Pernambuco Vivo 2
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prontamente atendido. Para agradecer à entidade espiritual, José criou a<br />
tribo e deu-lhe o nome do caboclo. “No ano seguinte boteio brinquedo na<br />
rua, lá em Maceió. Foi tudo muito simples, as roupas eram camisas de meia<br />
e tênis. Ainda assim, ganhamos o prêmio de estandarte mais bonito. Em<br />
1970, voltei para o Recife e registrei o Sete Flexas. Eu trabalhava para o caboclinho<br />
dos outros e nunca tinha direito a nada. O meu, lutei, pedi muita<br />
comissão (dinheiro) no meio do mundo – naquele tempo nem o governo<br />
nem a prefeitura ajudavam. Saía batendo nas portas pedindo.”<br />
Assim como o candomblé está para o maracatu, a umbanda está para o<br />
caboclinho, que os brincantes consideram uma fonte de energia e proteção.<br />
Fiel, José Alfaiate conta que, já morando na capital pernambucana, teve um<br />
sonho no qual via médiuns sentados em tendas, incorporando espíritos.“Eu<br />
me acordei manifestado, tinha baixado o Sete Flexas”, afirma. “Conheço<br />
muito ele hoje. Sempre aparece para mim. É alto, tem cabeça comprida,<br />
rosto afilado, com expressão de um índio. Ele é um caboclo sozinho, não<br />
tem uma tribo. É um caboclo mestiço.”<br />
A cada Carnaval, uma semana antes das festas, José faz oferendas ao caboclo<br />
protetor. Leva para mata mel e frutas,a fim de pedir proteção. Em 45<br />
anos de existência, a agremiação só passou por uma situação de conflito.“Eu<br />
tive num terreiro nagô e, por sim e por não, mandei botar o jogo. A mulher<br />
disse que Sete Flexas queria uma obrigação: uma lebre na mata. Comprei<br />
uma, fui com a mãe de santo cortar o bicho na mata e fiz um pedido. Isso<br />
foi para limpar a frente do clube no Carnaval. Mas no dia do desfile, quando<br />
a gente saiu na rua, veio outro bloco,e foi uma briga, uma confusão<br />
enorme. Tinha garoto pequeno manifestado com Exu. Pense”, recorda o<br />
alfaiate. “Naquele dia a gente estava indo para o Cabo, depois seguia para<br />
a passarela de desfile na Avenida Dantas Barreto, no Recife. Tinha uma<br />
criança manifestada que dizia que eu ia morrer se fosse para a passarela.<br />
Assista ao vídeo<br />
com José Alfaiate e<br />
Paulinho Sete Flexas<br />
Quando cheguei ao Cabo, tive que comprar vela e passar no meu corpo.<br />
Nunca peço nada para derrubar ninguém, principalmente meus amigos<br />
que têm clube. Minha devoção é pedindo paz”, afirma José.