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temática.se C. Calligaris, o psicanalista é sem pai, ou melhor, o psicanalista, no seuato, não tem pai. Por quê? “Porque a operação que nos faz sujeito é o efeitode uma lei que se compõe através de uma rede de fala, a qual nos espera enos reserva um lugar de onde desejar; não é a fala de alguém, nem do pai,nem da mãe, mas fala que vem de mais longe e que não opera uma soluçãode continuidade com o núcleo familiar, mas é coextensiva à fala humanadesde sempre”.E é aqui que se sustenta o “autorizar-se”. A aposta lacaniana é que asubjetividade não seja um efeito da função paterna, e que a lei possa serpensada como não tendo um agente.Isto é pensar que, numa ordem da lei, seria possível sustentar-se semreferência a uma potência fálica primordial (que é justamente o que nosneurotiza: a suposição de um legislador, em função da qual, abrimos mãodo nosso desejo, para agradá-lo). Lacan não nos diz que a ética da Psicanáliseé não ceder sobre o seu desejo?A dimensão ética do “autorizar-se por si mesmo” impediria um laçosocial entre analistas? Creio que não, pois podemos opor o instituir enquanto“manter-se de pé” por si próprio ao sustentar ou, segundo umasugestão de Didier Weill, insistir, quer dizer, “fazer-se manter de pé”. Então,em vez de Instituição Psicanalítica, conforme propõe ele, teríamos a“Instituição” Psicanalítica, uma vez que o desejo não se mantém por sipróprio e deve ser sustentado cada vez mais, e não de uma vez por todas.Por aí, o único antídoto contra a Instituição enquanto estabilizadora, é queela se autorize a questionar e a questionar-se. Que não seja apaziguadora econfortável ou brazão fálico a ser ostentado.E sobretudo, que não seja um sindicato, uma associação de profissionaisque exercem atividades idênticas, para a defesa do interesse comum,em nome do qual as diferenças devam ser anuladas ou escamoteadas – masque laços diferenciados possam ser a efetivação da experiência pessoal, tão20.correio <strong>APPOA</strong> l dezembro 2009