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Pernambuco Vivo 2

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TRECHO DE CORDEL<br />

Caruaru de hoje<br />

Deus criou Caruaru!<br />

José Rodrigues de Jesus<br />

Lembra 150 anos;<br />

Caruaru me conduz<br />

De 1952<br />

Me dando conforto e luz<br />

desenhado aos olhos de Dila que arrebatam as grades do inconsciente dele<br />

para se erguer com veracidade nos ouvidos de quem escuta a fala do poeta.<br />

Os netos dele, seus sucessores, já não sabem falar de cangaço. Não sabem<br />

porque não entendem nada sobre o tema – é o mestre que diz. Na verdade,<br />

Dila parece estar tão a par do que narra, que agora conta uma história<br />

de um Nordeste muito seu. Um Nordeste que talvez só ele conheça.<br />

Uma história da qual ele é próprio dono.<br />

Lampião – que para Mestre Dila é uma espécie de Dom Sebastião, o rei<br />

português Desaparecido numa batalha contra os mouros e eternamente<br />

aguardado – talvez nunca tenha sido tão cultuado quanto dentro desta casa<br />

pequena e apertada. Sentado, encostado na parede, com o rosto que vez ou<br />

outra escapa do flash fotográfico, Dila olha a rua e suspira.<br />

Ensaia dizer algo. Os segredos e as histórias vão se movendo<br />

dentro dele com as reticências. Um silêncio de quem quer<br />

lembrar ou procura a fala: “Morreu há dois anos,num interior<br />

de Minas Gerais. Vivia escondido por lá. Muita gente<br />

se passava por ele, inclusive aquele que mataram em 1938”,<br />

diz, retomando a conversa. O rosto moreno, o corpo chocho,<br />

os olhos azuis de Virgulino Ferreira da Silva jamais vão<br />

sair das lembranças de Dila, que continua a vida talhando<br />

madeiras, contado histórias e criando seus próprios fatos:<br />

“Para realizar, eu não tenho mais nada”.<br />

Ipojuca corta ao meio<br />

Da fazenda Caruara<br />

Aonde Rodrigues Sá<br />

A sua terra não para<br />

A igreja da conceição<br />

Ponto zero não é rara<br />

Dr. José Carlos Florêncio<br />

Muitos e Pontes Vieira<br />

Vanguarda, A Defesa, Agreste,<br />

E locutores têm fronteira<br />

E o saudoso Lídio<br />

Teve voz bem lisonjeira<br />

Luiz Gonzaga de Oliveira<br />

O saudoso Lula da Vanguarda<br />

Me ensinou artegrafia<br />

Gilvan José da Silva, cada camarada,<br />

Como Edvaldo Barros,<br />

Ivan Galvão e todas gráficas na parada<br />

Caruaru tem a benção<br />

Que Deus deu a cada filho<br />

Apenas sou cordelista<br />

Adotado e sem empecilho<br />

Meu pai foi igual a mim

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