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cimi-relatorio-2015-pt-br

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A R T I G O<<strong>br</strong> />

Mineração:<<strong>br</strong> />

uma ameaça devastadora<<strong>br</strong> />

Guenter Francisco Loebens*<<strong>br</strong> />

O<<strong>br</strong> />

maior desastre socioambiental já ocorrido no<<strong>br</strong> />

Brasil foi provocado, em novem<strong>br</strong>o de <strong>2015</strong>, pelo<<strong>br</strong> />

rompimento da barragem de Fundão, em Mariana,<<strong>br</strong> />

no estado de Minas Gerais, da empresa de mineração<<strong>br</strong> />

Samarco (um empreendimento conjunto da Vale S.A. e a<<strong>br</strong> />

anglo-australiana BHP Billiton), e arrasou, com os rejeitos<<strong>br</strong> />

minerais, toda a biodiversidade do Rio Doce à jusante.<<strong>br</strong> />

Divulgada em todo o mundo, esta é mais uma das tragédias<<strong>br</strong> />

que pode se estender para o interior das terras indígenas,<<strong>br</strong> />

caso a mineração nestas terras seja regulamentada nos<<strong>br</strong> />

termos do Projeto de Lei (PL) 1610/1996, em avançado<<strong>br</strong> />

processo de tramitação no Congresso Nacional.<<strong>br</strong> />

Os interesses minerários em terras indígenas podem<<strong>br</strong> />

ser verificados no Departamento Nacional de Produção<<strong>br</strong> />

Mineral (DNPM) pela quantidade de requerimentos de<<strong>br</strong> />

pesquisa e lavra ali registrados pelas empresas de mineração.<<strong>br</strong> />

Até o primeiro semestre de 2016, havia o registro de 44.911<<strong>br</strong> />

processos de interesses minerários na Amazônia Brasileira;<<strong>br</strong> />

destes, 10.686 incidem so<strong>br</strong>e Unidades de Conservação<<strong>br</strong> />

Federais, 4.181 so<strong>br</strong>e Terras Indígenas (TI) - totalizando<<strong>br</strong> />

uma área de 28 milhões de hectares -, e 3.390 em Unidades<<strong>br</strong> />

de Conservação Estaduais. Cerca de 70% dos processos<<strong>br</strong> />

se referem à exploração ou à intenção de explorar ouro,<<strong>br</strong> />

através de lavra garimpeira. As terras indígenas com maior<<strong>br</strong> />

interesse minerário são Yanomami, com 678 processos,<<strong>br</strong> />

Menkragnoti, com 396 processos e Alto Rio Negro, com<<strong>br</strong> />

387 processos (ISA, 2016) 1 .<<strong>br</strong> />

As empresas de mineração apostaram alto para<<strong>br</strong> />

assegurar na Constituição de 1988 a liberação da exploração<<strong>br</strong> />

mineral em terras indígenas. No debate da Constituinte<<strong>br</strong> />

foram surpreendidos por uma vigorosa reação indígena,<<strong>br</strong> />

liderada por povos conscientes dos impactos devastadores<<strong>br</strong> />

que esta atividade econômica em suas terras poderia<<strong>br</strong> />

provocar para suas comunidades e para o meio ambiente.<<strong>br</strong> />

As consequências negativas da presença de mineradoras<<strong>br</strong> />

nas TI Waimiri-Atroari e do Alto Rio Negro serviram<<strong>br</strong> />

de alerta para as lideranças indígenas, para o que poderia<<strong>br</strong> />

vir acontecer. As empresas, então, partiram para o ataque,<<strong>br</strong> />

tentando associar a resistência indígena a “poderosos<<strong>br</strong> />

interesses internacionais”. Passaram a repetir a mesma<<strong>br</strong> />

conversa mentirosa, sem nenhum amparo na realidade,<<strong>br</strong> />

já usada também na tentativa de impedir a demarcação<<strong>br</strong> />

Todd Southgate/Greenpeace<<strong>br</strong> />

das terras indígenas, principalmente na região amazônica,<<strong>br</strong> />

afirmando que estas estavam sendo delimitadas em regiões<<strong>br</strong> />

ricas em minério, para atender interesses de exploração<<strong>br</strong> />

futura de potências estrangeiras.<<strong>br</strong> />

Escolheram o Conselho Indigenista Missionário<<strong>br</strong> />

(Cimi), organismo pastoral da Conferência Nacional dos<<strong>br</strong> />

Bispos do Brasil (CNBB), um dos principais aliados dos<<strong>br</strong> />

povos indígenas, como alvo de uma campanha difamatória,<<strong>br</strong> />

mediante o uso inescrupuloso de documentos falsos e<<strong>br</strong> />

apócrifos, tentando apontá-lo como um agente no Brasil<<strong>br</strong> />

a serviço das mineradoras da Malásia. O Estado de S. Paulo,<<strong>br</strong> />

um jornal de grande circulação, foi o meio de comunicação<<strong>br</strong> />

que se prestou para divulgar a campanha com chamadas<<strong>br</strong> />

de capa diárias por uma semana inteira, reproduzidas em<<strong>br</strong> />

jornais regionais.<<strong>br</strong> />

A farsa foi desmontada por uma Comissão Parlamentar<<strong>br</strong> />

Mista de Inquérito (CPMI), instalada pelo Congresso<<strong>br</strong> />

Nacional, para apurar as denúncias contra o Cimi. O relator<<strong>br</strong> />

da CPMI demonstrou cabalmente a fraude em seu relatório,<<strong>br</strong> />

A mineração causa impactos irreversíveis, como evidencia a realidade<<strong>br</strong> />

atual de Bento Rodrigues, em Minas Gerais (acima) e da Floresta<<strong>br</strong> />

Nacional Carajás, no Pará (na próxima página)<<strong>br</strong> />

* Missionário mem<strong>br</strong>o da Coordenação do Regional Cimi Norte I, graduado em História na Universidade Federal do Amazonas (UFAm), com Pós-Graduação em<<strong>br</strong> />

Ética e Política pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)<<strong>br</strong> />

RELATÓRIO – Violência contra os povos indígenas no Brasil – Dados de <strong>2015</strong><<strong>br</strong> />

Conselho Indigenista Missionário - Cimi 40

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