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No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje

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<strong>No</strong> <strong>fio</strong> <strong>da</strong> <strong>navalha</strong> 21impedia a i<strong>de</strong>ntificação do narrador com a personagem, por motivos sociais:“o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> preservar a distância social levava o escritor, malgrado asimpatia literária, a <strong>de</strong>finir sua posição superior, tratando <strong>de</strong> maneirapaternalista a linguagem e os temas do povo. Por isso se encastelava naterceira pessoa, que <strong>de</strong>fine o ponto <strong>de</strong> vista do realismo tradicional”.E referindo-se aos textos <strong>de</strong> Rubem Fonseca e <strong>de</strong> outros contemporâneos,repara que a “abdicação estilística” funciona muito bem, “masquando passam a terceira pessoa ou <strong>de</strong>screvem situações <strong>de</strong> sua classesocial, a força parece cair. Isto leva a perguntar se eles não estão criandoum <strong>no</strong>vo exotismo <strong>de</strong> tipo especial, que ficará mais evi<strong>de</strong>nte para osleitores futuros”.Consi<strong>de</strong>rando essas questões, percebe-se que, num ângulo específico,a representação <strong>da</strong> linguagem chula do submundo vai insuflar umanuance <strong>de</strong> outro teor à linguagem literária, não mais basea<strong>da</strong> <strong>no</strong>s antigospadrões realistas, calcados na bienséance, ain<strong>da</strong> que relativa, e <strong>de</strong>sgastadospela chama<strong>da</strong> “crise <strong>da</strong> representação” diante dos impasses <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>vareali<strong>da</strong><strong>de</strong> urbana. Outros temas e outros objetos <strong>hoje</strong> se impõem, traduzidosnuma outra linguagem: tudo o que é proibido ou excluído, tudo oque recebe estigmas culturais, como a <strong>violência</strong> paroxística, passa a objeto<strong>de</strong> representação. Como afirma Schollhammer, “quando a <strong>literatura</strong> se<strong>de</strong>para com os limites <strong>da</strong> representação, chega a expressar, na <strong>de</strong>rrota <strong>da</strong>transgressão, a própria proibição na sua forma mais concreta” 13 . São essesos pontos que problematizaremos a seguir, mesclando a matéria representa<strong>da</strong>e suas formas <strong>de</strong> representação.IIIParece que a questão primeira a ser trata<strong>da</strong>, com relação aos textosescolhidos, é a <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua representação <strong>hoje</strong>,ou seja, até que ponto e <strong>de</strong> que maneira a situação concreta e imediata<strong>da</strong> exclusão e <strong>da</strong> <strong>violência</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, com to<strong>da</strong>s as suas implicações enuances, po<strong>de</strong> ser representa<strong>da</strong> sem resvalar para o artificial, para o convencionalou para o ambíguo, tornando-se mais um elemento <strong>de</strong> folcloreou <strong>de</strong> exotismo, presa fácil <strong>de</strong> manipulação <strong>da</strong> mídia e do mercado.O que está em jogo nesse <strong>no</strong>vo realismo feroz – neo-realismo,13Op. cit., p. 245.

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