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cultura - Pedro P. Ferreira

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4conhecida sob diversos nomes — como nishi pae, ayahuasca, yagé, kaapi — no mundoindígena da Amazônia ocidental e genéricamente como “cipó” no português regionaldo Acre. Desde a década de 1930 pelo menos a ayahuasca foi incorporada como parteessencial de diversas religiões populares urbanas não-indígenas no Acre. A partir dofinal dos anos 70 do século XX, essas religiões conheceram retumbante sucesso nasgrandes cidades do sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo, entre intelectuais compreocupações ecológicas, atores de TV, a juventude new age e, o que é bastanteinteressante, ex-guerrilheiros. Algumas dessas religiões acabariam sendo exportadas apartir dos anos 90 para os Estados Unidos e para a Europa. Darei mais detalhesadiante.De volta à cena. Junho de 2005. Era o segundo dia de um complexo encontrona capital do Acre, Rio Branco, reunindo representantes de vários grupos étnicos quevinham de um encontro mais amplo em que haviam fundado uma nova organizaçãoindígena abrangendo o Acre e parte do Amazonas. O primeiro dia tinha sido tomadopor longas explicações de uma advogada do Ministério do Meio Ambiente acerca dosaspectos legais da reivindicação de direitos intelectuais sobre conhecimentostradicionais. No segundo dia seria iniciado um debate sobre a repartição dos eventuaisbenefícios. O encontro tinha a ver a um assunto surgido dois anos antes, relacionadoaos direitos intelectuais sobre o uso da secreção de uma rã, uma história que contareicom pormenores. Dos interessados, estavam presentes os assertivos Yawanawa, alémde alguns kaxinawa e katukina. Na verdade, não só os Katukina, os Yawanawa e osKaxinawa, mas também todos os grupos indígenas com um sufixo -nawa ou -bo em seusetnônimos — para ser mais precisa, todos os falantes de línguas pano do interflúvioUcayali-Juruá, tanto no Brasil como no Peru, além de alguns de seus vizinhos —poderiam reivindicar o conhecimento tradicional do uso da secreção da rã que éconhecida no português local como “vacina de sapo” e se popularizou no Brasil todosob um de seus nomes pano, kampô. Mas nem todos eles estavam ali representados.Por outro lado, alguns Apurinã, que não reivindicavam aquele conhecimentoespecífico, tinham ficado para assistir ao debate, e pareciam bastante intrigados coma discussão, que lhes abria provavelmente novos horizontes. Uma personalidadeashaninka, Francisco Pyianko, então Secretário de Estado do Acre para os PovosIndígenas, também estava presente. Sua atitude ponderada e sua influência, etambém o fato de que desde o início descartara qualquer reivindicação por parte dos

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