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OPINIÃO<br />

Viajar na Sicília (1)<br />

Ao calor de um dos últimos<br />

dias de agosto,<br />

acabo de concretizar<br />

uma das últimas aventuras – pelo<br />

menos por agora – em Palermo.<br />

Sem exageros de qualquer tipo,<br />

atravessar as passadeiras da “Via<br />

Roma”, primeiro, e da “Via E.<br />

Amari”, a seguir, para me sentar<br />

numa típica esplanada, pródiga<br />

em sombra, é algo que exige,<br />

senão bastante perícia, pelo<br />

menos alguma destreza. Palermo<br />

é assim: viva, borbulhante, caótica,<br />

alegre, descontrolada, simultaneamente<br />

ruidosa e calma, enigmática.<br />

Os edifícios são, em geral,<br />

magníficos. Os teatros – quem<br />

pode esquecer o “Politeama” ou<br />

o “Massimo”? – majestosos. A<br />

vegetação, abundante. O trânsito…<br />

descomedidamente desordenado.<br />

O povo, esse, é gentil, embora<br />

sem muitos “risos” ou exagerada<br />

paciência. É a cidade dos palácios<br />

(“Palazzo Steri”, “Palazzo<br />

Reale”), da catedral e do castelo,<br />

do “orto botanico” e da estação<br />

ferroviária central, dos mercados<br />

e das feiras, do jardim inglês<br />

e das inúmeras igrejas, de confissões<br />

diversas. Os parlermitanos<br />

são loucos por futebol: - “Ah!<br />

Il signore è portoghese!” Portugal<br />

é o campeão da Europa! - Da<br />

Europa? Não. Do Mundo! – teima,<br />

obstinadamente, alguém. Litigam,<br />

buzinam, ultrapassam, quase<br />

nos atropelam nas passadeiras<br />

(mesmo quando há semáforos, que<br />

Palermo é a capital<br />

da Sicília, a maior<br />

superfície insular do<br />

Mediterrâneo. Está<br />

repleta de pontos de<br />

interesse e, quando há<br />

bom tempo, a noite não<br />

dorme nas principais<br />

ruas e avenidas, onde<br />

a multidão passa,<br />

compra, vende, bebe,<br />

ri e conversa. Apesar<br />

dos avisos, nunca senti<br />

medo ou insegurança.<br />

É a quinta maior urbe<br />

italiana e fica na costa<br />

norte. Tem por vizinha,<br />

relativamente próxima,<br />

a cidade de Messina,<br />

cujo estreito separa a<br />

imensa ilha da Itália<br />

continental – Reggio.<br />

não são assim tão abundantes). Ás<br />

avenidas largas (em que os desafiantes<br />

“ralis” duram 24 horas e<br />

as lojas de roupa e calçado proliferam),<br />

juntam-se as ruelas plenas<br />

de restaurantes, bares e esplanadas,<br />

e outras estreitas e tortuosas<br />

vias, onde se vende praticamente<br />

de tudo, a preços módicos. As<br />

igrejas são – todas elas – verdadeiras<br />

obras primas, mas há pavimentos<br />

sujos e edifícios por conservar.<br />

As pessoas guardam o stress para<br />

quando conduzem: são alegres,<br />

calmas, bem-humoradas, descontraídas.<br />

Falam em contínuo, quase<br />

sem pausas, e na comunicação<br />

entre elas dão várias entoações à<br />

voz, para reforçarem o diálogo,<br />

que é frequentemente intercalado<br />

por gargalhadas. Quando nos veem<br />

escrever, observam-nos à lupa,<br />

com um olhar quase cerimonioso.<br />

Palermo é assim, surpreendente,<br />

as duas faces de uma moeda, o<br />

sol (escaldante) e a lua (generosa),<br />

o mar (de uma tonalidade inimaginável<br />

e imperdível) e as montanhas<br />

(que a circundam). Ao fim de<br />

uns dias, repletos de caminhadas,<br />

compras, perguntas, percursos (a<br />

pé, nos “giro città – sali e scendi”,<br />

de comboio, no metro – de<br />

alvas e modernas carruagens – de<br />

táxi e nos “autobus”), já me oriento<br />

e quase me integro nesta desorganização<br />

controlada e plena de<br />

vida. Palermo é um caos que funciona<br />

ou, talvez, a serena certeza<br />

de que tudo se compõe, se seguir o<br />

seu curso natural, sem interferências<br />

castradoras. Na “Via Vittorio<br />

Emanuele” dois carros passam<br />

com a música aos gritos, rasando<br />

uma carroça puxada a cavalos,<br />

que transporta turistas. Uma viatura<br />

buzina e um motociclo com<br />

dois passageiros responde, com<br />

palavras e gestos. Simultaneamente,<br />

um outro carro quase atropela<br />

um peão, ouvem-se buzinadelas<br />

e impropérios. Vindo apressadamente<br />

do nada, um veículo estanca,<br />

porque bateu: - “Scusi”! Fico<br />

a ver. Depois de tanta sessão de<br />

esgrima sobre rodas, o condutor<br />

da viatura atingida sai calmamente,<br />

e diz: - Não há problema, não<br />

amolgou quase nada! Podemos<br />

seguir. Imprevisíveis - e até cativantes<br />

- são as gentes de Palermo!<br />

São pessoas genuínas, únicas,<br />

desconcertantes. Mais pelas atitudes,<br />

pois são simples na aparência<br />

e relativamente sóbrios no vestir.<br />

Palermo é a capital da Sicília, a<br />

maior superfície insular do Mediterrâneo.<br />

Está repleta de pontos de<br />

interesse e, quando há bom tempo,<br />

a noite não dorme nas principais<br />

ruas e avenidas, onde a multidão<br />

passa, compra, vende, bebe, ri e<br />

conversa. Apesar dos avisos, nunca<br />

senti medo ou insegurança. É a<br />

quinta maior urbe italiana e fica<br />

na costa norte. Tem por vizinha,<br />

relativamente próxima, a cidade<br />

de Messina, cujo estreito separa a<br />

imensa ilha da Itália continental –<br />

Reggio. (CONTINUA). ><br />

António Castro<br />

Professor/Escritor<br />

12<br />

saber | Outubro | 2015

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