A escrita diária de uma “viagem de instrução” *1 - Fundação Casa ...

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ESCRITOS86COSTA, Hipólito da. Memóriasobre a viagem aos EstadosUnidos em 1789 por Hipólito daCosta, p. 356.87Informações retiradas de DOU-RADO, Mecenas. Hipólito da Costae o Correio Braziliense, p. 79-81.88COSTA, Hipólito da. Memóriasobre a viagem aos EstadosUnidos em 1789 por Hipólito daCosta, p. 356.revendo e ampliando o seu foco de interesse. Ainda nos Estados Unidos,escreve uma “carta” para a Medical Repository – publicação dedicadaa assuntos ligados às ciências naturais – que foi, segundo ele próprio,“louvada” pelo Dr. Mitchill. Mas é sobretudo na “Memória” queHipólito manifesta a sua vontade de publicar os assuntos pesquisadose documentados, de modo a tornar o seu próprio aprendizado materialde aquisição de conhecimento para outros, quando escreve que “osconhecimentos que adquir[iu] neste artigo [os prados artificiais], eas idéas que sobre isso ti[nha], formão o objecto de uma pequenamemoria que far[á] publicar por meio da imprensa […]”. 86Não se tem conhecimento de que tenha chegado a publicar qualquermaterial sobre esse assunto; mas sabe-se que ainda nos EstadosUnidos ele escreve e publica as obras Descrição da árvore açucareirae Descrição de uma máquina para tocar bomba a bordo dos navios semo trabalho dos homens; e já em Portugal empreende as traduções doinglês de Memória sobre a broncocele ou papo da América Setentrional,de Benjamin Smith Barton, e História breve e autêntica do Banco daInglaterra, de E. Fortune – ambas publicadas pela Tipografia Calcográficado Arco do Cego. 87No momento em que esclarece a d. Rodrigo de Sousa Coutinhoque seria sumamente importante que “se imprim[isse] em folhetosbreves, e adaptados à compreensão dos […] agricultores [...] e seditribu[ísse] pelas províncias” o material pesquisado 88 , Hipólito daCosta está, na verdade, dando indicações de que o processo pedagógicoiniciado em Coimbra começa a se complementar: o que foraaprendido e pesquisado se converte agora em verdadeiras “lições”,mediadas pela palavra impressa. É portanto pelo exercício da escritado Diário, das cartas e das memórias, de manuais de conhecimentosúteis e de traduções que ele começa a desenvolver o processo pedagógicoque será consolidado nas folhas do Correio Braziliense.Antes, porém, de fundar o que é considerado sua obra maior, suafamiliaridade com o processo de divulgação de material científico seintensificaria com o trabalho na Oficina Tipográfica, Calcográfica eLiterária do Arco do Cego, que, sob a direção do frei Mariano da40
A escrita diária de uma “viagem de instrução”Conceição Veloso, tornar-se-ia a responsável pela política editorialdo Estado, publicando as informações acumuladas ao longo das últimasdécadas do século XVIII, inventariadas por expedições científicasoficialmente encomendadas. Nesse ponto específico, a análisede Jussara Quadros sobre esse estabelecimento editorial é bastanteesclarecedora quando assinala que o Estado, ao fundá-lo em 1799,atribuindo-lhe a função precisa de difundir os conhecimentos práticos,deixa de operar como “arquivo” e se transforma em “editor”. Oque significaria uma mudança considerável em termos de seu papelinstitucional: o que antes era um estado-arquivo torna-se um estado-editor;estado-editor porque a ele compete, agora, a “conversãodo saber naturalista na pedagogia dos conhecimentos úteis, convertendoos relatos descritivos de expedições e experimentos científicosnas orientações prescritivas dos manuais, os herbários botânicos empranchas ilustrativas, reproduzindo os signos de uma riqueza manipulável”para retomar a formulação da autora. 89No entanto, o trabalho realizado por Hipólito da Costa na TipografiaArco do Cego – de início como autor e tradutor e, mais tarde,como um de seus diretores, quando o estabelecimento é incorporadopela Imprensa Régia em 1801, encerraria a sua participação naexecução do programa político pensado por d. Rodrigo de SousaCoutinho, cujo fim último era a racionalização do funcionamentoeconômico e social do Império português por meio de novas práticasadministrativas.Mais do que a ruptura radical de sua relação com o poder público– representada pelos anos passados na prisão e, posteriormente,pelo exílio voluntário em Londres –, importaria refletir sobre aruptura que se efetiva em outro nível, quando, ao editar o CorreioBraziliense na capital britânica, Hipólito vai chamar a si aquela tarefaque, como bem apontava Jussara Quadros, havia se tornadoatribuição do Estado. De agora em diante, cabe a ele converter saberem pedagogia, nas páginas de seu periódico.De viagem oficial à viagem de pesquisa; de viagem de aprendizadoà viagem de produção de conhecimento; de aluno a mestre; de89QUADROS, Jussara. Estereotipias:literatura e edição no Brasilna primeira metade do séculoXIX. Campinas, 1993. Dissertação(Mestrado em Teoria Literária)– Instituto de Estudos da Linguagem,Universidade Estadual deCampinas. p. 32.41
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