cimi-relatorio-2015-pt-br
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A R T I G O<<strong>br</strong> />
CPI do Cimi: uma velha mano<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
para atingir os povos indígenas<<strong>br</strong> />
Egon Heck*<<strong>br</strong> />
Está em curso no Brasil uma onda de ofensiva e caça aos<<strong>br</strong> />
direitos dos povos indígenas. A Comissão Parlamentar<<strong>br</strong> />
de Inquérito (CPI) contra o Conselho Indigenista<<strong>br</strong> />
Missionário (Cimi), instalada na Assembleia Legislativa do<<strong>br</strong> />
Mato Grosso do Sul em setem<strong>br</strong>o de <strong>2015</strong>, é, na verdade,<<strong>br</strong> />
apenas mais uma das ferramentas utilizadas pelo agronegócio<<strong>br</strong> />
e pelos políticos, com interesses escusos, para<<strong>br</strong> />
retirar os direitos indígenas da Constituição e inviabilizar<<strong>br</strong> />
a implementação dos direitos garantidos em diversas<<strong>br</strong> />
instâncias nacionais e internacionais.<<strong>br</strong> />
Não se trata de uma ação isolada ou espúria, mas<<strong>br</strong> />
sim de uma estratégia que busca ocultar os verdadeiros<<strong>br</strong> />
interesses desses grupos através de subterfúgios, como<<strong>br</strong> />
a CPI do Cimi. A pretexto de comprovar a atuação da<<strong>br</strong> />
entidade no “incitamento e financiamento de invasões<<strong>br</strong> />
de terras privadas”, esta CPI teve como principal objetivo<<strong>br</strong> />
criminalizar os povos indígenas e seus aliados, com o intuito<<strong>br</strong> />
de inviabilizar os direitos dos povos originários deste país.<<strong>br</strong> />
Trata-se, portanto, de uma sórdida e explícita<<strong>br</strong> />
violação dos direitos destes povos, especialmente a negação<<strong>br</strong> />
do direito a seus territórios tradicionais.<<strong>br</strong> />
A instalação de uma outra CPI para investigar a<<strong>br</strong> />
Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Nacional de<<strong>br</strong> />
Colonização e Reforma Agrária, (Incra), desta vez instalada<<strong>br</strong> />
na Câmara dos Deputados, quase concomitantemente com<<strong>br</strong> />
a CPI do Cimi, corrobora a constatação de uma orquestrada<<strong>br</strong> />
investida contra os direitos indígenas, numa clara mano<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />
que estimula ainda mais as violências contra esses povos.<<strong>br</strong> />
Esta estratégia, no entanto, não é nova.<<strong>br</strong> />
Para entender a atual CPI do Cimi é fundamental nos<<strong>br</strong> />
reportarmos à Comissão Mista Parlamentar de Inquérito<<strong>br</strong> />
(CPMI) do Cimi, instalada em agosto de 1987. Em pleno<<strong>br</strong> />
contexto da Constituinte, a garantia dos direitos indígena<<strong>br</strong> />
na nova Carta Magna estava se configurando através de<<strong>br</strong> />
uma atuação aguerrida dos povos indígenas com o apoio<<strong>br</strong> />
de aliados. A permanente mobilização e presença das<<strong>br</strong> />
populações nativas no Congresso estava consolidando um<<strong>br</strong> />
novo capítulo na história deste país, o de garantias constitucionais<<strong>br</strong> />
aos direitos dos povos indígenas. Mineradoras,<<strong>br</strong> />
setores militares e políticos, empenhados em impedir a<<strong>br</strong> />
consagração destes direitos, urdiram uma sórdida campanha<<strong>br</strong> />
contra o Cimi, uma das organizações indigenistas mais<<strong>br</strong> />
comprometidas com este avanço no arcabouço jurídico<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileiro. Esperavam que caluniando e criminalizando o<<strong>br</strong> />
Cimi conseguiriam reverter esse processo, ou seja, impedir<<strong>br</strong> />
a aprovação destes direitos.<<strong>br</strong> />
Esses setores montaram uma bombástica farsa e,<<strong>br</strong> />
utilizando argumentos espúrios, acusaram o Cimi de estar<<strong>br</strong> />
conspirando contra a soberania do Brasil, propondo a<<strong>br</strong> />
internacionalização da Amazônia através do conceito de<<strong>br</strong> />
“soberania restritiva”. A partir de uma série de seis reportagens,<<strong>br</strong> />
com grandes manchetes e amplo espaço em suas<<strong>br</strong> />
CPMI durante a Constituinte<<strong>br</strong> />
* Missionário vinculado ao Secretariado Nacional, graduado em Filosofia na<<strong>br</strong> />
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Mestrado em Ciência Política na<<strong>br</strong> />
Universidade de Campinas (Unicamp).<<strong>br</strong> />
RELATÓRIO – Violência contra os povos indígenas no Brasil – Dados de <strong>2015</strong><<strong>br</strong> />
Conselho Indigenista Missionário - Cimi 42