13.07.2015 Views

No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

28 Tânia Pellegrini<strong>de</strong>s, em vigor na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> organiza<strong>da</strong>, mas que, <strong>no</strong> seu relativismo,funcionam como o mínimo controle necessário para que não imperesempre a barbárie.Paradoxalmente, são, também, em muitos pontos, diversas <strong>da</strong>quelas<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> “neofavela” <strong>de</strong>scrita por Paulo Lins, tambémuma civilização paralela, on<strong>de</strong>, to<strong>da</strong>via, grassa a lei do mais forte e aprerrogativa <strong>da</strong> satisfação do primeiro impulso, sempre violento. Comose o exercício <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, nas condições aí <strong>de</strong>scritas, funcionassecomo um passaporte para todo tipo <strong>de</strong> transgressão, uma vez que as<strong>no</strong>ções <strong>de</strong> moral, ética e legali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que incluem o controle <strong>da</strong> <strong>violência</strong>,não chegaram a encontrar um solo minimamente fértil parase enraizar. Eis aí a “versão maximalista e maligna” <strong>da</strong> malandragem,anteriormente cita<strong>da</strong>.<strong>No</strong>rbert Elias 26 sugere que, na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os comportamentospacificaram-se, pois os impulsos agressivos foram paulatinamenterefreados, recalcados, por se tornarem incompatíveis com a diferenciaçãoca<strong>da</strong> vez maior <strong>da</strong>s funções sociais que foram emergindoe também com a mo<strong>no</strong>polização <strong>da</strong> força pelo Estado mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>. Nassuas palavras, “ao se formar um mo<strong>no</strong>pólio <strong>de</strong> força, criam-se espaçossociais pacificados, que <strong>no</strong>rmalmente estão livres <strong>de</strong> atos <strong>de</strong><strong>violência</strong>. (...) A mo<strong>de</strong>ração <strong>da</strong>s emoções espontâneas, o controledos sentimentos, a ampliação do espaço mental além do momentopresente, levando em conta o passado e o futuro, o hábito <strong>de</strong> ligaros fatos em ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> causa e efeito – todos esses são distintosaspectos <strong>da</strong> mesma transformação (...). Ocorre uma mu<strong>da</strong>nça“civilizadora” do comportamento”.Acredito que essas <strong>no</strong>ções po<strong>de</strong>m explicar as diferenças <strong>de</strong> “expressãodo impulso violento” encontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s livros analisados e que,literariamente, alimentam o exotismo. Submetidos ao controle centraldo presídio, que, em última instância, representa fisicamente omo<strong>no</strong>pólio <strong>da</strong> força (haja vista a “solução final”), seus habitantes sevêem impedidos <strong>de</strong> utilizar livremente e a qualquer hora a sua forçafísica; assim, organizam-se minimamente em funções sociais simplesque estabelecem alguns laços <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência entre eles, evitando26Elias, O processo civilizador, v. 2, p. 198.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!