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cultura - Pedro P. Ferreira

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34da autenticidade do procedimento como um todo? Na forma de reivindicar (que podeser entendida como “tradicional”) ou no objeto da reivindicação (que parece inovar)?Ou ainda na coletividade (que também por sua vez inova em linguagem tradicional)? Amoral da história, ao contrário do que se possa pensar, é não decidir sobre a‘autenticidade’ do procedimento; a moral é que a ‘autenticidade’ é uma questãoindecidível.A história do kampô.Já está mais do que na hora de contar a história da rã. A agitação começou emabril de 2003, quando uma carta assinada por índios Katukina do Acre chegou aoMinistério do Meio Ambiente. A carta afirmava que o uso da secreção de uma rãarborícola (ou seja, o que se chama uma perereca em zoologia), difundido desdealguns anos pelas principais cidades do Brasil, derivava do conhecimento tradicionalkatukina e estava sendo indevidamente apropriado. A então ministra Marina Silva, quecomo se sabe é acreana e filha de seringueiros, se comprometeu a fazer desse caso umexemplo positivo de defesa de direitos sobre conhecimento tradicional. Era um desafioconsiderável, mas também uma mudança oportuna na atitude puramente defensivamarcada pela desconfiança mútua entre indígenas e pesquisadores. Foi nesse momentoque fui chamada a participar, embora desde o começo eu fizesse notar que o casoenvolvia questões bem difíceis e conseqüentemente não era particularmente promissorpara estabelecer desejado paradigma positivo. Lembrei o fato de que o conhecimentoe uso da secreção da perereca eram compartilhados por um grande número de povosindígenas amazonicos, no Brasil e no Peru, e também que já havia sido descrito naliteratura etnográfica e bioquímica há algum tempo. Já seria difícil conseguir que osvários grupos indígenas chegassem a um acordo quanto à repartição dos eventuaisbenefícios, sem mencionar que o Peru e o Brasil tinham leis diferentes sobre esseassunto. Entretanto, como o Ministério do Meio Ambiente insistia em assumir esse casoespecífico, comecei a trabalhar com outros atores: herpetólogos, biólogosmoleculares, pesquisadores médicos de hospital de São Paulo, além, evidentemente,dos povos indígenas e dos funcionários públicos envolvidos. Além deles, chamei umaex-aluna de doutorado, Edilene Cofacci de Lima, que tinha trabalhado entre osKatukina e atualmente é professora da Universidade Federal do Paraná.

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