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Gestão Hospitalar N.º3 1983

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peito um indivíduo pode legitimamente esperar<br />

da parte do seu semelhante, isto é: aquilo com<br />

que se pode oontar dos membr os do grupo social,<br />

poderemos concluir que o «estatuto» pode influenciar<br />

o processo de integração de um indivíduo<br />

numa situação nova, em funções novas, num<br />

grupo novo, facilitar rOU dificultar a mudança.<br />

E é assim que, um indivíduo que na comunidade<br />

em que vivia e trabalhava anteriormente,<br />

gozava de um estatuto social elevado, terá mais<br />

dificuldade em se adaptar a uma nova experiência<br />

onde vai começar tudo de princípio e onde lhe<br />

é conferido um estatuto secundário, que terá<br />

de reconstruir pelo desempenho do seu papel.<br />

2.2.4. A integração é um problema de homeostasia?<br />

(9)<br />

Só quem nunca viveu uma experiencia de<br />

integração, mesmo bem conduzida e feliz, poderá<br />

negar que o período de integração seja um período<br />

de tensão, gerador de desequilíbrio e de actividades<br />

compensatórias, capazes de restabelecer<br />

o equilíbrio inicial.<br />

Esse equilíbrio será conseguido à medida que<br />

a necessidade de inclusão for sendo saciada e o<br />

reconhecimento e a aceitação pelo grupo se forem<br />

tornando evidentes, à medida que o indivíduo<br />

for dominando as suas funções, conhecendo o<br />

seu posto de trabalho e o hospital ou empresa.<br />

Atingido o objectivo da integração, eis que a<br />

tensão desaparece.<br />

Por isto eu .. pergunto se o problema da integração<br />

não será também um problema de<br />

hom·eostasia .<br />

2.3. ASPECTOS SOCIOLóGf COS<br />

•<br />

2.3.1. O trabalho como actividade grupal<br />

O trabalho e as suas implicações no comportamento<br />

colectivo do homem, são campo vasto<br />

para estudos sociológicos. Aliás, o trabalho é<br />

uma actividade tipicamente grupal, em que predomina<br />

a influência das normas grupais (10).<br />

É que a cooperação não é, nunca foi, o resultado<br />

de determinações legais ou da lógica da orga-<br />

nização, mas tem causas bem mais pro.fundas<br />

que escapam a grande número de gestores.<br />

KWASNICK (11), referindo-se a o «estudo de<br />

HA WTHORNE» diz que a sua maior contribuição<br />

talvez tenha sido a conclusão de que «um problema<br />

humano para ser solucionado, requer<br />

dados, informações e ferramentas humanas».<br />

Ora a integração de um elemento novo numa<br />

equipa de enfermagem é, fundamentalmente, um<br />

problema humano. Não bastará, pois, apresentar<br />

ao recém-chegado um MANUAL DE ENFERMA­<br />

GEM muito bem elaborado e organizado. É certo<br />

que as informações nele contidas são um elemento<br />

importante para o êxito do processo de<br />

integração, mas o que é necessário, antes de<br />

mais, é «meter o indivíduo no grupo», ou melhor,<br />

criar condições favoráveis à sua entrada no grupo,<br />

ajudá-lo a enraizar-se.<br />

2.3.2. A importância da comunicação ·<br />

Sempre que dois ou mais indivíduos se reúnem<br />

para realizar uma tarefa comum, a sua maior<br />

preocupação vai para a forma como desempenhá-la:<br />

E o que se verifica? Que na generalidade dos<br />

casos os problemas qu.e surgem, pouco têm a ver<br />

com as tarefas ou com a forma de realizá-las. São<br />

problemas de comunicação criados por sentimentos<br />

de hostilidade e rejeição, que acabam<br />

por Jançar os indivíduos em lutas sem sentido,<br />

mas que dificultam sobremaneira o avançar do<br />

processo em execução.<br />

Ao chefe do grupo cabe grande responsabilidade<br />

na manutenção em perfeito funcionamento,<br />

dos canais de comunicação.<br />

-l'. KRON (13) mostra outra face do problema,<br />

chamando a atenção para o erro que significa<br />

preocuparmo-nos apenas com os nossos pacientes<br />

e suas necessidades, esquecendo, ou pelo menos<br />

secundarizando, os nossos companheiros de trabalho,<br />

os nossos colaboradores e as suas necessidades<br />

e sentimentos. Na verdade, na época<br />

materialista que atravessamos e na sociedade de<br />

consumo em que vivemos, o dinheiro está longe<br />

de ser tudo. A satisfação no trabalho é importante<br />

para a felicidade das pessoas, mesmo para<br />

aquelas que em vez de a favorecer a dificultam.<br />

