A escrita diária de uma “viagem de instrução” *1 - Fundação Casa ...

ESCRITOS54DIAS, Maria Odila L. da Silva.Aspectos da ilustração no Brasil55Ibid., p. 41.56Ibid., p. 48.57KURY, Lorelai. Homens de ciênciano Brasil: impérios coloniais ecirculação de informação (1780-1810). História, Ciência, Saúde:Manguinhos, Rio de Janeiro:Fundação Oswaldo Cruz, Casa deOswaldo Cruz, v. 11, p. 109-129,2004. Suplemento 1.58KURY, Lorelai. Les instructionsde voyage: orienter le regard,former les gestes. In: _____.Histoire naturelle et voyagescientifique (1780-1830). Paris:L’Harmattan, 2001. p. 97-98.é retomado e ampliado por Maria Odila da Silva Dias em “Aspectosda ilustração no Brasil”. 54O exame minucioso da totalidade das atividades científicas dos“brasileiros” formados em universidades européias, desde 1772, afaz constatar que esses estudos privilegiam o pensamento europeude orientação utilitarista, ligado diretamente a Voltaire e aos enciclopedistasfranceses. 55 “Uma inclinação geral própria do tempo,uma política de Estado bem determinada e a identificação dessesestudiosos brasileiros com os interesses materiais da elite rural brasileira”explicariam, a seu ver, a preferência dos “brasileiros” pelasabordagens pragmáticas das ciências e da filosofia, em detrimentode pesquisas nas “ciências puras ou exatas”. 56Uma vertente da historiografia brasileira mais recente começa,porém, a fazer uma revisão dessa via interpretativa. A pesquisa deLorelai Kury, por exemplo, demonstra, em dois trabalhos distintos,que o pragmatismo não é uma característica particular do iluminismoportuguês; o utilitarismo, isto é, os estudos com vistas a umaaplicação imediata foi, segundo ela, bastante defendido durante oalto iluminismo europeu. 57 O exame das “instruções” de variadostipos de viagem, promovidas por instituições públicas, privadas ouaté mesmo por “amantes das ciências”, na França entre os anos de1780 e 1830, indica que todas elas também mostravam-se preocupadascom uma utilidade pública e social de aplicação imediata. Nessestextos, as orientações aos viajantes eram feitas considerando-se essemesmo fim utilitário. O que impressiona Lorelai Kury ao analisaras “Instruções do museu”, por exemplo, “é o fato de a maior partedos argumentos propostos ser estranha às preocupações que se poderiamdenominar da ‘ordem do puramente científico’ ”. 58 O estudodas instruções francesas aponta, portanto, uma estreita vinculaçãoentre as viagens, as ciências naturais e a administração do Estadofrancês. O que leva a autora a chamar a atenção, em artigo maisrecente, para uma revisão do próprio conceito de Iluminismo, que,de acordo com seu ponto de vista, não pode ser entendido “apenascomo um movimento no campo das idéias e da filosofia, mas [tam-30