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cultura - Pedro P. Ferreira

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32Unidas, e que se distinguia das aldeias comuns. Era um conjunto circular de casas emtorno de um pátio central, muito parecido com todas as aldeias krahô e seguindo aliáso modelo ideal de aldeia dos povos de língua Jê. Mas as casas não eram unidadesuxorilocais, como nas aldeias reais, e sim como que embaixadas das diferentes aldeias.O padrão circular era eloquente e compreendido por todos. Era igualmente fácil deentender a outra encenação espacial, a saber, o círculo de pajés circunscrito pelo anelde anciãos e chefes de aldeia. Assim, os Krahô traduziam e representavam visualmenteem termos explicitamente krahô a novidade do regime representativo no qual estavamsendo introduzidos.Cabe aqui uma nota a respeito da nomenclatura. A palavra krahô para o quecostuma ser chamado de ‘xamã’ no jargão antropológico seria wayaká. No entanto,como sabemos, existe também um termo pan-brasileiro para xamã, que deriva do tupifalado pelos grupos indígenas da costa atlântica entre os quais a instituição foidescrita pela primeira vez no século XVI: pajé. Do mesmo modo que ‘xamã’ se tornouum termo corrente na lingua franca antropológica, pajé tornou-se um termo correntetanto em português como na lingua franca dos movimentos sociais indígenas. Assim, épajé que se usa como um termo geral para indicar os especialistas em conhecimentosmédicos ou esotéricos. Evidentemente, essa categoria genérica de pajé apaga umasérie de distinções significativas que são importantes em quase todas as sociedadesindígenas. É comum não haver, em linguas indígenas, uma palavra única que abranjavários especialistas diferentes agrupados pelo termo “pajé”. Stephen Hugh-Jones fazuma discussão reveladora de tais distinções entre os Barasana, na Colômbia.Independentemente de distinções entre categorias, se nos limitarmos ao termokrahó wayaká não existia nada que se pudesse chamar de uma coletividade de wayakáantes desses acontecimentos. Segundo as etnografias dos Krahô, de Harald Schultz, apartir de trabalho de campo realizado nos anos 50, e posteriormente de Júlio CesarMelatti, na década de 60, em geral não havia mais de um ou dois wayaká por aldeia,que praticavam seu ofício independentemente um do outro. O futuro desses pajésparece não ter sido propriamente dos mais promissores. Como eram responsabilizadostanto pelas curas quanto pelas mortes, e como costumavam cobrar caro por seusserviços, o que não os tornava muito populares, geralmente acabavam sendo acusadosde feitiçaria. E quando as coisas chegavam a esse ponto, ou fugiam, ou eram expulsosda aldeia, ou eram mortos.

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