2013_Luzes-ApostoloPulchrum
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<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />
Omobiliário dessa sala é elegante, leve, também<br />
constituído de tapeçarias, e habilmente disperso<br />
pela sala, de maneira que se tem, ao mesmo<br />
tempo, impressão de muita mobília, mas há vazios importantes.<br />
Um dos segredos de uma sala bonita é ter vazios<br />
importantes. Eu já tenho visto sala empetecada de<br />
móveis, não se pode dar um passo sem esbarrar num cacareco.<br />
Não tem propósito! O vazio bonito faz parte da<br />
boa decoração.<br />
Orquestração fabulosa de riquezas de espírito<br />
Os vazios são indispensáveis para o ornamento de<br />
uma sala. Mas nessa sala do castelo de Fontainebleau,<br />
que estou analisando, tem-se a impressão, ao mesmo<br />
tempo, de muita mobília e de nada de atravancamento;<br />
isso é agradável. A beleza cromática da sala é a seguinte:<br />
os vidros das janelas são transparentes, a luz que entra<br />
por eles é, inteiramente, a luz do dia. Não é aquela<br />
luz leitosa da galeria.<br />
Mas essa luz do dia, no que ela tem de cru, é compensada<br />
por um mundo de cores. Quase se poderia dizer<br />
que todas as cores possíveis estão representadas aqui,<br />
mas para não ficarem sobrecarregadas, todas elas em<br />
estado muito pálido. E um mundo de cores muito pálidas<br />
não dá a ideia de feeria de cores, pois elas quase que<br />
se fundem umas nas outras, mas divertem e descansam<br />
os olhos maravilhosamente.<br />
Creio ser indiscutível que essa sala dá uma ideia de<br />
fausto. A principal noção de fausto que dela se depreende<br />
é da prodigiosa policromia, mas de cores delicadas<br />
que se fundem umas nas outras; é uma orquestra-<br />
ção fabulosa de riquezas de espírito, de riquezas culturais.<br />
No meio de mil coisas empalidecidas, ficaria um<br />
pouco insípido não ter uma nota viva. E, a ter uma nota<br />
viva, o vermelho é o mais bonito. O vermelho-cereja,<br />
dado um pouco para sangue, no meio das cores pálidas,<br />
é um jato. Como um cozinheiro, que entende das<br />
coisas, sabe pôr na elaboração de um prato um pouco<br />
de pimenta, para realçar todo o resto.<br />
A porta é feita com a preocupação de constituir um<br />
elemento decorativo a mais dentro da sala. Então ela<br />
mesma é tratada com uma série de painéis, todos muito<br />
delicados, leves, que contrastam com o sobrecarregado<br />
das laterais. O contraste de sobrecarregados e leves<br />
forma a harmonia da sala, que sem isto ficaria empetecada.<br />
Manifestamente, nota-se aí a tendência a construir<br />
uma coisa que superasse a natureza, e compensasse um<br />
pouquinho o que esta Terra tem de exílio, com a ideia<br />
de que o homem é feito para coisas maiores do que as<br />
coisas terrenas. Há dentro disso um apelo para algo<br />
maior do que esta vida e esta Terra, e que é começo de<br />
movimento rumo ao Céu. Esse é o lado religioso do assunto.<br />
Fotos: Ignis / Nicolas Vigier<br />
Abaixo, Salão da Imperatriz;<br />
à direita, detalhe do Salão da Rainha-Mãe<br />
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