Revista do Historiador - APH 193

Pioneiro
uma casa de 12 por 16 passos, que servisse
de escola e residência para os religiosos.
Acompanhado pelo padre Manuel de Paiva
e pelo irmão jesuíta Antônio Rodrigues, e
guiados pelo mameluco André, filho mais
velho de João Ramalho (genro do cacique
Tibiriçá), deslocaram-se a Maniçoba (Itu),
distante cerca de 100 km da vila; a povoação
albergava a maior concentração de indígenas
da região. Planaltina, atravessada pelo rio
Tietê, que tinha como afluentes os rios Piratininga
e Anhangabaú, onde se situavam
as tribos dos caciques Tibiriçá, Piquerobi e
Caiubi, amigos de João Ramalho,
Regressando a Piratininga, Nóbrega escolheu
um lugar alto, de fácil defesa e livre das inundações
dos rios (Pátio do Colégio), situado
entre o Piratininga e o Anhangabaú; ali rezou
missa (29/8/1553) e mandou erguer uma
casa de 12 passos de frente por 16 passos de
fundo, para servir de residência aos religiosos,
e de escola de ler e escrever e catequese, para
os meninos índios, para os mamelucos (filhos
de portugueses e índias), e para os filhos dos
poucos portugueses, que a partir de 1536
vieram com suas esposas, após a implantação
de São Vicente. Com a difícil subida da serra
e penetração no sertão, Nóbrega deu um
belo exemplo aos futuros bandeirantes, que
mais tarde, de São Paulo, partiram com suas
bandeiras (equivalentes a uma companhia
do exército), para reconhecer e desbravar o
sertão; a estes heróis, capitães das bandeiras,
ficou o Brasil devendo o alargamento do seu
território inicial, delimitado pelo meridiano
do Tratado de Tordesilhas, que aumentou a
superfície de cerca de 3.000.000 km2, para
os 8.500.000 km2 atuais.
Escolhido o local onde seria implantado
o colégio e a sede da Companhia de Jesus,
onde oficiou a primeira missa no planalto,
Nóbrega seguiu para São
Vicente, passando por
Santo André da Borda do
Campo (ou seja, já perto
da descida da serra). Na
sede da capitania, o jesuíta
continuou o seu trabalho
de fiscalização do colégio
ali existente, cujos corpos
docente e discente
mandou transferir para
o planalto, onde os meninos
indígenas residiam
a maior parte do ano,
pois apenas no inverno as
tribos desciam para São
Cacique Tibiriçá
Vicente, regressando na
primavera ao planalto de Piratininga. Em
tudo auxiliado pelo já idoso João Ramalho,
e sempre guiado e assistido pelo mameluco
André, seu filho e neto do cacique Tibiriçá,
Nóbrega tinha se reconciliado com Ramalho,
após as críticas que lhe fizera, em virtude
de ter muitas mulheres, entre índias
e mamelucas. Mas tal viver fazia parte da
cultura indígena, na qual ele estava inserido,
desde que há mais de quatro décadas tinha
aportado a São Vicente, e sido aceite pelas
tribos do planalto, onde o cacique lhe deu a
mão da própria filha.
Quando, no início de 1554, a casa
do Pátio do Colégio já estava pronta, um
grupo de 13 religiosos subiu a encosta da
Serra do Mar, passou por Santo André da
Borda do Campo, de onde, agora acrescido
por João Ramalho e outros moradores da
vila, seguiu para a nova sede da Companhia
de Jesus, onde – a 25 de janeiro desse ano –
foi oficiada nova missa, não mais em campo
aberto, mas dentro da “igreja” e casa dos jesuítas.
Dela participou o jovem noviço (seminarista)
José de Anchieta, depois padre
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novembro / dezembro de 2017