cimi-relatorio-2015-pt-br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“<<strong>br</strong> />
A morosidade na regularização<<strong>br</strong> />
e demarcação das terras indígenas<<strong>br</strong> />
tem se tornado praticamente<<strong>br</strong> />
intrínseca no país. Desse modo as<<strong>br</strong> />
invasões, os conflitos e toda sorte<<strong>br</strong> />
de danos contra o patrimônio e<<strong>br</strong> />
as respectivas comunidades não<<strong>br</strong> />
cessam, aprofundando, assim,<<strong>br</strong> />
a omissão do Estado e as ações<<strong>br</strong> />
violentas, destrutivas e ilegais<<strong>br</strong> />
contra os indígenas. Algumas<<strong>br</strong> />
comunidades esperam há mais<<strong>br</strong> />
de 20 anos a conclusão dos<<strong>br</strong> />
trabalhos de identificação realizados<<strong>br</strong> />
oficialmente<<strong>br</strong> />
”<<strong>br</strong> />
O Mato Grosso do Sul continuou sendo o estado<<strong>br</strong> />
com o maior número de registros: 36 homicídios, segundo<<strong>br</strong> />
os dados oficiais. Dentre outros casos, chamou atenção<<strong>br</strong> />
o assassinato do Guarani e Kaiowá Simeão Vilhalva, em<<strong>br</strong> />
agosto de <strong>2015</strong>. O crime ocorreu depois que fazendeiros<<strong>br</strong> />
e políticos na região de Antônio João promoveram um<<strong>br</strong> />
ato público convocando a população a se rebelar contra a<<strong>br</strong> />
comunidade indígena de Ñhanderu Marangatu, que havia<<strong>br</strong> />
realizado algumas ações de recuperação de parcelas de seu<<strong>br</strong> />
território. O decreto de homologação desta área foi assinado<<strong>br</strong> />
há mais de dez anos, mas ela ainda permanece sob a posse de<<strong>br</strong> />
não índios.<<strong>br</strong> />
Também causou grande consternação o assassinato<<strong>br</strong> />
do pequeno Vítor Kaingang, de 2 anos, em Santa Catarina.<<strong>br</strong> />
Sua mãe o amamentava quando um rapaz se aproximou e<<strong>br</strong> />
desferiu um golpe de estilete em seu pescoço. A mãe desesperada<<strong>br</strong> />
não pôde fazer mais nada a não ser, em prantos, ver<<strong>br</strong> />
seu pequenino esvair-se em sangue no seu colo.<<strong>br</strong> />
O estado de Mato Grosso do Sul também foi palco<<strong>br</strong> />
do maior número de tentativas de assassinatos. As ocorrências<<strong>br</strong> />
se devem em boa parte aos conflitos relacionados à<<strong>br</strong> />
disputa pela terra e por ofensivas realizadas a comunidades<<strong>br</strong> />
inteiras. Foram registrados ataques contra as comunidades<<strong>br</strong> />
de Ñhanderu Marangatu, no município de Antônio João;<<strong>br</strong> />
em Guyra Kamby’i, no município de Douradina; Potrero<<strong>br</strong> />
Guasu, no município de Paranhos; Pyellito Kue, no município<<strong>br</strong> />
de Iguatemi; Mbaracay, no município de Douradina;<<strong>br</strong> />
Kurupi, no município de Naviraí; Tey’I Jusu, no município<<strong>br</strong> />
de Caarapó; Kurusu Ambá, município de Coronel Sapucaia;<<strong>br</strong> />
e Taquara, no município de Jutí.<<strong>br</strong> />
Além disso, o Mato Grosso do Sul registra o maior<<strong>br</strong> />
número de casos de homicídios culposos. Dos 18 casos<<strong>br</strong> />
registrados no Brasil, a maior parte foi por atropelamentos,<<strong>br</strong> />
dos quais 5 aconteceram neste estado. Outros casos foram<<strong>br</strong> />
registrados no Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio<<strong>br</strong> />
Grande do Sul e Santa Catarina.<<strong>br</strong> />
Foram registrados 12 casos de ameaças de morte,<<strong>br</strong> />
sendo a maioria das ocorrências no Maranhão, com 6 casos.<<strong>br</strong> />
São ameaças de invasores e madeireiros contra comunidades<<strong>br</strong> />
indígenas que passaram a defender seus territórios, por<<strong>br</strong> />
conta própria, em função da ausência do Estado.<<strong>br</strong> />
