Pernambuco Vivo 2
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Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem/8-11-2011<br />
Em agosto de 2013,<br />
após a morte de<br />
Dona Olga, Gilmar<br />
assumiu o posto<br />
de presidente do<br />
Estrela Brilhante<br />
de Igarassu<br />
coco de roda que movimenta as noites de sexta feirado<br />
município, na Região Metropolitana,a 30 quilômetros<br />
do Recife. Ensaios do Estrela Brilhante são<br />
raros. Só quando há uma nova loa. “O pessoal do maracatu<br />
mora aqui, já toca há muito tempo,não precisa<br />
ficar ensaiando”, afirma.<br />
O Estrela, uma das agremiações mais antigas do<br />
Brasil, foi fundado em 1824. No seu livro Viagens ao<br />
Nordeste do Brasil, escrito no início do século 19, o pesquisador<br />
inglês Henry Koster conta que o grupo teria<br />
começado na Ilha de Itamaracá, numa das cerimônias de coroação dos Reis do<br />
Congo, da qual participavam escravos e negros livres, sob a sombra dos vigários<br />
da paróquia. É a origem do maracatu de baque virado em <strong>Pernambuco</strong>.<br />
A genealogia dos batuques do conhecidíssimo folguedo de Igarassu –<br />
que já foi tema de matérias na TV, pauta de jornais locais e do exterior e figurante<br />
de novela – começou com o bisavô de Gilmar, seu João Francisco.<br />
Ele repassou as alfaias e o estandarte para Manoel Próspero de Santana,<br />
seu genro, casado com Dona Mariú. Foi ela, no entanto, que se transformou<br />
na grande estrela da nação, em que esteve desde os 12 anos no posto<br />
de dama-regente, ou dama do passo. Era como uma guardiã, que portava<br />
a calunga Emília, na qual estão os ancestrais pretos-velhos da nação. A boneca,<br />
dedicada a Oxum, é cuidadosamente vestida de amarelo, com muitos<br />
acessórios, e guardada a sete chaves.<br />
Dona Mariú morreu em 2003, aos 104 anos de idade, cinco anos antes<br />
tinha entregado à filha, Olga Santana, o posto de matriarca do maracatu.<br />
No seu centenário,em entrevista ao JC, Mariú explicou que, por estar<br />
debilitada fisicamente,entregou a agremiação à filha. “Tive 19 filhos.<br />
Nasceram 16 de tempo e três foram abortos, mas só criei nove. Somente<br />
A agremiação,<br />
fundada em 1824,<br />
tem sua origem<br />
nas cerimônias de<br />
coroação dos Reis<br />
de Congo, na Ilha<br />
de Itamaracá<br />
dois entraram no maracatu – Olga e um outro que já morreu. Se ainda fosse<br />
vivo, teria entregado o maracatu a ele. Organizar a brincadeira é muito<br />
serviço para Olga sozinha”, declarou.<br />
Gilmar nasceu sob o matriarca do Estrela Brilhante. Viu sua avó entregar<br />
o folguedo à mãe. E ficou ao seu lado desde então. No último dia<br />
3 de agosto, Dona Olga morreu, aos 74 anos, após sofrer dois infartos.<br />
Foto: Beto Figueiroa/JC Imagem/28-2-2006<br />
Gilmar assumiu seu destino e, além de mestre, aceitou<br />
o posto de novo presidente da agremiação.<br />
A vida não estava fácil para a matriarca. Em novembro<br />
de 2011, quando ela deu entrevista ao JC<br />
sobre a calunga Joventina – a primeira boneca do<br />
maracatu, foi roubada há mais de 100 anos, recuperada<br />
e hoje é exposta no Museu do Homem do<br />
Nordeste –, as sequelas de um acidente vascular<br />
cerebral nublavam as suas lembranças, embaralhavam<br />
passado e presente.