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cultura - Pedro P. Ferreira

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30Um território de 3.200 km 2 foi reconhecido como terra dos Krahô em 1944,quatro anos após um ataque de fazendeiros a duas aldeias que deixou mais de 20índios mortos. Os Krahô resultam provavelmente da fusão histórica de dois grupos Jêdiferentes, e de alguns remanescentes de outros grupos timbira orientaisdesaparecidos. Indivíduos de grupos linguisticamente aparentados, principalmenteApinayé, e também brasileiros de pequenas cidades da região, também foram sejuntando a eles, em geral casando-se com mulheres krahô. Já que os Krahô, comotodos os demais grupos Jê, são uxorilocais, os homens incorporados por casamentopodem alegar direitos de residência com relativa facilidade. Há uma aldeiaparticularmente misturada que se destaca das demais, mas além disso existe umaclara distinção política entre dois sub-grupos que ocupam respectivamente o sul e onoroeste (com uma extensão setentrional) do território, e que estabeleceram laços,respectivamente, com uma ONG e com um funcionário público brasileiro. Seria difícildizer com certeza se as diferentes origens afirmadas pelas duas facções é a causa ou oefeito dessa divisão política. Mas não resta dúvida de que afirmações de diferença deorigem são reforçadas em determinadas conjunturas políticas, se é que não surgemdessas conjunturas mesmas. Se por um lado as aldeias krahô se dividem ou, maisraramente, se juntam, segundo linhas de fissão e fusão que são em grande parteestruturais, um novo princípio de organização foi posto em prática pela política dos“projetos”. Os “projetos” de instituições privadas ou do governo, conforme mostrouBruce Albert, tornaram-se um princípio organizador central da política indígenacontemporânea, o que poderia ser estendido a movimentos sociais em geral. ‘A caçaaos projetos’ é uma atividade constante para a qual os antropólogos são recrutados. Aexpressão “fazer um projeto”, no vernáculo dos dos movimentos sociais amazônicos,ganhou um significado muito próximo de solicitar uma doação, um presente, umfinanciamento. Certa vez, um seringueiro veio pedir a Mauro Almeida e a mim que“escrevessemos um projeto” para ele comprar um aparelho de karaokê (como não háeletricidade na mata, o aparelho era para ser entesourado junto com outrasgeringonças). Embora a linguagem local enfatize sua natureza econômica, sugiro quese deva entender por “projeto” qualquer combinação de empreendimentos <strong>cultura</strong>is,políticas e econômicas que envolva ou dependa de agentes externos tanto quanto dapopulação indígena. A demarcação de terras, a recuperação de peças depositadas emmuseus, a participação em uma organização política indígena nacional, bem como

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