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Pernambuco Vivo 2

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Nunca se sabe<br />

o que a vida<br />

prepara para a<br />

gente.”<br />

José Lourenço,<br />

presidente do Estrela<br />

“de Ouro de Aliança<br />

de terminar essa entrevista, uma foto do encontro<br />

já estava no Facebook do maracatu.<br />

Lourenço não consegue esconder que foi arrebatado.<br />

O mesmo brilho que se destacava nos olhos<br />

do mestre Batista há 60 anos ressurge na mirada<br />

do filho. “Hoje eu acredito em destino”, responde o<br />

homem, que não sabe para quem vai deixara tradição.<br />

No Recife, suas duas filhas também não se interessam pelo folguedo.<br />

Uma estuda medicina; a outra, direito. Mas é ele quem diz: “Nunca se sabe<br />

o que a vida prepara para a gente”.<br />

No sítio Chã de Camará, anexo à sede do Estrela de Ouro, há o Centro<br />

Nossa Senhora da Conceição – Pai Mário, do babalorixá que também é rei<br />

do brinquedo. O espaço abriga os rituais cuja essência é guardada como<br />

um segredo pelos participantes do maracatu. A cada Carnaval, os brincantes<br />

passam por ritos de purificação espiritual, que incluem abstinência<br />

de sexo e de bebida alcoólica. No caso do Estrela de Ouro, a cerimônia<br />

não é obrigatória. Só participa quem quer.<br />

Para tocar o folguedo, Lourenço conta ainda com a ajuda de dois<br />

mestres. Negro de rugas bem desenhadas e sorriso cativante, Zé Duda,<br />

75 anos de vida, 65 de maracatu, puxa as toadas. O tímido Zé Luiz é o<br />

mestre dos caboclos de lança. O primeiro é alfabetizado só no folguedo.<br />

Nunca aprendeu a ler. “Estudar endoida. Eu lá tinha tempo? Só pensava em<br />

maracatu.”Desconfiado, o segundo tem olhos que escapam ao interlocutor<br />

e traz uma peixeira presa à cintura. Com a cabeleira amarela, caminha<br />

com seus homens como um guardião. Guerreiros misteriosos cortam o<br />

canavial sob a proteção sagradadas golas reluzentes, bordadas à mão com<br />

lantejoulas de cores vivas. Das linhas estreitas traçadas sob a poeira, eles<br />

fazem um caminho de arte, tradição e fé.

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