Revista do Historiador - APH 193
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Personalidade<br />
O heRÓi ultRaja<strong>do</strong> – No entanto, a<br />
intensidade da reação <strong>do</strong>s cariocas deve levar<br />
em conta o contexto da época. Simultaneamente<br />
aos brios ofendi<strong>do</strong>s, o império ainda<br />
era uma nação que ensaiava os primeiros balbucios.<br />
É de supor que necessitasse de glórias<br />
artísticas para afirmar sua nacionalidade no<br />
senti<strong>do</strong> de equiparar-se ao mun<strong>do</strong>, leia-se Europa.<br />
Tais anseios tinham maior apelo na capital<br />
federal pela própria condição de principal<br />
cidade <strong>do</strong> país; provavelmente Leopol<strong>do</strong> Miguez<br />
os personificasse. Embora tenha morri<strong>do</strong><br />
ce<strong>do</strong>, aos 52 anos, já podia exibir uma obra que<br />
envaidecia nossos ascendentes: poemas sinfônicos;<br />
peças de câmara; a ópera Os Saldunes...<br />
Talvez não estivesse no patamar <strong>do</strong>s grandes<br />
mestres europeus, mas ninguém lhe tira o mérito<br />
de haver si<strong>do</strong> um excelente professor de<br />
música e inova<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ensino musical em nosso<br />
país. Entrou para nossa história por haver<br />
composto o Hino da República em 1890. “Seja<br />
um pálio de luz des<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>/sobre a larga amplidão<br />
desse céu...” A rigor, com essa composição,<br />
havia venci<strong>do</strong> o concurso para a escolha <strong>do</strong><br />
Hino Nacional Brasileiro, promovi<strong>do</strong> pelo marechal<br />
Deo<strong>do</strong>ro da Fonseca, então primeiro, e<br />
provisório, presidente da República. A vitória<br />
não foi efetivada oficialmente. Deo<strong>do</strong>ro mu<strong>do</strong>u<br />
de ideia e tornou-a o Hino da República,<br />
movi<strong>do</strong> aparentemente pelo calor da ocasião. A<br />
fresca república nascera no ano anterior, era o<br />
entusiasmo <strong>do</strong> momento que reclamava atenções<br />
e, principalmente, fora proclamada por<br />
ele. Segun<strong>do</strong> consta, levantara a<strong>do</strong>enta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Theatro Dom Pedro II RJ, Theatro Lyrico<br />
Arturo Toscanini em uma apresentação em Vienna<br />
Philharmonic <strong>193</strong>6<br />
leito, vencen<strong>do</strong> <strong>do</strong>res e desconfortos para subir<br />
no cavalo a fim de levantar sua espada para o<br />
céu no Campo de Santana.<br />
FoRa! BRaVo! - Um segun<strong>do</strong> dirigente da<br />
companhia, signor Rossi, tentou, mas não conseguiu<br />
pacificar o público. Naquela altura, com<br />
certeza somente <strong>do</strong>m Pedro II seria bem sucedi<strong>do</strong>,<br />
mas, infelizmente, no momento, devia estar<br />
ressonan<strong>do</strong> no paço imperial de São Cristóvão.<br />
O relato daquela noite sugere um levante popular<br />
prestes a explodir. Naquela atmosfera<br />
das barricadas de Paris que saltavam das páginas<br />
de “Os Miseráveis”, os músicos se reuniram<br />
e, criativamente, resolveram o impasse em<br />
alguns minutos. Determinaram que o fedelho<br />
de 19 anos seria o regente. A escolha não foi<br />
aleatória. Na convivência diária, haviam nota-<br />
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novembro / dezembro de 2017