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A escrita diária de uma “viagem de instrução” *1 - Fundação Casa ...

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A <strong>escrita</strong> <strong>diária</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>“viagem</strong> <strong>de</strong> <strong>instrução”</strong>bém] [...] como <strong>uma</strong> reunião <strong>de</strong> práticas administrativas, executadas,em geral, pelo Estado e visando racionalizar o funcionamentoda socieda<strong>de</strong>, conhecer e controlar as populações, a produção, osfluxos e os usos das mercadorias”. 59Consi<strong>de</strong>rando-se o seu estudo sobre as “Instruções”, a vinculaçãodas viagens com as ciências naturais e o funcionamento da políticaadministrativa do Estado francês em relação às suas colôniasfica bastante clara. O trabalho <strong>de</strong> elaboração e divulgação <strong>de</strong>ssesdocumentos era muitas vezes feito pelo governo e se dirigia a especialistas,mas também a não-iniciados em história natural. Encontram-se,entre as “Instruções” estudadas, alg<strong>uma</strong>s que possuemum teor didático explícito: o seu objetivo primeiro era, sem dúvidanenh<strong>uma</strong>, ajudar a instruir funcionários ou mesmo governadoresnas ciências práticas. 60 O domínio <strong>de</strong>sses procedimentos científicosera <strong>de</strong> bastante utilida<strong>de</strong> para o Estado, na medida em que chegavaa receber <strong>de</strong>sses funcionários vasto e rico material que po<strong>de</strong>riaser estudado por especialistas e usado posteriormente com <strong>uma</strong> daspossíveis estratégias <strong>de</strong> controle da produção e da população. 61A leitura das instruções <strong>de</strong> viagem para Hipólito da Costa(1798), Manoel Ferreira Câmara, José Bonifácio <strong>de</strong> Andrada eSilva e Joaquim Pedro Fragoso dos Santos (1790), por exemplo,<strong>de</strong>monstra idêntica preocupação com o caráter utilitário das ativida<strong>de</strong>scientíficas, comprovando, assim, que Portugal, a partir <strong>de</strong>sseperíodo, passava a seguir o mesmo tipo <strong>de</strong> prática administrativaimplantada pela França em suas colônias. E, para minha pesquisa,não importa que a relação das práticas científicas, iniciadas muito timidamenteno fim do século XVIII pela administração do Impérioportuguês, não tenha se estabelecido <strong>de</strong> forma plena, como propõeainda Lorelai Kury. Segundo essa autora, a utilização do conhecimentocientífico pelo Estado ocorreu aí <strong>de</strong> modo instável e <strong>de</strong>scontínuo,pois a política <strong>de</strong> incentivo ao <strong>de</strong>senvolvimento científico nãoconseguiu criar as instituições necessárias que pu<strong>de</strong>ssem promovermudanças significativas nos campos da “administração, das sociabilida<strong>de</strong>s,das instituições, da economia e da cultura”. 62 O que conta59Cf. KURY, Lorelai. Homens <strong>de</strong>ciência no Brasil, p. 110.60KURY, Lorelai. Les instructions<strong>de</strong> voyage.61Cf. KURY, Lorelai. Homens <strong>de</strong>ciência no Brasil.62Ibid., p. 125.31

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