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O PETRUCIO PETRUCIO

Conto naturalista sobre um papagaio retirado da floresta e vive a vida toda lutando para voltar pra casa. Um misto de ficção e realidade.

Conto naturalista sobre um papagaio retirado da floresta e vive a vida toda lutando para voltar pra casa. Um misto de ficção e realidade.

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O Cristóvão bateu em mim com uma blusa enrolada e molhada assim<br />

que entrou. Dentro do quarto ele me jogava com força contra a parede e eu<br />

gritava, me jogou água gelada várias vezes e me deu dois tapas nas costas<br />

com a mão aberta...fiquei tremendo e sentindo dores, muitas dores por todo<br />

o corpo. Penas arrepiadas e desesperado! Achei que iria morrer naquela<br />

hora, vendo tamanha fúria naquele humano.<br />

Fui colocado em uma gaiola e deixado do lado de fora do barco. A<br />

noite estava fria e por isso fiquei bem encolhido para tentar me aquecer<br />

enquanto a água ia secando. No meio da madrugada senti um vento muito<br />

forte vindo das águas e eu ainda não estava todo seco, minhas patas geladas<br />

e meu estômago vazio. Eu não sabia se me preocupava com as dores ou<br />

com o papo sem alimento algum. A Sophia estava dentro do quarto.<br />

Olhando na imensidão das águas procurava respostas para a minha<br />

vida, pensava no meu destino, nas coisas que vinham acontecendo comigo.<br />

As estrelas no céu pareciam tão distantes! Muito mais distantes que as<br />

estrelas que eu avistava todas as noites lá na floresta.<br />

Pela manhã eu estava encolhido, estava me sentindo muito triste com<br />

o que tinha acontecido! Na gaiola ninguém havia colocado comida e eu<br />

olhava pelos cantos para ver se havia alguma coisa para comer, algum<br />

farelo pelo menos. Então passou um casal e estavam comendo bolachas,<br />

eles colocaram duas bolachas na minha gaiola e foi só isso que comi nesse<br />

dia. Nem água o Cristóvão colocou. Quando ele passou por mim para<br />

entrar no quarto nem percebeu que eu estava ali. Fiquei com medo e me<br />

encolhi ao vê-lo sair de novo de dentro do quarto.<br />

Depois disso, todas as manhãs a Sophia ia até a gaiola onde eu estava<br />

para caçoar de mim.<br />

Ela estava muito mudada, assim como as pessoas! A alegria do<br />

segundo andar daquele barco tinha acabado e depois de alguns dias as<br />

pessoas me procuravam discretamente quando não havia ninguém por perto<br />

para ouvir piadas ou colocar alguma coisa de comer para mim, já que o<br />

Cristóvão não colocava. Só o Cristóvão ainda duvidava, se mantinha<br />

distante e era outra pessoa que vinha colocar ração e frutas para mim,<br />

sempre outra pessoa. Eu não podia mais sair da gaiola e quando alguém<br />

chegava perto de mim Sophia ficava com raiva. Era ignorada novamente<br />

por todos e vista apenas como a ex-namorada do papagaio.<br />

Numa noite ela apareceu e disse:<br />

- Vamos Petrúcio! O barco está afundando e todos estão dormindo.<br />

Não consigo chegar até a sala do capitão, me ajude a tocar o alarme.<br />

- Mas como eu vou sair daqui? Currupaco?<br />

- Deixa que eu abra a porta.<br />

Ela abriu a portinhola da gaiola com o bico demonstrando muita<br />

facilidade em abri-la, coisa que eu não havia tentado antes.<br />

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