13.07.2015 Views

cultura - Pedro P. Ferreira

cultura - Pedro P. Ferreira

cultura - Pedro P. Ferreira

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

18patrimônio da Humanidade, passou-se em uma década à <strong>cultura</strong> como “patrimônio”tout court, e mais especificamente ainda, à “<strong>cultura</strong>” como propriedade particular decada povo indígena.Regimes de conhecimento tradicional como frutos de diferentes imaginações.Percebe-se em todos esses documentos, Nações Unidas ou da OrganizaçãoMundial do Comércio, sejam de legislações nacionais, sejam de declarações panindígenas,a marca da influência e da imaginação das idéias metropolitanasdominantes. A influência opera em dois sentidos aparentemente contraditórios. De umlado, os movimentos indígenas formulam reivindicações nos termos de uma linguagemde direitos dominante, passível de ser reconhecida e portanto com chances de ser bemsucedida. Em seu famoso texto sobre o julgamento do caso Mashpee, James Cliffordmostrou que um relato histórico persuade um júri muito melhor do que uma discussãode conceitos antropológicos sobre identidade étnica. Não se vence uma causa pondoem discussão o senso comum. Isso é provavelmente o que Marilyn Strathern quis dizerquando escreveu (a propósito dos estudos feministas) que as políticas radicais sãoconceitualmente conservadoras. As declarações indígenas também.Contudo, elas introduzem questões nas quais se afirmam a especificidade e adiferença do conhecimento tradicional. E esse é o segundo modo pelo qual osconceitos metropolitanos exercem sua dominação. Esses conceitos supõem, ao falarem “conhecimento tradicional” no singular, que um único regime possa representaruma miríade de diferentes regimes históricos e sociais de conhecimento tradicional.Eles unificam o conhecimento tradicional à imagem da unificação operadahistoricamente no conhecimento científico. Ainda mais especificamente, pode-se ver aimaginação metropolitana em ação no modo como os povos tradicionais são levados arepresentar seu conhecimento e os direitos que podem lhe ser associados. Énovamente Marilyn Strathern quem tem a melhor formulação: “uma <strong>cultura</strong> dominadapelas idéias de propriedade só pode imaginar a ausência dessas idéias de determinadasmaneiras”.Não é muito difícil detectar como é que diferentes setores imaginam oconhecimento indígena. Numa formulação simples: o conhecimento indígena éconceitualizado como o avesso das idéias dominantes. Assim, os povos indígenasparecem estar condenados inextricavelmente a encarnar o reverso dos dogmas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!