13.07.2015 Views

cultura - Pedro P. Ferreira

cultura - Pedro P. Ferreira

cultura - Pedro P. Ferreira

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

24internamente esses mesmos países têm de lidar com as reivindicações dos povostradicionais sobre seus conhecimentos e recursos genéticos, reivindicações estas queapresentam uma inquietante semelhança com as reivindicações dos próprios estadosnacionais. Além disso, a Convenção da Biodiversidade é um instrumento das NaçõesUnidas, e os povos indígenas utilizam cada vez mais com os fóruns das Nações Unidaspara encaminhar suas preocupações e reivindicações independentemente darepresentação de seus governos, e às vezes atalhando-as, e criando assim uma fontede constrangimento potencial para eles. Um exemplo paradigmático é a questão daobrigatoriedade de revelação de origem em pedidos de patente, um dispositivo quepermitiria verificar a legalidade de acesso aos recursos genéticos e, por conseguinte,poderia facilitar a repartição de benefícios. A implementação internacional darevelação obrigatória é uma importante reivindicação dos países mega-diversos, tantono contexto da Convenção sobre a Diversidade Biológica como no âmbito daOrganização Mundial do Comércio; internamente, contudo, embora a declaração deorigem tenha se tornado obrigatória no Brasil o governo brasileiro mostra-sevisivelmente moroso na implementação da regra.Dada a longa história de políticas colonialistas internas em relação aos povosindígenas, reconhecer-lhes direitos sobre recursos genéticos e conhecimentostradicionais não é um passo fácil para a maioria dos países mega-diversos. Quem e emque condições deveria conceder acesso a recursos genéticos nas terras de povostradicionais? No Brasil, enquanto o Ministério do Meio Ambiente tem apoiado asreivindicações de povos tradicionais, outros Ministérios opõem-se a elas. Os biólogosbrasileiros, apoiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, lutam pelo acesso livreou pelo menos simplificado aos recursos genéticos brasileiros. Diante da bio-paranóiageneralizada em relação a pesquisadores, eles se recusam a serem tratados pelospovos indígenas com a mesma suspeição que foi lançada contra seus colegasestrangeiros.O aliciamento de povos indígenas numa milícia vigilante contra a bio-piratariaestrangeira tem com efeito conseqüências imprevistas. Ele na prática transformouconhecimentos tradicionais em segredos de estado, gerando uma extremadesconfiança para com qualquer pesquisador, brasileiro ou não; ao mesmo tempo,alimentou expectativas quase escatológicas de lucros, com frustrações proporcionais aelas; finalmente, como observaram Alcida Ramos e Beth Conklin, tornaram esotéricoso que antes eram conhecimentos e práticas perfeitamente corriqueiros. Discutiremos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!