Pernambuco Vivo 2
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de uma época. Era junho de 1962. E, dali por diante,<br />
amador passou a ser uma palavra incômoda – ou,<br />
usando a linguagem de Bertolt Brecht, o termo passou<br />
a causar estranhamento. Naquele tempo, o Teatro de<br />
Amadores de Caruaru atraía as atenções e os olhos da<br />
sociedade ainda imune à febre da televisão. No Recife<br />
chegava a notícia de um festival universitário com<br />
oficinas, palestras e espetáculos que, embora simples,<br />
prezavam por um trabalho ainda desconhecido<br />
Cena da peça Morte<br />
e vida severina,<br />
encenada pelo TEA em<br />
1977, sob direção de<br />
Agemiro Pascoal<br />
por ali: a preparação cênica e corporal dos atores.<br />
Até então fazer teatro em Caruaru seguia uma receita: escolher o texto,<br />
dividir os papéis e correr para o ensaio. Tudo errado. Aquelas oficinas<br />
mostraram isso. Apontaram o quanto era importante preparar o ator teoricamente,<br />
mesmo que ele tivesse muito talento. Todo aquele escarcéu foi a<br />
gota d’água e o impulso que faltava para a criação do Teatro Experimental<br />
de Arte (TEA). “Naquele momento, vimos o quanto estávamos atrasados<br />
na nossa maneira de fazer teatro”, lembra a atriz Arary Marrocos, que começava<br />
a dar as primeiras lições como professora nas escolas caruaruenses,<br />
quando a cidade vivia o auge de uma produção teatral.<br />
Arary seguiu os passos do marido, Argemiro Pascoal, que foi o nome à<br />
frente da fundação da companhia. Argemiro e seu grupo pediram ajuda ao<br />
professor Joel Pontes, que integrava a equipe dos acadêmicos. Eles solicitaram<br />
e o mestre topou. “Arranjamos hospedagem e durante dois meses,<br />
a cada final de semana, vinha um professor do Recife para cá nos dar aulas.<br />
Parte do Teatro de Amadores não quis. Quem queria terminou saindo<br />
e fundando o TEA, em 17 de julho de 1962.”<br />
Durante 16 anos, os ensaios e encontros do Teatro Experimental ocorreram<br />
no auditório da Rádio Difusora de Caruaru. Em 1978 os ensaios<br />
passaram a ser realizados na garagem da casa de Arary e Argemiro. O<br />
casal decidiu então que era hora de construir uma sede própria. Tudo<br />
aos poucos,tijolo por tijolo, moeda por moeda. Hoje o pequeno palco italiano<br />
– com uma plateia de 60 cadeiras de plástico, coxias e camarim –<br />
guarda nas paredes preenchidas por fotos e cartazes a memória de uma<br />
história de mais de cinco décadas.<br />
Desde a criação, o TEA encenou 54 espetáculos, além de promover cursos<br />
e oficinas de teatro, palestras, debates e seminários. Levou ainda a sua<br />
arte a 65 cidades brasileiras. Em agosto do ano passado,o grupo entrou em<br />
uma nova fase. Argemiro morreu, aos 83 anos, deixando para Arary e o<br />
filho Fábio a tarefa de sustentar um sonho de teatro numa cidade em que<br />
os palcos que interessam à grande plateia já são outros: os do forró.<br />
TEATRO PARA TODOS<br />
A criação do TEA foi resultado de uma reverberação de ideias. Havia, sim,