O PETRUCIO PETRUCIO
Conto naturalista sobre um papagaio retirado da floresta e vive a vida toda lutando para voltar pra casa. Um misto de ficção e realidade.
Conto naturalista sobre um papagaio retirado da floresta e vive a vida toda lutando para voltar pra casa. Um misto de ficção e realidade.
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- Isso coroa. Eu to sacando, currupaco. Pó-de-arroz vem brigar. Dá o<br />
pé!<br />
Estávamos viajando em uma coisa chamada barco e era rodeado de<br />
água. Quando o Serginho me levou do lado de fora eu fiquei olhando a<br />
água. Havia mata em volta e parecia muito com a floresta. Fiquei olhando<br />
fixo pra água pra ver se avistava o Vernacleto, meu amigo peixe naquela<br />
imensidão de águas, mas não dava pra ver nada. A água era escura, não<br />
parecia com a água da cachoeira lá no meio da floresta onde eu nasci.<br />
Ao olhar a mata meus olhos se encheram...<br />
Deu vontade de sair voando para o mato, mas tive receio. Não sabia<br />
onde estava e tinha medo que algum animal me pegasse caso eu caísse na<br />
água, assim como o Vernacleto me ensinou sobre os predadores da água.<br />
Dava pra ver muitos passarinhos voando nos galhos, se assustando com o<br />
barco. Eu não conhecia aqueles pássaros e tentava falar com eles de longe,<br />
gritava em saudação, mas não me respondiam, deviam achar que era o<br />
barco quem falava.<br />
O sobe e desce do barco levou rapidamente minha capacidade de<br />
permanecer de pé. Fiquei tonto e enjoado de tanto olhar para o horizonte,<br />
para aquelas árvores, lá ao longe, bem longe, uma ilha distante que era o<br />
destino do barco. Eu sentia algo diferente! Um cheiro diferente!<br />
Comecei a caminhar pelo piso do barco, bem perto das paredes, até<br />
que o efeito da maresia foi passando.<br />
Quando vi o Serginho voei pra perto dele e nós fomos conhecer o<br />
barco todo. Havia corredores, escadas, janelas e muitas pessoas observando<br />
a paisagem da mata.<br />
Não consigo entender como essas pessoas se admiram tanto ao ver a<br />
natureza e mesmo assim destroem. São as pessoas que compram os<br />
passarinhos e com isso tiram a vida da floresta. Como pode ser assim?<br />
O Serginho estava alegre e me dava atenção. Quando ele estava<br />
longe dos seus brinquedos bobos, voltava a ser meu amigo e passávamos<br />
momentos agradáveis juntos.<br />
Nós estávamos viajando na parte de baixo do barco. O Serginho<br />
falou que o andar de cima era para o pessoal rico. Só que eu queria ver a<br />
floresta lá de cima. Talvez eu pudesse ver onde eu morava e voava pra lá,<br />
talvez os meus irmãos ou amigos estivessem voando e eu só poderia ver se<br />
subisse até lá em cima. Se eu pudesse ver a palmeira, saberia que era lá. Fui<br />
ficando impaciente, ansioso! Talvez eu estivesse tão próximo de casa e só<br />
poderia descobrir se ousasse deixar a companhia do Serginho.<br />
Eu voei até lá e o Serginho veio atrás de mim pela escada. Havia<br />
uma grade que servia de entrada, mas estava fechada e o Serginho não pôde<br />
me seguir. Pela primeira vez desde que eu vim parar nesse lugar senti<br />
liberdade, senti que poderia fazer o que eu quisesse.<br />
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