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testemunhos datiloscritos e impressos, encaminhados aos órgãos de censura até o ano de 1988, 8<br />
quando houve a alteração da Constituição Federal e revogou-se a censura prévia.<br />
Para a organização do dossiê que aqui se apresenta, consideram-se somente os textos<br />
presentes nAs peças precoces, a saber:<br />
i. Apareceu a Margarida, um monólogo desenvolvido por uma professora esquizofrênica<br />
que subjuga a turma (a plateia) aos seus ditames, com um comportamento intempestivo e sede<br />
de poder. Apresentada como uma personificação da ditadura, a personagem Margarida,<br />
interpretada primeiramente pela atriz Marília Pêra, conquistou a plateia e foi encenada em quase<br />
todos os estados brasileiros, além de ter sido apresentada também na Argentina, Estados Unidos,<br />
França, Dinamarca e Alemanha. Os documentos do Arquivo Nacional relativos a esta obra<br />
totalizam mais de mil folhas de testemunhos (produzidos em diferentes estados), pareceres de<br />
censores e certificados. Na pesquisa empreendida durante o curso de Mestrado, isolaram-se sete<br />
testemunhos, produzidos no Rio de Janeiro e na Bahia, para a realização de edição e estudo.<br />
ii. O Reacionário, espetáculo construído no diálogo entre dois personagens de posições<br />
políticas opostas (o Dr. Pratraz, da direita conservadora, e Leão Trote, militante da esquerda).<br />
Em trechos nos quais as personagens discutem cultura, literatura, teatro, arte e engajamento<br />
social no contexto da ditadura, o personagem Leão Trote diz: “eu quero mudar a realidade,<br />
entende? É preciso sempre mudar a realidade e dar a ela um sentido de justiça” (ATHAYDE,<br />
2003, p.36-37). Em seu desejo de fazer justiça, Leão Trote propõe uma Revolução Cultural, que<br />
deve iniciar com a popularização do teatro. A única versão desse texto encontrada até o<br />
momento é a que consta na coletânea As peças precoces (ATHAYDE, 2003), ocupando as<br />
páginas 7 a 41 do livro.<br />
iii. Um visitante do alto, cuja história retrata a visita de dois marcianos ao planeta Terra,<br />
e se resume a uma conversa em que os alienígenas explicam aos cientistas terráqueos o quão<br />
atrasada está a Terra, considerada colônia de experimentos científicos da população marciana.<br />
Em alguns trechos, evidencia-se que o problema social da Terra está vinculado ao sistema<br />
capitalista imposto pelos Estados Unidos da América, e que Jesus Cristo não foi o filho de Deus<br />
enviado à Terra, mas um farsante programado para estabelecer uma doutrina de alienação social.<br />
Com tais conteúdos, não é de se espantar que tal texto tenha sofrido cortes de cunho moral,<br />
político e religioso em quase todas as folhas, subtraindo-lhe, em alguns casos, cenas inteiras. Na<br />
documentação do Arquivo Nacional, registra-se um testemunho datiloscrito, datado de 3 de<br />
dezembro de 1973, com 17 folhas e cortes; há ainda folhas avulsas com partes do texto e cortes<br />
realizados pelos censores. Na coletânea As peças precoces (ATHAYDE, 2003), o texto se<br />
encontra às páginas 43 a 74.<br />
iv. Manual de sobrevivência na selva, um texto sem cortes que relata a vida na floresta<br />
amazônica de um grupo de sobreviventes de um desastre aéreo, evidenciando os modos como o<br />
grupo estabelece regras de convivência e como seus membros buscam tirar proveito sobre os<br />
demais, à procura de água e de um manual de sobrevivência na selva. Verificam-se dois