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8 Sócios&Negócios 01 | dezembro 2014 capa_Porto Velho Nascida de Maria e do Madeira Do ciclo da borracha aos dias atuais, a cidade centenária passou por aventuras e desventuras, mas jamais deixou de contar com a fidelidade de seu povo, que cultiva por Porto Velho uma paixão incondicional Textos: Sandro André Fotos aéreas: Diego Queiroz Fotos históricas: Arquivo Wilson Destro Porto Velho surgiu como município há exatos cem anos, às margens do Rio Madeira. Sua origem como cidade está relacionada diretamente à construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré e à exploração da borracha natural na Amazônia. Nasceu de um casamento nada comum, entre o revoltoso, exuberante e selvagem “Madeirão”, com a vaidosa, milionária e homicida “Mad Maria”. Do encontro de interesses que havia em torno do imponente rio e da ferrovia histórica, surgiu a cidade. Para entender melhor essa história, no período compreendido entre o final do século dezenove e início do século vinte, havia uma grande disputa econômica mundial pela primazia na exploração dos seringais. Era necessário viabilizar, ampliar e canalizar a produção de borracha para os grandes centros, em decorrência do surgimento do automóvel. Tudo isso justificava a atração de investimentos milionários para a região. Foi isso que moveu o grande empreendedor norte-americano Percival Farquhar a destinar milhões de dólares no projeto da “Mad Maria”, que ficaria conhecida como a “Ferrovia da Morte”. Além do aspecto econômico, o surgimento da ferrovia tinha a ver com o acordo internacional assinado entre Brasil e Bolívia. A estrada de ferro fez parte da contrapartida brasileira em troca do gigantesco território boliviano do Acre, resultante da ação diplomática do Barão do Rio Branco. “Além da ferrovia, o governo brasileiro cedeu importantes extensões de terra para a Bolívia, mas era sem dúvida um acordo desejado há muito tempo pelos dois lados”, diz o historiador e escritor porto-velhense Antônio Cândido da Silva. Cachoeiras | A Bolívia necessitava de uma saída para o mar e o Rio Madeira seria seu caminho natural, mas as cachoeiras traiçoeiras, entre elas as de Santo Antonio e de Teotonio,
9 não permitiam qualquer esperança de navegação para os bolivianos. Logo, a Maria Fumaça representava a alternativa tão desejada. Mas o que era sonho acabaria se tornando um pesadelo trágico. Milhares de mortes ocorreram, em função de doenças tropicais como a malária. Foram longos e difíceis anos até que o principal cartão-postal de Porto Velho começasse a apitar. A essa altura, porém, algumas mudas de seringueiras já haviam sido levadas da Amazônia e replantadas na Malásia. A borracha brasileira e os planos bolivianos haviam perdido definitivamente a sua importância para os grandes “players” mundiais da época. Restaram as lembranças dos heroicos construtores da ferrovia, dos lendários soldados da borracha e de um povo acostumado com as aventuras e desventuras da cidade, com seus momentos apoteóticos e seus dramas cotidianos, e que mantém uma paixão viva pela cidade, tão incondicional quanto aquela que Farquhar um dia nutriu à sua “Mad Maria”. A Porto Velho atual vê despontar seus edifícios, mas suas raízes econômicas, geográficas e culturais permanecem intimamente ligadas ao Rio Madeira A cidade antiga e histórica, em contraste com a nova arquitetura de Porto Velho
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