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• HISTÓRIAS<br />
H ISTÓRIAS<br />
cURITIBANAS<br />
O Passeio e Eu<br />
Antes de entrar,<br />
uma senhora<br />
me para. Ela avisa<br />
que hoje os patos<br />
estão impossíveis –<br />
e não há migalhas<br />
que os acalmem.<br />
Mas a verdade é<br />
que nos apegamos<br />
a tudo: bichos,<br />
personagens literários,<br />
lugares e,<br />
enfim, tudo que<br />
nos traga algum<br />
resquício de projeção<br />
emocional.<br />
Dias atrás, no<br />
mesmo Passeio<br />
Público, um jovenzinho<br />
caiu de sua<br />
bicicleta. Ralou os<br />
joelhos, engoliu o<br />
choro e logo sorriu<br />
pra os macaquinhos.<br />
É assim o<br />
Passeio, quase um<br />
ponto intermediário entre o caos de Curitiba e um lugar<br />
que nos leva ao mágico.<br />
Mas antes, um pouco de história: não à toa é o mais<br />
antigo parque municipal da capital, criado por Alfredo<br />
D´Estragnolle Taunay quando presidente da Província do<br />
Paraná e inaugurado em 1886, ele nasceu da drenagem de<br />
um terreno pantanoso, passou por várias transformações ao<br />
longo do tempo, tendo sido conhecido até mesmo como<br />
Jardim Botânico.<br />
O fato é que desde sua inauguração, o Passeio se tornou<br />
o mais tradicional ponto de encontro dos curitibanos; além<br />
de primeiro zoológico da cidade, foi palco de fatos marcantes<br />
na vida cultural e no folclore de Curitiba: em 1909,<br />
foi dali que alçou<br />
voo em um<br />
balão a intrépida<br />
Maria Alda,<br />
para pousar desastradamente<br />
no telhado da<br />
Catedral Metropolitana,<br />
na Praça<br />
Tiradentes.<br />
Já em 1911, na<br />
ilha desde então<br />
chamada da Ilusão,<br />
o simbolista<br />
Emiliano Perneta<br />
foi coroado Príncipe<br />
dos Poetas<br />
Paranaenses.<br />
O Passeio<br />
Público é um panorama<br />
do cotidiano<br />
da nossa<br />
cidade, ao observar<br />
meninas<br />
que deveria estar<br />
em aula no colégio<br />
vizinho, mas preferem perambular sob suas árvores, ao<br />
ouvir o homem consternado, explicando o motivo de seu<br />
divórcio a um desconhecido. Ou o senhor que só entrega<br />
a pipoca à criança se, além das moedas, ela lhe entregar<br />
uma pequena história particular.<br />
Afinal, assim é a vida, repleta de encontros e desencontros<br />
que universalizam a cidade – e a traz mais próxima<br />
de nós. Ao empurrar a indiferença para longe, descobre-se<br />
que nossa cidade possui belezas ainda não descobertas,<br />
disfarçadas pelo seu ar aristocrático: hoje há uma Curitiba<br />
real e outra imaginária, ambas cultuam fantasmas ainda<br />
não revelados e que, inegavelmente, se encontram no<br />
Passeio Público.<br />
Texto: M.B.<br />
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