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finalidade de desvalorizar afirmações contrárias às suas, como no caso: “Os homes, que<br />
escreve sem atentar o que escrevem, são bardulos” (fólio 59r, 2º livro); ou para efeito de<br />
crítica desfavorável: “Esta he a verdade, e os contrayros de dona Tareyja as quere confundir<br />
co a semelhãça dos nomes dos seus condes:~ mas não poderão, se ouver nisto diligente<br />
exame, e boa tenção, sem bardularia precipitada” (fólio 10r, 3º livro).<br />
Outro caso de interpretação toponímica interessante e que evidencia a imunidade<br />
de Portugal quanto à invasão de outros povos está marcada na etimologia do nome<br />
Aljubarrota, cidade portuguesa que, segundo Machado (1984, p. 100), tinha como forma<br />
antiga, Aljumarrota, atestada em 1153 e no séc. XV já era Aljubarrota, mas Fernão Lopes<br />
ainda escrevia Algebarrota. Machado (1984) informa ainda que a origem desse topônimo<br />
continua à espera de solução, mas Fernão de Oliveira, na História de Portugal, diz que o<br />
nome surgiu da expressão A giba rota, conforme a seguinte explicação:<br />
Montemor a velha, segundo escrevem os castelhanos, e tempo de dom Ramiro<br />
o terceyro, no anno de christo novecetos […], ainda era de christãos: por que<br />
então veyo sobr’elle Alcoraxi mançor, Rey de Cordova, sendo senhor daquella villa,<br />
e terras, o abbade Johão, tio do dicto rey dom Ramiro. Veyo Alcoraxi per terra de<br />
Lucena, e beyra de Plasença, e Salamanca […]. Em Galliza fez muytos damnos: e na<br />
igreja de Sanctiago muytos desacatamentos. De Galliza veyo a Portugal destruindo<br />
as terras per onde passava, como tinha feyto nas outras. Chegando a Montemoor<br />
assentou sobr’elle seu arrayal: por que vinha de proposito a prender, ou matar o<br />
Abbade Johão: por quanto ouvira dizer, que fazia guerra e damno aos mouros das<br />
terras de Portugal. Defendeo-se o Abbade do mouro Alcoraxi mançor com muyto<br />
esforço muytos dias: e achando-se em necessidade mandou pedir soccorro a El-rey<br />
de Lião dom Ramiro seu sobrinho: o qual lhe não soccorreo. Mas socorreo-lhe<br />
deos<br />
milagrosamente: por q(ue) desemparado de todo subsidio humano saio a dar<br />
batalha ao mouro, e venceo-o, e fe-lho fogir: e foy tras elle atee o matar.<br />
Alcançou-o em hulugar, que agora chamão a giba rota. Alli lhe deu hua lançada<br />
na corcova antre os hombros, onde os velhos chamavão giba: e por que ali lhe<br />
rompeo a giba chamão aquelle lugar a giba rota. Dali foy o Abbade picando o<br />
mouro per hua ladeyra abayxo, atee hua ribeyra pequena, que vay para o<br />
mosteyro d’alcobaça: onde o derribou, e acabou de matar: e deyxando morto,<br />
dixe-lhe: hi che queda, que quer dizer, ahi te fica. Despoys dahi a dias, fezerão<br />
naquelle passo hua ponte pequena, conforme ao rio, e poserão-lhe nome, a<br />
ponte pequena de hi che queda: e assi lhe<br />
chamão ainda agoora. Durão naquella terra estes nomes, e memoria atee’goora:<br />
donde parece, que ne aquelles lugares, nem as comarcas derredor erão então,<br />
nem forão despoys de mouros: por que se o forão, não ficara nelles a memoria,<br />
nem os nomes daquellas cousas, Nem correra o Abbade tantas leeguas tras o<br />
mouro: por que, ou o mouro se acolhera aos lugares dos mouros, ou os mouros<br />
desses lugares sairão ao caminho contra o Abbade. Digo isto: por que no caminho<br />
de montemor para Alcobaça ha lugares, q(ue) jaa então erão povoados, e tinhão<br />
fortalezas, como Soure, e Pombal, Leyrea, Porto de moos, e outros (fólios 37r-38r,<br />
1º livro).