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edição de 27 de novembro de 2017

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Miguel Bemfica, CCO<br />

da MRM/McCann Spain,<br />

e um dos fundadores<br />

da Escola Cuca<br />

Nature/iStock<br />

miguel bemfica<br />

especial para o PROPmaRK<br />

Quando eu morava em São Paulo, alguns dias acordava<br />

às quatro da manhã. Pegava meu carro e me encontrava<br />

com meus amigos Marquinhos Meirelles e Tato Butori,<br />

entre outros, e dirigíamos por uma hora até o Guarujá.<br />

Ali, chegávamos antes do amanhecer. Às seis em ponto<br />

entrávamos na Praia do Tombo. Víamos o sol nascer.<br />

Tartarugas. Gaivotas. Peixes <strong>de</strong> todos os tamanhos.<br />

E o melhor: pegávamos algumas ondinhas em plena<br />

quarta-feira. Eram duas horas <strong>de</strong> surfe no mínimo. Lembro-me<br />

que a gente se trocava no meio da rua, tomávamos<br />

banho com a água mineral comprada no posto <strong>de</strong> gasolina<br />

ao lado. E voltávamos para a agência. Se na ida o caminho<br />

dava uma hora, na volta, graças ao trânsito, quase duas<br />

horas. Mas voltávamos com um sorriso <strong>de</strong> orelha a orelha,<br />

com lembranças maravilhosas das ondas do dia e muitas<br />

vezes chegávamos antes que muitos amigos que tinham<br />

se <strong>de</strong>spertado em São Paulo e não tinham surfado nada.<br />

Quando me perguntam se tenho sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,<br />

é disso o que mais lembro. Aquelas duas horas <strong>de</strong> surfe no<br />

meio da semana, chegar na agência com a prancha <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> já ter feito o meu “homework” era <strong>de</strong>licioso e muito<br />

inspirador. Nesse dia, apesar <strong>de</strong> nas tar<strong>de</strong>s trabalhar com<br />

um pouco <strong>de</strong> sono, às vezes <strong>de</strong>rramando areia da praia<br />

no meu <strong>de</strong>sk sem querer, qualquer briefing tinha um sabor<br />

especial. Porque eu já estava com a sensação <strong>de</strong> que o<br />

meu dia tinha valido a pena.<br />

Quem surfa, ou tenta surfar como eu, sabe do que eu<br />

estou falando.<br />

O surfe já me levou a lugares sem nome. A países sem<br />

nenhuma infra. A resorts maravilhosos construídos <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> um tsunami. O surfe já me trouxe amigos <strong>de</strong> países<br />

e profissões e ida<strong>de</strong>s muito diferentes. Já me fez viajar<br />

o mundo inteiro a lugares em que nem o TripAdvisor<br />

conhece. O surfe já me fez ter medo <strong>de</strong> morrer algumas<br />

vezes. Sim, o surfe te <strong>de</strong>ixa muito humil<strong>de</strong> rapidinho.<br />

Uma lição aprendida no surfe fica para sempre. É como<br />

um briefing que sempre te surpreen<strong>de</strong>. O surfe já me fez<br />

enten<strong>de</strong>r os rastafáris, e também os amigos businessmen<br />

importantes que levam todos seus amigos para comemorar<br />

um aniversário <strong>de</strong> 50 anos numa ilha com uma onda<br />

exclusiva. O surfe é uma benção, alguns dizem. Estava ali<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, como uma página em branco. Até que um<br />

maluco pegou um toco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e começou a se divertir.<br />

Não existe uma onda igual. Por isso é tão fascinante. E<br />

tão inspirador.<br />

É como digo sempre na minha escola, a Escola Cuca.<br />

O surfe é como a publicida<strong>de</strong>. Não adianta saber toda a<br />

teoria. Você tem <strong>de</strong> entrar na água e remar, remar, remar.<br />

Sem a prática, sem passar perrengues, sem ver <strong>de</strong> perto e<br />

treinar com os craques que já ganharam tudo nas praias<br />

<strong>de</strong> Cannes, você não chega a lugar nenhum.<br />

O surfe também me inspira a me manter bem fisicamente.<br />

Well, quase. Graças ao surfe, comecei a fazer ioga<br />

e você não imagina como o ioga se parece ao surfe. Quase<br />

todos os movimentos do ioga, se você coloca uma prancha<br />

embaixo, é puro surfe. Essa nossa vida mo<strong>de</strong>rna é<br />

tão cheia <strong>de</strong> informação e pressão que, às vezes, a gente<br />

esquece <strong>de</strong> respirar e <strong>de</strong> se conectar com o que é verda<strong>de</strong>iramente<br />

importante: o presente. E não há nada que te<br />

conecte mais com o presente do que uma onda. Porque<br />

fazer campanhas, ganhar concorrências, ganhar prêmios,<br />

fazer diferença para algumas marcas é importante. Mas se<br />

você não cuida <strong>de</strong> você mesmo primeiro, jamais vai conseguir<br />

fazer um trabalho relevante para qualquer produto.<br />

Vou ser eternamente agra<strong>de</strong>cido ao meu amigo Marcio<br />

Santoro, que um dia me convenceu <strong>de</strong> voltar a surfar<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 15 anos fora d’água. Ele me disse: é igual bicicleta,<br />

Miguel. Você vai ver que não esqueceu. Depois <strong>de</strong><br />

ter voltado, cada vez mais acredito piamente que pessoas<br />

felizes trabalham melhor. E mais equilibradamente. Por<br />

isso recomendo que você tenha algum hobby antes que<br />

a sua profissão se converta em um. Qualquer hobby. Sem<br />

um hobby, sem alguma paixão fora do trabalho, é muito<br />

fácil você cair na armadilha <strong>de</strong> pensar que a publicida<strong>de</strong><br />

é a sua única praia.<br />

Joeygil/iStock Ccaetano/iStock<br />

Cristina Robles/Divulgação<br />

Paixão sem infra<br />

As Maldivas (foto acima à esquerda) exercem verda<strong>de</strong>iro<br />

fascínio no publicitário Miguel Bemfica (primeira foto),<br />

ganhador do Grand Prix do Entertainment Lions <strong>2017</strong><br />

com o case Beyond Money para o Santan<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Madri.<br />

Além da prancha, uma praia <strong>de</strong>serta é suficiente.<br />

Sim, uma camisa estilosa entrega o hobby.<br />

jornal propmark - <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> 29

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