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Pernambuco Vivo 2

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merendeira em uma escola pública da ilha, trabalho que lhe deu sustento<br />

durante o período longe dos palcos.<br />

A casa onde mora com o marido foi herdada da mãe adotiva – a quem<br />

Lia foi dada, aos dez anos, por falta de condições financeiras dos pais biológicos.<br />

Chegar até lá é tarefa fácil. Ela mora em Jaguaribe, uma comunidade<br />

periférica da Ilha de Itamaracá, no Litoral Norte do Estado, que ainda<br />

vive da pesca e do verão. “Chegando em Jaguaribe, é só perguntar onde é<br />

minha casa que todo mundo sabe.” E sabe mesmo. “Pegue à direita e vá em<br />

frente. A casa dela tem uns nomes no muro”, diz um ilhéu. São os nomes<br />

da própria artista, grafados em mosaico na parede. Uma batida na porta,<br />

e a mulher de 1,87m de altura atende com um sorriso largo e um abraço<br />

forte. Morena da beira do mar, queimada do sal e do sol, Lia é doce.<br />

Ouça a música<br />

Eu sou Lia<br />

A conversa é no terraço, de frente ao jardim. As paredes da pequena casa<br />

guardam emolduradas as lembranças dos 50 anos de carreira. Entre reportagens<br />

e cartazes, ela também eterniza seu amor pelo marido, Antônio.<br />

As fotografias dos dois são intercaladas por pequenas frases de declarações<br />

deamor. “Acho que vi um gatinho” é uma delas. Uma foto de Mestre<br />

Salustiano relembra a amizade dos dois. No jardim, entre plantas e flores,<br />

estão esculturas de pássaros, sapos, golfinho e de Nossa Senhora da Graças.<br />

IEMANJÁ, RAINHA<br />

Já fui à<br />

Alemanha,<br />

Paris, Lisboa.<br />

Menino, eu já<br />

bati o mundo,<br />

“Jesus!”<br />

Como boa filha de Iemanjá, Lia gosta de azul e de enfeites. Usa colares,<br />

pulseira e brincos. Adora batom. Da Rainha das Águas, diz que herdou<br />

o amor pelo mar, mas não frequenta o candomblé. “Só vou num terreiro<br />

quando estou precisando de ajuda. Aí faço uns trabalhos. Não faço<br />

o mal para ninguém, só peço ajuda para mim.” Transitando pelo sagrado<br />

e o profano que se unem na cultura afro-brasileira, Lia é amiga do padre<br />

da capela de Jaguaribe, a quem prometeu só começar<br />

suas apresentações após às 21h, quando termina<br />

a missa. O templo está localizado bem pertinho do<br />

Centro Cultural Estrela de Lia. “Às vezes a gente estava<br />

ali com a ciranda, aí tinha maracatu, tinha coco.<br />

Tudo quase na porta da igreja. E o padre coma hóstia<br />

na mão. Eu via a hora o santo cair. Aí ele pediu para<br />

eu só começar quando a missa acabasse”, explica.<br />

Nas lembranças que tem da infância em Itamaracá, Lia guarda as imagens<br />

e a alegria das noites de pastoril e cavalo-marinho na praça de Jaguaribe.<br />

Entre seus 21 irmãos, ninguém canta, dança nem participa dos brinquedos.<br />

Só ela. Desde criança se interessou pela ciranda. Aos 12 anos, já dava<br />

entrevista a jornais e rádios e aos 18 se firmava como cantora. Atualmente<br />

a senhora de sorriso largo faz da beira do mar seu palco e sua inspiração.<br />

Há três quarteirões de casa fica o Centro Cultural Estrela de Lia, na areia<br />

da praia. Às noites de sábado, o lugar recebe a famosa roda de cirandeiros,

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