviéticae do Leste Europeu tinhamse curvado ao peso de sistemaseconômicos insustentáveis. O dinamismoe o poder de mercado deEstados Unidos, Europa Ocidentale Japão — alimentados pelo capitalprivado, pelo investimento privadoe pelas empresas privadas — pareciamter consolidadado o domíniodo modelo econômico liberal. Osgovernos privatizaram empresas efundos de pensão num momento emque ExxonMobil, Wal-Mart, Toyotae Microsoft elaboravam de formafebril planos de expansão global.Mas o capital público, o investimentopúblico e a empresa públicavoltaram com força total. Uma erade capitalismo dirigido pelo Estadovoltou a despertar, e nela os governosestão novamente conduzindoenormes fluxos de capital — mesmoalém das fronteiras das democraciascapitalistas — com implicaçõesprofundas sobre o livre mercado e apolítica internacional.China e Rússia lideram o desenvolvimentoestratégico das empresasestatais e outros governos jácomeçaram a fazer o mesmo. Nossetores de defesa, geração de energia,telecomunicações, siderurgia,mineração, aviação e outros, umnúmero crescente de governos depaíses emergentes, não satisfeito<strong>sem</strong> simplesmente regulamentarmercados, está se movimentandopara dominá-los. A atividade da<strong>sem</strong>presas públicas é estimuladapelo surgimento de uma nova classede fundos soberanos, veículos criadospelos governos com um grandevolume de reservas internacionaise que têm como objetivo maximizaro retorno do investimento público.Os governos usam esses instrumentospara criar riqueza quepode ser usada como os dirigentespúblicos quiserem. O principal motivonão é econômico (maximizaro crescimento) mas político (maximizaro poder governamental e aschances de sobrevivência de suas lideranças).Isso pode distorcer o de<strong>sem</strong>penhodos mercados. Empresasestatais e fundos de investimentosofrem com a mesma burocracia,desperdício e camaradagem políticaque assolam os governos (muitasvezes autoritários) que os controlam.Dentro das fronteiras dos paísescapitalistas, empresas e investidoresdescobrem que regras e regulamentosnacionais e locais são cadavez mais voltados para favorecerfirmas domésticas às suas custas.Multinacionais se veem como nuncacompetindo com estatais queestão armadas com substancial suportefinanceiro e político dos seusgovernos.Em dezembro de 2006, o governorusso informou a Shell, a Mitsubishie a Mitsui que tinha revogadosuas licenças ambientais comogerentes do projeto de desenvolvimentode petróleo e gás Sakhalin 2,de US$ 22 bilhões, forçando as empresasa reduzir suas respectivasparticipações à metade e a dar umafatia majoritária à russa Gazprom,que detém o monopólio do gás naturalno país. Isso, instantaneamente,reduziu em 2,5% as reservas mundiaisda Shell. Em junho de 2007, oconsórcio privado russo-britânicoTNK-BP concordou, sob pressão, avender a participação de 63% quetinha na Rusia Petroleum, companhiaque detinha a licença para desenvolvero enorme campo de gásKovykta, no leste da Sibéria, assimcomo uma participação de 50% naEast Siberian Gas Co.Foi dessa forma que a Gazprom setornou a maior produtora de gás naturaldo mundo, com direitos sobrecerca de um quarto das reservasmundiais conhecidas. A Gazpromdá ao governo russo o controle sobreum dos recursos mais valiososdo país. Também oferece ao Kremlinmaior influência política sobrea Ucrânia, pobre em energia, assimcomo sobre outros países vizinhos.A Rússia não tem o monopólioda recente onda de nacionalismoem recursos naturais. Em 2006, oEquador acusou a Occidental Petroleum,dos EUA, de espionageme danos ao ambiente e mandou astropas do exército tomarem possedas instalações dela. Em 2007, ogoverno boliviano nacionalizou oscampos de petróleo e gás do país.O Cazaquistão suspendeu o desenvolvimentodo campo de Kashagan,no Mar Cáspio, até então a maiordescoberta de petróleo em muitosanos. Em 2009, a estatal KazMunai-Gas tinha dobrado sua participaçãopara mais de 16%, tirando ações dosseis principais membros privadosdo consórcio.Nos próximos anos, essa tendência,provavelmente, será repetidadiversas vezes em outros setoresda economia. Em 2009, a Coca-Colaesperava que seu papel de principalpatrocinador da Olimpíada dePequim, no ano anterior, pudesseinfluenciar a posição das autoridade<strong>sem</strong> relação à oferta de US$ 2,4bilhões pela fabricante chinesa desucos Huiyuan. O governo chinêsdecidiu que a proposta violava a leiantitruste e a Coca-Cola acabou demãos vazias.A crise financeira e a recessãoglobal tornaram ainda mais difícilpara os proponentes do capitalismode livre mercado convencer aquelesque não acreditam no sistema. Aforte recuperação econômica chinesa,o alto de<strong>sem</strong>prego americanoe a volatilidade financeira na Europacolocaram em xeque o modelo dolivre mercado.As autoridades americanas podemresponder a esses desafioscom a criação de novas barreirasao investimento estrangeiro, particularmenteo