36 ANÁLISEEles se esquecem que um pouco mais de estatística ou demetodologia que aprendem em seus cursos e mostram emsuas teses, na maioria das vezes pouco aproveitáveis, nãosubstituem o conhecimento da realidade, o qual só chegacomo fruto do seu interesse, no dia a dia do seu trabalho.O segundo tipo, o Agrônomo vendedor, tem hojeuma importância grande, pois, como a assistência técnicaoficial está pouco presente, este profissional acaba tendomaior contato com os produtores, podendo influir bastanteno uso de tecnologia. Algumas empresas, nesse sentido,vem preparando seus profissionais, para uma chamadavenda assistida, fazendo-o conhecer outros aspectosligados ao sucesso da cultura e não apenas aquele ligado àvenda do determinado produto. Ocorre, no entanto, que emfunção das metas de venda, a necessidade do emprego e,muitas vezes, diante da existência de produtos não muitoconfiáveis, acabam tendo que vender gato por lebre. Muitosacabam se especializando num linguajar pouco técnico emais parecem um pastor daqueles que vendem milagres.Sabemos que parte dessa culpa recai sobre os Órgãosregistradores e reguladores, pois muitas coisas autorizadasa vender nem sempre foram adequadamente testadas.. Ai,falando em animais, o agricultor é quem paga o pato.O terceiro tipo é definido como Agrônomo voador,no sentido de que está sempre mudando suas idéias, o queem parte é bom, pelo estilo inovador, porem em excessoprejudica. Sempre que fala vem logo com uma novidade,lida aqui ou ali, assistida pela tv, obtida num seminário etc.É preciso que saiba que o processo de adoção de tecnologiadeve partir de uma base, que chamamos feijão com arroz, esobre ela adicionar novos ganhos, gradativamente. Muitanovidade, alguns sonhos, podem confundir o produtor epodem levar à perda do foco principal.O quarto tipo, muito comum, este nos profissionaismais velhos, é o Agrônomo agricultor. Ele decorre, em boaparte, da própria função exercida junto aos produtores,especialmente pelos serviços de Assistência técnica nointerior. Deixados atuar sem uma atualização técnicaadequada, os profissionais acabam, naturalmente,absorvendo muito do que pensa o produtor e acabamfalando como ele. Normalmente compram um sitio, o qual,O eng. Agr. Lázaro Soares vai aocampo, com o Técnico agrícola,avaliar as pragas no cafeeiro, naatividade de gerenciamento de projetoagrícola em Bocaiuva-MG, Nov 2009tocado com os poucos recursos de que dispõe e, ainda mais,sem a presença imprescindível do dono, acabam emfracasso, e, assim, realimentam suas idéias como produtor.Não sou especialista em extensão, mas a vivencia mostraque é, sim, importante compreender como o agricultorpensa e age, para usar esse conhecimento na mudançatecnológica a ser implantada.O quinto tipo é o Agrônomo chamado deecologeiro. É aquele que jogou fora todo o conhecimentotécnico e a ciência que aprendeu na escola e passa a se guiarmais pela ideologia. Dá valor apenas à natureza, quandosabe que o homem, ele mesmo, é um ser estranho à ela. Falasó de orgânico, de ONGs, de produtos naturais, mas age aocontrário. Gosta de trabalhar com ar condicionado, mascombate as hidroelétricas, gosta de tomar os melhoreswiskies, andar sempre alinhado, mas condena a vidamoderna. Eles ensinam aos produtores os métodos maisatrasados, querem que eles usem as sementes e as plantasnativas, menos produtivas e eficientes, quando se sabe queo sustento da humanidade, sempre crescente, depende doprogresso dos fertilizantes, defensivos e da biotecnologia,para o desenvolvimento e a proteção das plantações, que,assim, garantirão os alimentos necessários.O sexto tipo de profissional é o meu preferido.Trata-se do Agrônomo tecnológico, caracterizado comoaquele que associa seus conhecimentos técnicos aosaspectos práticos das questões. É o profissional que dáimportância à tecnologia, assim, procurando sempre estaratento às inovações, porem indica o mais racional, aquiloque se