O desejo sexual das mulheres foi inibido por processos de repressão social. No estudo publicado em 2008 por Wânia Ribeiro Trindade e Márcia de Assunção Ferreira, professoras da Faculdades Integradas Espírito-Santenses (FAESA) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), baseado em entrevistas com mulheres em um posto de saúde em Vila Velha – ES, a ausência de desejo sexual feminino aparece relacionado “ao esforço das mulheres na luta diária, numa tentativa de garantir com seu trabalho a independência, sua afirmação pessoal e profissional, mas que consequentemente repercutem negativamente nas suas condições de saúde”. As estudiosas defendem a existência de espaços de “discussão coletiva entre as próprias mulheres”, para que compartilhem experiências e se percebam na vivência uma da outra. Isso possibilitaria o reconhecimento de diversos problemas comuns à condição feminina. Termos de libertação Os estudos feministas traçaram formas de resistência para que as mulheres pudessem ocupar espaços e atuar nas instituições. Foram desenvolvidos à partir dos movimentos sociais femininos, como a convenção dos direitos da mulher em Nova York em 1848. Nesse contexto, a mulher deve ser vista como alguém que resiste às classificações limitantes de sua atuação na esfera pública, posicionando-se como um “segmento” diante das lutas de gênero, classe social, etnia, dentre outras. A partir desses estudos, pautas acerca da vivência feminina vêm sendo levantadas nos últimos anos. E diversos elementos formadores de sua identidade estão presentes no processo de elaboração de pesquisas e debates. A partir da segunda metade do séc. XX passou-se a considerar a inclusão da mulher no mercado de trabalho, o papel dos meios de comunicação na formação identitária da mulher, as discussões acerca do aborto, a abertura de espaços para discutir gênero e sexualidade nas instituições de ensino, dentre outras. Passou-se a considerar também sua representatividade nas áreas de produção do conhecimento da humanidade. Agora a mulher também tem a possibilidade de se expressar por meio de livros, como a escritora Adélia Prado, artigos científicos como a estudiosa Simone de Beauvoir, músicas como a cantora “Cris” do extinto grupo de rap SNJ, filmes como a cineasta Anna Muylaert. Todas, a sua maneira, empoderam e libertam a figura feminina de estereótipos limitante. Eu mesma, a outra mulher Ao final desse texto, conto um pouco da minha história e trago com ela o pulso da minha intimidade. Carrego significados em meu corpo, sou indivíduo. Me porto diante da sociedade de acordo com normas compartilhadas. Me reconheço como mulher e, para mim, foi simples a adaptação de alguns padrões de sexualidade. Quando menina, não me perguntava acerca das normas sociais que poderiam cercear minha capacidade de expressão. Mesmo assim, em algum momento de minha história, quis ocupar espaços predominantemente masculinos. Presumia, então, que o melhor seria suprimir características de minha construção identitária como mulher. Me machuquei, mas ainda obtive vantagens na corrida para ocupar espaços na sociedade. Tive acesso ao ensino, saúde, e não precisei resistir às opressões étnicas e sociais. Alguns de nós possuímos meios para se desviar das opressões colocadas no cotidiano. Mas a quem oprimimos, mesmo sem perceber, para que pudéssemos manter nosso conforto e modo de vida?
O MUNDO EM MIM