27.07.2018 Views

2013_Luzes-ApostoloPulchrum

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Luzes</strong> da Civilização Cristã<br />

Omobiliário dessa sala é elegante, leve, também<br />

constituído de tapeçarias, e habilmente disperso<br />

pela sala, de maneira que se tem, ao mesmo<br />

tempo, impressão de muita mobília, mas há vazios importantes.<br />

Um dos segredos de uma sala bonita é ter vazios<br />

importantes. Eu já tenho visto sala empetecada de<br />

móveis, não se pode dar um passo sem esbarrar num cacareco.<br />

Não tem propósito! O vazio bonito faz parte da<br />

boa decoração.<br />

Orquestração fabulosa de riquezas de espírito<br />

Os vazios são indispensáveis para o ornamento de<br />

uma sala. Mas nessa sala do castelo de Fontainebleau,<br />

que estou analisando, tem-se a impressão, ao mesmo<br />

tempo, de muita mobília e de nada de atravancamento;<br />

isso é agradável. A beleza cromática da sala é a seguinte:<br />

os vidros das janelas são transparentes, a luz que entra<br />

por eles é, inteiramente, a luz do dia. Não é aquela<br />

luz leitosa da galeria.<br />

Mas essa luz do dia, no que ela tem de cru, é compensada<br />

por um mundo de cores. Quase se poderia dizer<br />

que todas as cores possíveis estão representadas aqui,<br />

mas para não ficarem sobrecarregadas, todas elas em<br />

estado muito pálido. E um mundo de cores muito pálidas<br />

não dá a ideia de feeria de cores, pois elas quase que<br />

se fundem umas nas outras, mas divertem e descansam<br />

os olhos maravilhosamente.<br />

Creio ser indiscutível que essa sala dá uma ideia de<br />

fausto. A principal noção de fausto que dela se depreende<br />

é da prodigiosa policromia, mas de cores delicadas<br />

que se fundem umas nas outras; é uma orquestra-<br />

ção fabulosa de riquezas de espírito, de riquezas culturais.<br />

No meio de mil coisas empalidecidas, ficaria um<br />

pouco insípido não ter uma nota viva. E, a ter uma nota<br />

viva, o vermelho é o mais bonito. O vermelho-cereja,<br />

dado um pouco para sangue, no meio das cores pálidas,<br />

é um jato. Como um cozinheiro, que entende das<br />

coisas, sabe pôr na elaboração de um prato um pouco<br />

de pimenta, para realçar todo o resto.<br />

A porta é feita com a preocupação de constituir um<br />

elemento decorativo a mais dentro da sala. Então ela<br />

mesma é tratada com uma série de painéis, todos muito<br />

delicados, leves, que contrastam com o sobrecarregado<br />

das laterais. O contraste de sobrecarregados e leves<br />

forma a harmonia da sala, que sem isto ficaria empetecada.<br />

Manifestamente, nota-se aí a tendência a construir<br />

uma coisa que superasse a natureza, e compensasse um<br />

pouquinho o que esta Terra tem de exílio, com a ideia<br />

de que o homem é feito para coisas maiores do que as<br />

coisas terrenas. Há dentro disso um apelo para algo<br />

maior do que esta vida e esta Terra, e que é começo de<br />

movimento rumo ao Céu. Esse é o lado religioso do assunto.<br />

Fotos: Ignis / Nicolas Vigier<br />

Abaixo, Salão da Imperatriz;<br />

à direita, detalhe do Salão da Rainha-Mãe<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!