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cultura - Pedro P. Ferreira

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36na ayahuasca. A ayahuasca, como já mencionado, é uma bebida alucinógenapreparada basicamente a partir da combinação de um cipó e das folhas de um arbusto,bem conhecida pelos grupos indígenas de toda a Amazônia ocidental que acrescentamdiferentes ingredientes a essa receita básica. Os grupos indígenas de língua Pano doAcre usam regularmente a concocção, em geral sob a orientação de um pajé. Ospajés, por sua vez, usam-na como um meio para contatar animais-gente ou os donosde animais. Uso a expressão animais-gente para expressar a hoje bem conhecidacaracterização da ontologia de povos indígenas amazônicos apresentada por TaniaStolze, Eduardo Viveiros de Castro. Para esses povos, animais selvagens como cobras,pássaros, peixes, mamíferos, etc, são pessoas, que possuem uma etiqueta social ecostumes semelhantes aos seus, mas com um ponto de vista diferente, determinadopor sua natureza física diferente. A natureza física é assim uma espécie de roupa,ponto que foi desenvolvido por Aparecida Vilaça. A capacidade de mudar sua próprianatureza física, de vestir e despir a aparência dos animais-gente, permite que os pajésconversem com eles.O uso da ayahuasca difundiu-se entre seringueiros no vale do Juruá, sob adireção de “pajés de cipó” que costumavam usá-lo de um modo semi-clandestino,visto ser considerado como um hábito indígena “selvagem”, reprimido pelos patrões. Ostatus da ayahuasca mudou dramaticamente quando ela passou a fazer parte dereligiões urbanas. A primeira religião que usou o “chá de cipó” foi o Santo Daime,fundada nos arredores de Rio Branco por um ex-seringueiro maranhense, Mestre Irineu,no início dos anos 30. Dentre as várias cisões e variantes que surgiram mais tarde,figura a União do Vegetal que, como mostraram Bia Labate e Sandra Goulart, nasceuem 1961, entre ex-seringueiros, mas, ao migrar dos arredores de Porto Velho einstalar-se nas cidades grandes, parece ter atraído praticantes provenientes sobretudoda classe média, tornando-se cada vez mais hierarquizada. É conhecida hoje por usaruma linguagem cientificista, sob a influência da crescente presença de médicos,psiquiatras e psicólogos em suas fileiras.A rede urbana estabelecida por essas religiões que se difundiram largamente apartir do final da década de 1970 explicaria, assinala Edilene C de Lima, a difusão dokampô nos últimos anos do milênio passado. A União do Vegetal (UDV) foi responsávelda saída do kampô do âmbito local no Acre para o resto do Brasil. No entanto, fiel asua postura científica, acabou proibindo seu uso devido a incertezas sobre seuspossíveis efeitos colaterais. Coube ao Santo Daime, menos hierarquizado, difundir o

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