de empresas estatais.E isso pode provocar uma onda denacionalismo entre alguns dessesmercados emergentes. À medidaque sua participação no mercadomundial cresce, os países que contamcom o capitalismo estatal paraampliar sua influência política eeconômica podem começar a fazernegócios quase exclusivamente entreeles, às custas das multinacionais.Os EUA, a União Europeia, o Japão,o Canadá e a Austrália devemter na próxima década a causa comumde se proteger contra os pioresefeitos dessa tendência. Paísesque favorecem o capitalismo estatalvão ampliar os negócios entre si.Esses dois blocos econômicos vãocompetir por melhores relaçõescomerciais e políticas com paísescomo o Brasil, a Índia e o México,que têm elementos dos dois modelos.Serão essas as rivalidades quevão definir a próxima geração dapolítica internacional.Para as empresas americanas, étentador acreditar que elas podemcontar com o acesso a centenas demilhões de novos consumidores naChina e em outros mercados emergentespara a fatia mais substanciosados lucros futuros. Mas elastêm que estar preparadas para umasérie de barreiras inesperadas. Amaioria das multinacionais queopera em países de mercado emergentejá sabe que tem que diversificara sua exposição ao risco — quenão pode apostar tudo em um oudois países. Mas as multinacionaisprecisam estar preparadas casouma mudança nos ventos políticosas levem em direção à porta de saída.Aqueles que acreditam no capitalismode livre mercado precisamcontinuar a praticar o tipo de capitalismoque eles pregam. Nos próximosanos, Washington tambémvai enfrentar tentações protecionistas,particularmente se as taxasde crescimento da China e as estatísticasde de<strong>sem</strong>prego nos EUAcontinuarem altas. Hoje, as ideias,a informação, as pessoas, o dinheiro,os bens e serviços atravessamfronteiras em uma velocidade <strong>sem</strong>precedentes. Mas esse trânsito nãotornou as fronteiras irrelevantes, eninguém esqueceu como os murossão construídos.Ian Bremmer é presidente doEurasia Group e autor de “The Endof the Free Market: Who Wins theWar Between States and Corporations?”(literalmente: “O Fimdo Livre Mercado: Quem Vencea Guerra entre Estados e Empresas?”)
Sábado, 29 de Maio de 2010. 27internacionalEmbaixador do Zimbabweinsulta diplomata americanoOembaixador do Zimbabwenos Estadosunidos da América,Machivenyika Mapuranga,ofendeu o secretário deestado adjunto norte-americano,Johnnie Carson, usando os piorestermos que se pode usar para seatingir um negro norte-americano.Pouco preocupado com oprincípio de boa vizinhançaque norteia o relacionamentoentre embaixadores e figurasdo governo que os acolhe, MachivenyikaMapuranga chamouJohnnie Carson de «house salve»,designação dada aos negrosque no tempo da escravatura tinhamcesso aos aposentos dosesclavagistas.O incidente aconteceu quarta-feiraà noite durante uma recepçãoalusiva ao dia de África.Carson, diplomata de carreiracom larga experiência em África,foi o orador principal. Falou entreoutros sobre os progresso registado<strong>sem</strong> África desde a luta delibertação à proclamação sucessivada independência em váriospaíses.Mapurannga saiu do cantinhoquando o diplomata número paraÁfrica do Departamento de Estadoquestionou as políticas de RobertMugabe em matéria de direitoshumanos. Irado, o diplomatazimbabwano gritou do canto emque se encontrava. «Você está afalar como um escravo de sala».Surpreso, Carlson interrompeubrevemente a intervenção, paraser interrompido logo que a retomou.O diplomata zimababwe atirou-sea Johnnie Carson comuma série de impropérios que lhecustaram algumas vaias. Aparentementeanimado com o facto deter conseguido marcar uma posiçãocontinuou. « Escravo. Tenhaa certeza de uma coisa. Nósnunca seremos uma colónia daAmérica. Você sabe disso». Coma sala em choque, alguns convidadostentaram convencer Mapuragaa abandonar o evento, oque conseguiram a muito custo.Antes disso, levou o troco porparte de Carson.«Você pode-sese esconder na penumbra destasala, mas a luz e a verdade hão-deo encontrar». À porta, já quandotodos sabiam de quem tinha partidoa tirada, ainda teve tempopara ouvir o último recado deCarson. «Quer-nos parecer queesta noite Robert Mugabe temalguns amigos na sala. Aconteceque ao contrário do que se passano Zimbabwe, aqui todos podemfalar <strong>sem</strong> estarem sujeitos a pressões,porque estamos numa demococracia».Os termos usados por Mapuragaprometem agravar a criseentre os dois países. Muparaga retomou,de alguma forma, expressõesusadas por Mugabe que numocasião se referiu à antiga secretáriade estado norte-americana,Condoleezza Rice, nos mesmostermos. Noutra ocasião e referindo-sea Morgan Tsvangirai,líder do maior partido da oposição,Mugabe disse que ele era o«tea boy» de Tony Blair, ou sejao «rapaz que servia o chá» ao exprimeiro-ministrobritânico. ■
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