Revista do Historiador - APH 193
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
as imagens mais conhecidas da<br />
atualidade e valem milhões de<br />
dólares. Theo permaneceu fiel<br />
até o fim no seu amor fraternal.<br />
Abílio Leite de Barros e Manuel de Barros<br />
ABílio, iRmão caÇula, lembrou-me<br />
de repente a história de Th e o, negociante<br />
de arte, irmão mais novo de Vincent Van<br />
Gogh, que deu a ele to<strong>do</strong> suporte e apoio<br />
financeiro para que se dedicasse exclusivamente<br />
à pintura: tintas, telas, viagens, mesada,<br />
estúdio. Os irmãos durante anos,<br />
trocaram cartas comoventes, em que Theo<br />
procurava encorajar o irmão depressivo e<br />
Vincent revelava seus pensamentos, sua<br />
alma torturada de artista. Certa vez, escreveu<br />
a Theo manifestan<strong>do</strong> o desejo de pintar<br />
retratos que tivessem vitalidade: “associan<strong>do</strong><br />
duas cores complementares, sua mescla e<br />
sua oposição, têm-se as misteriosas vibrações<br />
de tons análogos”. Como sofreu Theo<br />
ven<strong>do</strong> aquele intelecto superior balança<strong>do</strong><br />
por emoções perturbadas; o temperamento<br />
explosivo e confuso; os ataques de nervos; a<br />
ansiedade em alto grau; as alucinações; as<br />
hemorragias; o suicídio com arma de fogo!<br />
Tu<strong>do</strong> ficou para sempre impresso no autoretrato<br />
de Van Gogh: a barba ruiva e áspera, a<br />
boca infeliz, as pálpebras caídas e, ao fun<strong>do</strong>,<br />
um caos azul e cinza de redemoinho turbulento.<br />
Que contraste entre o sucesso póstumo<br />
e o fracasso e a rejeição que o artista<br />
experimentou em vida! Curta vida. Longa<br />
arte. Os quadros de Van Gogh estão entre<br />
Um pouco assim foi Abílio para<br />
Manuel: o irmão sempre presente,<br />
lúci<strong>do</strong> na condução das finanças,<br />
consultor e amigo <strong>do</strong>s sobri-<br />
nhos, porto seguro em meio a tempestades<br />
familiares e políticas. Manuel vivia para a poesia,<br />
dizia que “estudara Direito por linhas tas”, que Deus ajeitara nele um <strong>do</strong>m: “pertencer<br />
torpara<br />
uma árvore, escutar o perfume <strong>do</strong>s rios”.<br />
Era alguém que não desejava “cair em sensatez”<br />
e que só almejava o “fetiço das palavras”.<br />
De iRmão PaRa iRmão: C o m o Th e o ,<br />
marchand, que amava a pintura e apresentou<br />
Vincent a artistas como Degas, Pissarro e<br />
Lautrec, que lhe ensinaram as técnicas impressionistas,<br />
descobrimos, súbito, que Abílio<br />
amava a poesia e desejou um dia, em sua<br />
juventude, ser poeta. Descobrimos que Abílio<br />
renunciou à poesia; afinal, a mãe reconhecera<br />
em Manuel o poeta e vaticinara: “Meu filho,<br />
você vai ser poeta! Você vai carregar água na<br />
peneira a vida toda.” Manuel, poeta e eterno<br />
menino. Abílio, homem sobre o cavalo, as rédeas<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is destinos nas mãos.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>do</strong> Historia<strong>do</strong>r 7