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Pernambuco Vivo 2

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Às 18h do Sábado de Carnaval, pontualmente, começa uma festa que<br />

quase ninguém conhece. Uma celebração em surdina, trancada a sete<br />

chaves. Inebriado pela cachaça, um homem cumpre a tarefa mais misteriosa<br />

de Olinda: vestir o Homem da Meia-Noite. Talvez haja música ou oração<br />

como trilha sonora. Alguns objetos – que não podem ser revelados de jeito<br />

nenhum – são jogados no chão. Representam oferendas, pedidos de proteção,<br />

num ritual para abrir caminhos. Há apenas uma mulher entre vários<br />

homens. E só uma criança entre vários adultos. “Seriam para Iemanjá os<br />

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem/18-2-2012<br />

pedidos?”. “Digamos que sim. Digamos que o calunga<br />

tem força própria, mas que Iemanjá o protege”,<br />

responde Luiz Adolpho, presidente do Clube<br />

de Alegoria de Crítica O Homem da Meia-Noite. A<br />

agremiação carnavalesca, uma das mais famosas<br />

de <strong>Pernambuco</strong>, ganhou fama no Brasil e no mundo<br />

graças ao carisma do seu gigante. O Homem da<br />

Meia-Noite é Patrimônio <strong>Vivo</strong> de <strong>Pernambuco</strong>.<br />

O bloco surgiu em Olinda em 7 de janeiro de 1931,<br />

de uma dissidência da troça Cariri – que abria a folia<br />

da cidade nos primeiros raios de Sol do domingo<br />

de Momo, por volta das 5h, desde 1921. Um encanador,<br />

um marceneiro, um pintor de parede, um<br />

sapateiro e um encadernador de livros romperam<br />

com a agremiação e montaram seu próprio brinquedo.<br />

Saíram de forma tímida à meia-noite do sábado.<br />

Como estandarte, apenas um relógio e uma<br />

chave gigantes. “Aí ficou uma rixa entre a gente<br />

e o Cariri, para saber quem abriria o Carnaval de<br />

Olinda”, lembra Luiz Adolpho, 49 anos, há 11 à frente<br />

do grupo – foi eleito presidente em 2002, após a<br />

morte do pai, Tárcio Botelho, que por 11 anos ditou<br />

as regras do bloco.<br />

Só em 1932 a cidade foi apresentada à personificação<br />

do galanteador que dá nome à agremiação,<br />

O Homem da Meia-Noite. Luiz explica que a peça<br />

Na virada do sábado<br />

para o domingo, O<br />

Homem da Meia-Noite<br />

desfila pelas ladeiras<br />

de Olinda<br />

é um calunga e não recomenda que o tratem por<br />

“boneco”. Ele já nasceu gigante, com 3,5 metros e 50kg, no dia de Iemanjá,<br />

2 de fevereiro. Saiu à Rua do Amparo pela primeira vez embalado por uma<br />

orquestra de frevo, acompanhado por, naquele momento, dezenas de foliões.<br />

Inspirado na curiosa figura de um boêmio que circulava pelas ruas<br />

olindenses às madrugadas e pulava as janelas das donzelas para seduzi-las,<br />

O Homem da Meia-Noite estampa um sorriso largo, como brilho de um<br />

dente de ouro, embelezado por um elegante fraque e uma gravata borboleta,<br />

além de uma inseparável cartola.<br />

“O Homem foi feito por seu Benedito Bernardino da Silva, um dos

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