Na enfermagem, a satisfação no traba1ho<br />

ganha particular significado, pois é indispensável<br />

para o atendimento pleno das necessidades do<br />

paciente.<br />

Posto assim o problema, penso que para o<br />

enfermeiro gestor é mais fácil resolvê-lo, tanto<br />

no dia-a-dia da sua unidade, como em relação<br />

ao pessoal em fase de integração, já que as<br />

pessoas têm necessidade d"€ receber adequado<br />

«feedback», de saberem que estão sendo compreendidas,<br />

aceites, apreciadas.<br />

Isto é importante, porque em qualquer momento<br />

da vida o profissional de enfermagem não é<br />

apenas um técnico que «ajuda a tratar doenças».<br />

Ele é, fundamentalmente, gente, pessoa, que trata<br />

de outra gente, de outras pessoas, com as quais<br />

é bom que estabeleça uma relação empática,<br />

intencional, terapêutica. Para isso ele necessita<br />

de se sentir integrado, para se sentir bem interiormente.<br />

2.4. ASPECTOS PEDAGóGICOS<br />

Um programa de integração constüui, em<br />

regra, um momento óptimo de aprendizagem, e<br />

da atmosfera que desde o início do processo<br />

envolver o integrando, dependerá, em grande<br />

parte, o êxito do mesmo.<br />

PINE e HARNE (14) propõem algumas condições<br />

para facilitar a aprendizagem, tais como,<br />

um ambiente de. abertura à criatividade e movação;<br />

que permi.ta ao indivíduo ser igual a si<br />

próprio, diferente ; que toler e o erro e a imperfeição;<br />

que faça o indivíduo s entir-se aceite e<br />

respeitado; que incremente a auto-avaliação e<br />

permita a confrontação de ideias sem confrontos.<br />

Segundo BURNIAUX (15), todo o indivíduo em<br />

virtude de estar envolvido, conser va em si a<br />

atitude do mterlocutor receptivo e que reage.<br />

Uma acção formativa só tem valor quando o<br />

interlocutor escuta a ctivamente, ou seja, se reagir<br />

e discutir interiormente co·m o professor. Para<br />

isso é necessário que essa acção constitua sempre<br />

uma conversa amigável entr e quem dá e<br />

quem recebe, mesmo que o primeiro seja o único<br />

a falar. Esta condição é essencial para que se<br />

«oiça» bem.<br />

2.5. ASPECTOS A DMINISTR ATIVOS<br />

Um processo de integração devidamente<br />

estruturado, beneficiará a gestão de diversas<br />

formas. Não é seguramente uma panaceia para<br />

todos os ma]es e problemas de gestão de pessoal,<br />

mas é um elemento essencial da «função<br />

pessoal», se pretendermos optimizar os resultados<br />

-:-la gestão do pessoal de enfermagem.<br />

2.5.1. Resposta aos objectivos da unidade<br />

Se o novo empregado se adaptar rapidamente<br />

às novas condições de trabalho, ele estará mais<br />

depressa em condições de dar uma contribuição<br />

efectiva no sentido dos objectivos da unidade e<br />

da instituição.<br />

2.5.2. Diminuição da mobilidade de pessoal<br />

O númer·o de saídas de pessoal baixará, arrastando<br />

consigo uma diminuição das admissões, que<br />

pelos seus custos não convêm à gestão.<br />

Alguns estudos referidos por MILLETT e<br />

ANGELINETTA (16), demonstraram que a mobilidade<br />

de· pessoal é mais alta nas primeiras<br />

semanas de emprego e que em regra geral as<br />

probabilidades de denúncia do contrato diminuem<br />

à medida que o tempo vai passando. É o<br />

fenómeno conhecido por «crise de integração» e<br />

que requer particular atenção e apoio.<br />

2.5.3. Continuidade dos cuidados<br />

Quando 0 programa de integração é coroado<br />

de êxito, não haverá uma quebra assinalável,<br />

na continuidade dos cuidados ao doente, primeiro<br />

· porque as pessoas se adaptam mais rapidamente<br />

e depois porque a média de substituição do pessoal<br />

baixa. Acresce ainda que essa baixa de<br />

substituições afecta positivamente a motivação<br />

do pessoal.<br />

Quem conhece os meandros da dinâmica hospitalar,<br />

sabe que a continuidade e o equilíbrio<br />

dos c"uidados de enfermagem contribuem, em<br />

larga medida, para a redução da demora média<br />

hospitalar. Bastará lembrar o agravamento que<br />

significa nessa demora, o desenvolvimento de<br />

complicações respiratórias por estase brônquica<br />

e de complicações músculo-esqueléticas como<br />

atrofias musculares e anquiloses, já para não<br />

falar das complicações por estase venosa periférica<br />

e das zonas de pressão.<br />

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