Também no Maranhão ocorreu o maior número<<strong>br</strong> />
de casos de ameaças várias, especificamente com a apropriação<<strong>br</strong> />
indébita de cartões bancários de indígenas por<<strong>br</strong> />
parte de comerciantes.<<strong>br</strong> />
Registramos, em <strong>2015</strong>, 12 casos relativos a lesões<<strong>br</strong> />
corporais dolosas em consequência de agressões físicas<<strong>br</strong> />
e espancamentos, registrados nos estados do Acre (1),<<strong>br</strong> />
Amazonas (3), Maranhão (1), Mato Grosso (1), Mato<<strong>br</strong> />
Grosso do Sul (5) e Rio Grande do Sul (1).<<strong>br</strong> />
Numa dessas ocorrências, em Mato Grosso do<<strong>br</strong> />
Sul, onde houve o maior número de casos, um grupo de<<strong>br</strong> />
indígenas foi atacado por pistoleiros fortemente armados<<strong>br</strong> />
após ocuparem uma porção de mata no seu território,<<strong>br</strong> />
onde pretendiam acessar bens naturais básicos, como<<strong>br</strong> />
água, comida e remédios naturais.<<strong>br</strong> />
Foram registrados 8 casos de abuso de poder, ocorridos<<strong>br</strong> />
nos estados do Acre (1), Amazonas (3), Bahia (1),<<strong>br</strong> />
Ceará (1), Mato Grosso do Sul (1) e Minas Gerais (1).<<strong>br</strong> />
O caso de uma estudante em Minas Gerais que<<strong>br</strong> />
participava de atos no dia 7 de setem<strong>br</strong>o é emblemático.<<strong>br</strong> />
Ela segurava um cartaz com a frase: “Somos todos Guarani-Kaiowá<<strong>br</strong> />
contra o genocídio a mando do agronegócio”.<<strong>br</strong> />
Um dos policiais que fazia a segurança no evento agarrou-a<<strong>br</strong> />
de forma violenta por entre os alam<strong>br</strong>ados de contenção,<<strong>br</strong> />
arrastou-a e a deitou com o rosto na calçada. Algemada,<<strong>br</strong> />
ela foi mantida presa e imobilizada pelos joelhos do policial<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e seu corpo. Apesar de estar simplesmente exercendo<<strong>br</strong> />
seu direito constitucional de livre manifestação do pensamento<<strong>br</strong> />
e não oferecer risco a ninguém, a jovem foi levada à<<strong>br</strong> />
delegacia, em um procedimento totalmente desnecessário<<strong>br</strong> />
e agressivo e sem direito às prerrogativas que deveriam ser<<strong>br</strong> />
seguidas por ela ser indígena.<<strong>br</strong> />
Seja por meios virtuais ou pessoalmente, os casos<<strong>br</strong> />
de racismo são constantes. Um deles, ocorrido no estado<<strong>br</strong> />
do Maranhão, destaca-se por ter sido protagonizado por<<strong>br</strong> />
um parlamentar; embora não seja a primeira vez que<<strong>br</strong> />
parlamentares façam pronunciamentos racistas contra<<strong>br</strong> />
os indígenas. O deputado estadual Fernando Furtado (PC<<strong>br</strong> />
do B) foi flagrado, em áudio que vazou nas redes sociais,<<strong>br</strong> />
insultando indígenas Awá, durante sua participação em uma<<strong>br</strong> />
audiência pública na cidade de São João do Caru, organizada<<strong>br</strong> />
por uma associação de produtores. Ao referir-se aos<<strong>br</strong> />
índios, o deputado os classificou de “bando de veadinho”,<<strong>br</strong> />
“boiola” e chegou a sugerir que eles morressem de fome<<strong>br</strong> />
“porque não sabe nem trabalhar”.<<strong>br</strong> />
Embora haja apenas 9 registros de casos de violência<<strong>br</strong> />
sexual, é possível supor que o número de ocorrências seja<<strong>br</strong> />
muito maior. Em Roraima, houve uma denúncia anônima à<<strong>br</strong> />
Polícia Civil de que o proprietário de uma fazenda, funcionários<<strong>br</strong> />
e um suposto policial militar estariam fazendo festa e<<strong>br</strong> />
RELATÓRIO – Violência contra os povos indígenas no Brasil – Dados de <strong>2015</strong><<strong>br</strong> />
Conselho Indigenista Missionário - Cimi 20