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A escrita diária de uma “viagem de instrução” *1 - Fundação Casa ...

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A <strong>escrita</strong> <strong>diária</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>“viagem</strong> <strong>de</strong> <strong>instrução”</strong>têm, em germe, o que será encontrado mais tar<strong>de</strong> no Correio Braziliense:<strong>uma</strong> percepção voltada para os fins utilitários e <strong>uma</strong> narrativa eminentementepedagógica como <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> seu próprio processo <strong>de</strong>aprendizado; <strong>de</strong> início, como estudante da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra e,n<strong>uma</strong> segunda instância, como observador empírico durante o períodoem que esteve na América do Norte.Se a missão oficial exigia <strong>de</strong> Hipólito da Costa <strong>uma</strong> olhar técnica, aestada nos Estados Unidos também lhe <strong>de</strong>u a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r,paralelamente ao cumprimento das tarefas que lhe foram atribuídas,<strong>uma</strong> verda<strong>de</strong>ira viagem <strong>de</strong> pesquisa que visava, é claro, a um“aprendizado” 82 não relacionado necessariamente à sua missão oficial.Um aprendizado que se consolidava através da experiência, do contatodireto com pessoas e objetos pesquisados, mas também “ouv[indo][na Filadélfia] as lições públicas do Dr. Rush <strong>de</strong> medicina prática,[…] [freqüentando] aula <strong>de</strong> anatomia”, quando teve a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> ver “a <strong>de</strong>monstração do olho muito bem feita”, 83 assistindoem Cambridge a “<strong>uma</strong> lição” sobre “natural philosophy”, 84 lendo operiódico Medical Repository, <strong>de</strong> cuja publicação se tornara inclusiveassinante e colaborador.Hipólito da Costa faz <strong>de</strong> fato <strong>uma</strong> viagem <strong>de</strong> aprendizado: aprendizadoque o habilitaria a <strong>de</strong>sconfiar do que lhe é inicialmente dado,atitu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>fine e distingue por excelência um pesquisador <strong>de</strong> umsimples técnico. Embora não tenha visto o tabaco da Virgínia, duvida,por exemplo, da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sua folha feita por William Hamilton.De alg<strong>uma</strong>s questões feitas ao Dr. Mitchill, “professor <strong>de</strong> química […][no] Colégio Columbiano”, Hipólito recebe respostas que o satisfazemmuito pouco. 85 Talvez não seja <strong>de</strong>scabido propor que o aprendizadoresultante do ato <strong>de</strong> pesquisar possa ter operado, no plano simbólico,a primeira ruptura no processo pedagógico a que estivera submetido<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que iniciara sua formação intelectual na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Coimbra, na medida em que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> apenas acumular informações epassa a se preocupar também com a produção <strong>de</strong> conhecimento.“Viagem <strong>de</strong> aprendizado”, mas também <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento,processo que vai se <strong>de</strong>senvolvendo à medida que Hipólito vai82Estou me referindo ao conceito<strong>de</strong> <strong>“viagem</strong> <strong>de</strong> aprendizado”, usadopor Flora Süssekind para <strong>de</strong>finiro tipo <strong>de</strong> viagem feita pelosviajantes naturalistas no Brasil doséculo XIX, em O Brasil não é longedaqui, p. 104-150.83COSTA, Hipólito José da. Diárioda minha viagem para Filadélfia,p. 85.84Ibid., p. 193.85Ibid., p. 146.39

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