aplica, aquilo mais econômico. Ele procuraconhecer os problemas do campo, entende o que oagricultor pensa, mas, gradativamente, procura melhoraro nível do seu assistido.Um sétimo tipo de Agrônomo, não vou dizer onome, porem muitos colegas do ex-IBC vão entender porque. Acho um desperdício usar profissionais tão bempreparados nessa função nada técnica, a qual poucosresultados traz ao setor agrícola e onde qualquer pessoapoderia atuar.Afinal, quem somos?Nós somos aquilo que queremos e muito o quefazemos. Nossa função depende de cada um.Somos verdadeiros Engenheiros quando usamosas ferramentas de planejamento, execução e controle dosprojetos agropecuários. Quando desenvolvemos novasvariedades, novos produtos e métodos culturais maisracionais, aplicando os conhecimentos tecnológicos embeneficio do produtor e de toda a cadeia agrícola,finalizando no alimento adequado ao consumidor.Trabalhamos com seres vivos, plantas e animais, e com todoo ambiente que os rodeiam. Lidamos com biologia, umaciência complexa, muito mais difícil de entender do que asexatas matemática e física, dominadas pelos doutosEngenheiros. Somos até um pouco mais do que eles, poisdependem de nós, do alimento que ajudamos a produzir,eles e os burocratas que desejam mudar nossa carreira.
SÉRIE CLIMÁTICAChuva de inverno provoca perdas de qualidade dos cafés dasafra 2009 e menor e desigual floração para a safra de 201037J.B. Matiello e L.B. Japiassu- Engs. Agrs. Mapa e <strong>Fundação</strong> <strong>Procafé</strong>Falta de chuva é ruim, e excesso também. Istoé verdade na lavoura cafeeira.Neste ano de 2009 foi o excesso de chuvas,em período de inverno, que causou problemas.Primeiro na qualidade do café da colheita, feita emperíodo de maior umidade, condição em que osfrutos de café demoram a secar, tanto aqueles daplanta, como, especialmente, os que caem ao chão.Com chuvas a queda de frutos é maior e aumenta aproporção de cafés de varrição.Com a umidade ocorrem as fermentaçõesindesejáveis e piora a bebida do café. O excesso deumidade também piora o tipo, com maior presençade grãos ardidos e pretos, alem de prejudicar oaspecto dos grãos que ficam com uma cor chumbo,chamados de cafés chuvados.Grande proporção de cafés de bebida riada erio, de qualidade inferior, foi constatada nos cafésrecebidos pelas Cooperativas de Cafeicultores naregião Sul de Minas, onde os padrões de bebidapredominante normalmente são de duro a mole.A observação dos dados de chuva no períodode abril a setembro/outubro, na estaçãometeorológica da <strong>Fundação</strong> <strong>Procafé</strong>, em Varginha,mostra o diferencial registrado em 2009 em relação àmédia normal, dos últimos 25 anos, conforme podeser verificado no gráfico aqui incluído.Também em função dessa anormalidade daschuvas, tem-se observado uma grande irregularidadena floração, que dará origem à safra de 2010. Comose conhece, as gemas florais do cafeeiro são seriadase sua maturação em botões se dá gradualmente. Umperíodo seco na pré-florada, de julho a setembro,favorece a uniformização no abotoamento e, emseguida, com as chuvas, de outubro/novembro aflorada vem mais uniforme.Neste ano observou-se pequenas florações,desde agosto até agora, e temos ainda botões paraabrir, junto a frutinhos já formados. Isto podeprejudicar a produtividade do ano que vem, poisquanto mais uniforme a frutificação tanto maior é aqueda de frutos. Alem disso, florada desigual vaidificultar a operação de colheita e a qualidade dapróxima safra. Na época, se colher cedo, vai terbastante frutos verdes. Se atrasar vai ter muito caféno chão, aqueles que amadureceram antes.Florada desigual, vista no ramo, onde se observafrutos em 2 estágios, chumbão e chumbinhose ainda botões para abrirem futuramente,leva a problemas na colheitaPrecipitação (mm) registradana média normal (período 1974 a2008) e chuva observada no mesmoperíodo no ano de 2009 - FazendaExperimental de Varginha, MG