Setembro 2016 - Edição nº 221

Setembro 2016
Comunidade
Lusitano de Zurique
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directo à universidade. Como facilmente
se percebe, este é um sistema bastante
discriminatório, já que os alunos que não
beneficiam de apoio extracurricular ou
não têm uma família que os pode apoiar
academicamente, têm o seu futuro profissional
determindado logo aos 12/13
anos e apenas com base em notas após
poucos anos de escola. Em Portugal não
é assim. Todos os alunos frequentam o
mesmo tipo de escola secundária, podendo
optar por cursos profissionais ou
outros cursos que dão acesso à universidade.
Embora as notas também contem,
não há uma selecção sistemática.
A outra diferença entre o sistema de educação
na Suíça e em Portugal é o ensino
profissional. Mais de 70% dos alunos na
Suíça fazem uma aprendizagem profissional.
Depois do 9° ano ou do 3° ano de
ensino secundário, os alunos têm que ter
encontrado um posto de aprendizagem
(eles próprios, com algum apoio da escola,
têm que procurar um posto de aprendizagem)
e passam a integrar o mundo
do trabalho. Á escola vão apenas um ou
dois dias por semana. Os outros cerca de
30% dos alunos na Suíça frequentam o
Gymanasium ou Kantonschule. Vão todos
os dias à escola e terão após o 12° ou
13° ano acesso directo à universidade. Em
Portugal é diferente, todos os alunos devem
frequentar a escola secundária até
ao 12° ano ou até aos 18 anos de idade.
Muitos frequentam cursos vocacionados
para prosseguimento de estudos. Alguns
outros optam por frequentar cursos ou
escolas profissionais.
Lusitano - Margarida, que opinião tem
da Comunidade Portuguesa, no seu tempo
de Sindicalista?
M.P. - Eu tenho alguma dificuldade em
lidar com generalizações como “a comunidade
portuguesa”!... Quem é “a comunidade
portuguesa”? Entre os portugueses
a viver e a trabalhar aqui na Suíça há
de tudo: trabalhadores bem qualificados,
trabalhadores que não têm qualquer
qualificação profissional. Há gente trabalhadora,
mas há também gente que não
gosta de trabalhar. Há portugueses muito
bem integrados, que dão uma grande
contribuição para a empresa onde trabalham
e/ou para a localidade onde vivem,
e há portugueses que continuam a “viver”
em Portugal, estão mais lá do que cá, e o
que acontece aqui passa-lhes ao lado. Em
Zurique, por exemplo, muitos dos portugueses
deveriam tirar mais proveito do
que a cidade, como cidade de classe mundial,
lhes oferece em termos culturais,
sociais, desportivos, de lazer, etc. Penso
que há alguma falta de participação na
comunidade local a nível social, político e
cultural, o que leva à falta de visibilidade
dos portugueses.
Lusitano - Esta associação tem sido um
grande exemplo na prática de apoio á
Comunidade! Pensa que todas as Associações
deveriam desenvolver mais este
projecto?
M.P. - O que eu admiro no trabalho que
o CLZ tem realizado ao longo dos anos
é que conseguiu manter tradições portuguesas
e laços à cultura portuguesa através,
por exemplo, do clube de futebol, do
rancho, dos festejos dos santos populares,
etc. E ao mesmo tempo tenta estabelecer
ligações com o país de acolhimento
e a comunidade local com a participação
em eventos locais como o Sechseläuten,
a presença em torneios de futebol locais,
a oferta de cursos de Alemão, o desenvolvimento
de projectos de integração,
etc. Penso que este é um bom exemplo
de como uma associação pode contribuir
para a integração na comunidade local,
sem perder o contacto com a cultura de
origem. Gostaria de ver ainda uma maior
aproximação à sociedade suíça. Seria
também bom ver outras associações portuguesas
seguirem este exemplo.
Lusitano - A Suíça prepara mais acordos
para estar unida á União Europeia. Vê a
longo prazo este país fazer parte de U.E?
M.P. - A economia suíça precisa dos acordos
bilaterais com a UE e tenta reforçá-
-los, já que uma grande parte do que
é produzido aqui é exportado para os
países da UE. Mas em termos políticos
há um afastamento. A iniciativa popular
popular ‘Masseneinwanderung stoppen’
que venceu nas urnas e que tem o intuito
de reduzir o número de cidadãos da UE
na Suíça constitui um grande problema
para o governo suíço e para o país. A livre
circulação de cidadãos da UE (incluindo
portugueses) está vinculada aos acordos
bilaterais. A posição da UE é que sem livre
circulação de pessoas não pode haver
acordos bilaterais. Neste momento existem
grandes dificuldades no relacionamento
Suíça / UE. Não vejo qualquer possibilidade
da Suíça vir a fazer parte da UE.
Lusitano - Há poucos meses vimos em
todos os órgãos de comunicação social a
abertura da grande obra de Adolfo Oggi.
O túnel do Gothard! Pessoalmente fiquei
indignada por não ver uma representação
portuguesa, quando todos sabemos
que foram muitos os compatriotas que
lá trabalharam. O que falhou Margarida?
Acha que o sindicato poderia ter feito
mais?
M.P. - Tenho que ser franca e dizer-lhe
que não segui de perto a inauguração do
túnel. Infelizmente, não me surpreende
que não tenham sido convidados representantes
dos trabalhadores... É assim
na inauguração de muitas outras obras
importantes, veja o que aconteceu na recente
inauguração da ampliação do Museu
Nacional Suíço. A exclusão e a falta
de reconhecimento oficial da contribuição
dos trabalhadores em sectores como
a construção, mas também em outros
sectores económicos, é uma constante.
Num sistema capitalista, o valor e a contribuição
da força laboral para o crescimento
económico e o progresso do país
são sistematicamente ignorados. Lamentavelmente,
isto não acontece apenas
aqui na Suíça...
Lusitano - Margarida, ao ir de férias o
que nunca deixaria em casa?
M.P. - O cartão de crédito e o telemóvel.
Mas também um bom livro ... E ainda a
curiosidade e boa disposição.
Lusitano - Margarida o centro Lusitano
de Zurich agradece a sua disponibilidade
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