13.07.2015 Views

No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>No</strong> <strong>fio</strong> <strong>da</strong> <strong>navalha</strong> 31embora eles brotem em profusão: talvez aí resi<strong>da</strong> o valor ético e moral<strong>de</strong>sse relato, que procura não estetizar a miséria humana, na medi<strong>da</strong> emque não a exacerba; assim, não se equilibra perigosamente entre a <strong>de</strong>núnciae a conivência dos outros livros.V<strong>No</strong> mesmo ensaio anteriormente citado, Antonio Candido pon<strong>de</strong>ra,a respeito <strong>da</strong> “<strong>no</strong>va narrativa brasileira”, que “<strong>no</strong>s vemos lançadosnuma ficção sem parâmetros críticos <strong>de</strong> julgamento. Não se cogitamais <strong>de</strong> produzir (nem <strong>de</strong> usar como categorias) a Beleza, a Graça, aEmoção, a Simetria, a Harmonia. O que vale é o impacto, produzidopela Habili<strong>da</strong><strong>de</strong> ou a Força. Não se <strong>de</strong>seja emocionar nem suscitar acontemplação, mas causar choque <strong>no</strong> leitor e excitar a argúcia docrítico, por meio <strong>de</strong> textos que penetram com vigor mas não se <strong>de</strong>ixamavaliar com facili<strong>da</strong><strong>de</strong>” 30 .Acredito que isso se aplica aos textos <strong>de</strong> que tratamos, sobretudo porque eles trazem <strong>de</strong> volta, como vimos, a questão <strong>da</strong> representação, aqual, <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> análise crítica, tinha sido <strong>de</strong>sloca<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ixando <strong>no</strong>centro, por muito tempo, o primado <strong>da</strong> forma. Voltam agora, portanto,pontos consi<strong>de</strong>rados “exteriores ao texto”, “excrescências” supera<strong>da</strong>s, comoa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> criar (ou não) mundos verossímeis queexpressem efetivamente uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta, e, principalmente, empaíses como o <strong>no</strong>sso, a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua função social.Nesse sentido, o choque suscitado pela <strong>violência</strong> que emergedos textos aqui tratados <strong>de</strong>ixa claro que é necessário buscar outrascategorias <strong>de</strong> análise, não restritas a forma e estilo, como aqui tentamosfazer, para buscar compreen<strong>de</strong>r o sentido e a função <strong>da</strong> produção<strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>hoje</strong>. Se <strong>no</strong>s ativermos à afirmação<strong>de</strong> Candido, vamos perceber que, <strong>de</strong> fato, trata-se <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r a perspectiva,abandonando uma <strong>de</strong>finição romântica <strong>da</strong> função social<strong>da</strong> cultura basea<strong>da</strong> na idéia <strong>de</strong> que esta <strong>de</strong>veria ser veículo <strong>da</strong>“graça, <strong>da</strong> beleza e <strong>da</strong> harmonia”, aceitando a prevalência <strong>de</strong> umapossível função social que, <strong>de</strong> algum modo, leve em consi<strong>de</strong>raçãoesse impacto trazido pela representação <strong>da</strong> <strong>violência</strong> e <strong>da</strong> abjeção,30Candido, op. cit., p. 214.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!