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OPINIÃO<br />
A poluição mata<br />
Mais de 6 milhões de pessoas<br />
morrem em todo o<br />
mundo por causa da má<br />
qualidade do ar, cerca de metade<br />
por quase da poluição que respiram<br />
no interior dos edifícios e<br />
os restantes afetados pela poluição<br />
exterior. Se juntarmos todas<br />
as outras formas de poluição e<br />
outros problemas ambientais que<br />
daí decorrem, como as alterações<br />
climáticas, sobem para mais<br />
de 12 milhões o número de mortes<br />
por ano causados pelos desequilíbrios<br />
que estamos a provocar<br />
(e estes números da Organização<br />
Mundial de Saúde são com<br />
certeza muito por baixo da realidade<br />
cada vez mais presente nas<br />
nossas sociedades modernas). Se<br />
à mortalidade juntarmos a morbilidade<br />
(casos de doença) o número<br />
de pessoas afetadas multiplicase<br />
inúmeras vezes. Estamos sujeitos,<br />
neste momento, a uma autêntica<br />
guerra mundial, a terceira, e,<br />
apesar das preocupações, ainda<br />
não acordamos verdadeiramente<br />
para a dimensão desta catástrofe.<br />
Em poucas décadas, as preocupações<br />
ambientais passaram de uma<br />
excentricidade de um grupo reduzido<br />
de cidadãos para uma preocupação<br />
global de toda a humanidade,<br />
não tanto pelas consequências<br />
graves que tem sobre o ambien-<br />
Apesar das<br />
consequências dos<br />
nossos atos e da<br />
consciência que<br />
já temos sobre<br />
a sua gravidade,<br />
continuamos a<br />
jogar para cima das<br />
próximas gerações<br />
a implementação<br />
de soluções para<br />
problemas criados<br />
por nós, ainda mais<br />
sabendo que adiar<br />
mudanças substanciais<br />
ao nível individual e<br />
coletivo é o mesmo<br />
que condenar parte da<br />
humanidade a uma vida<br />
mais curta e cada vez<br />
com menos qualidade.<br />
Se a humanidade não<br />
for capaz de gerir esta<br />
crise ecológica que ela<br />
própria criou, como,<br />
manifestamente, não<br />
está a ser capaz, a<br />
Natureza seguirá a sua<br />
implacável fórmula de<br />
encontrar sempre uma<br />
saída.<br />
te em geral, e que são muitas, mas<br />
mais pelos efeitos devastadores<br />
que se refletem, direta ou indiretamente,<br />
nas sociedades humanas.<br />
Apesar desta crescente consciencialização<br />
global, os atos das nossas<br />
sociedades pouco têm mudado.<br />
Mesmo falando de transportes<br />
mais sustentáveis e energias menos<br />
poluentes o caminho que, na prática,<br />
estamos a trilhar continua a<br />
ser o oposto, com uma dependência<br />
energética pesada nos combustíveis<br />
fósseis, volumes enormes de<br />
resíduos sólidos e líquidos e níveis<br />
desenfreados de consumo. Mesmo<br />
que muitos de nós já estejam imbuídos<br />
de boa vontade, a correspondência<br />
com os atos que praticamos<br />
todos os dias é muito ténue. Ainda<br />
abandonamos muito lixo por<br />
aí, frequentemente não nos damos<br />
ao trabalho de separar as embalagens<br />
para reciclagem e escolhemos<br />
o descartável em detrimento<br />
do reutilizável. O automóvel é cada<br />
vez mais uma parte do nosso próprio<br />
corpo e os excessos, na alimentação,<br />
no vestuário, nos gadgets,<br />
são uma constante em todas<br />
as 24 horas de cada um dos nossos<br />
dias. Apesar das consequências<br />
dos nossos atos e da consciência<br />
que já temos sobre a sua gravidade,<br />
continuamos a jogar para cima<br />
das próximas gerações a implementação<br />
de soluções para problemas<br />
criados por nós, ainda mais<br />
sabendo que adiar mudanças substanciais<br />
ao nível individual e coletivo<br />
é o mesmo que condenar parte<br />
da humanidade a uma vida mais<br />
curta e cada vez com menos qualidade.<br />
Se a humanidade não for<br />
capaz de gerir esta crise ecológica<br />
que ela própria criou, como, manifestamente,<br />
não está a ser capaz, a<br />
Natureza seguirá a sua implacável<br />
fórmula de encontrar sempre uma<br />
saída. A Vida na Terra possui 3,5<br />
mil milhões de anos de desafios e<br />
provações que provam a sua enorme<br />
resiliência. Nesse imenso percurso<br />
as espécies estão constantemente<br />
a mudar como se a Vida fosse<br />
um bocado de barro constantemente<br />
a ser moldada pela Natureza<br />
para se encaixar na realidade<br />
em mudança. Nunca antes a realidade<br />
da Terra mudou tanto e tão<br />
depressa, e muito menos por causa<br />
de uma única espécie, pelo que<br />
não será estranho que o caminho<br />
para o qual estamos a empurrar a<br />
própria Natureza venha a significar<br />
uma autêntica catástrofe para<br />
a humanidade, talvez a nossa última<br />
e grande catástrofe. Tenho a<br />
certeza que a Natureza encontrará<br />
um caminho para o futuro mas não<br />
tenho certeza alguma que a humanidade<br />
tenha lugar nesse futuro. ><br />
Hélder Spínola<br />
Biólogo/Professor Universitário<br />
20 saber | Outubro | 2016