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AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ALBUMINACREATININA URINÁRIA PARA DETECÇÃO PRECOCE DE PROBLEMAS RENAIS EM PACIENTES PORTADORES DE DIABETES MELLITUS

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1<br />

<strong>AVALIAÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>RELAÇÃO</strong> ALBUMINA/CREATININA <strong>URINÁRIA</strong> <strong>PARA</strong> <strong><strong>DE</strong>TECÇÃO</strong><br />

<strong>PRECOCE</strong> <strong>DE</strong> <strong>PROBL<strong>EM</strong>AS</strong> <strong>RENAIS</strong> <strong>EM</strong> <strong>PACIENTES</strong> <strong>PORTADORES</strong> <strong>DE</strong> <strong>DIABETES</strong><br />

<strong>MELLITUS</strong><br />

Leila Vaz de Alcantara 1 e Daniela Delwing de Lima 2*<br />

1<br />

Departamento de Farmácia, Universidade da Região de Joinville– UNIVILLE,<br />

Rua Paulo Malschitzki, 10 - Zona Industrial Norte, CEP 89201-972, Joinville, SC, Brasil.<br />

2<br />

Departamento de Medicina, Universidade da Região de Joinville– UNIVILLE,<br />

Rua Paulo Malschitzki, 10 - Zona Industrial Norte, CEP 89201-972, Joinville, SC, Brasil.<br />

* Endereço para correspondência: Dra. Daniela Delwing de Lima, Departamento de Medicina,<br />

Universidade da Região de Joinville, Rua Paulo Malschitzki, 10 - Zona Industrial Norte, CEP 89201-<br />

972, Joinville, SC, Brasil. Telefone 55 47 3461 9091, E-mail: daniela.delwing@univille.br


2<br />

Resumo<br />

Objetivo: Substituir o teste de excreção urinária de albumina/24h pela relação albumina/creatinina<br />

(RAC) em amostra isolada de urina. Materiais e Métodos: Neste estudo foram analisadas amostras<br />

de urina de 24 horas e isolada de 94 pacientes (46 amostras controle e 48 amostras de diabéticos). A<br />

determinação da microalbumina, tanto na amostra de 24 horas quanto na isolada foi realizada por<br />

turbidimetria, a creatinina urinária foi dosada através da reação de Jaffé e o equipamento utilizado foi<br />

o Cobas Mira - Roche. A análise da regressão foi utilizada para avaliar a correlação entre os resultados<br />

obtidos, bem como a curva ROC. Os valores de referência considerados para este estudo foram<br />

normoalbuminúria (EUA 30 mg/24h e RAC 30 mg/g creatinina), microalbuminúria (EUA entre<br />

30 e 300 mg/24h e RAC entre 30 e 300 mg/g creatinina) e macroalbuminúria (EUA > 300 mg/24h e<br />

RAC > 300 mg/g creatinina). Resultados: Os resultados mostraram que das amostras controle<br />

analisadas 12 apresentaram microalbuminúria em EUA e 11 amostras em RAC, entre os diabéticos<br />

28 apresentaram microalbuminúria em EUA e 27 em RAC. Os testes apresentaram uma correlação<br />

de Pearson significativa (r = 0,903). O estudo demonstrou sensibilidade de 90,0%, especificidade de<br />

98,1%, valor preditivo positivo de 97,2% e valor preditivo negativo de 92,9%. Conclusão: De acordo<br />

com os resultados, sugere-se a possibilidade de substituir a dosagem de microalbumina em urina de<br />

24 horas pela relação albumina/creatinina em amostra isolada, porém estudos multicêntricos com um<br />

maior número de amostras devem ser realizados.<br />

Palavras-chave: Microalbuminúria, diabetes, relação albumina/creatinina em amostra isolada,<br />

excreção urinária de albumina/24h.


3<br />

Abstract<br />

Objective: Replace the test of urinary albumin excretion / 24h for the albumin / creatinine ratio<br />

(ACR) in isolated urine sample. Materials and Methods: For this study, we analyzed 24-hour urine<br />

samples and isolated from 94 patients (46 control samples and 48 samples of diabetics). The<br />

determination of microalbumin in both the 24-hour sample as isolated sample was conducted by<br />

turbidimetry, urinary creatinine was measured by Jaffé reaction and the equipment used was the<br />

Cobas Mira - Roche. Regression analysis was used to assess the correlation between the results<br />

obtained as well as the ROC curve. The reference values considered for this study were<br />

normoalbuminuria (UAE 30 mg/24h and ACR 30 mg / g creatinine), microalbuminuria (UAE<br />

between 30 and 300 mg/24 h and ACR between 30 and 300 mg / g creatinine) and macroalbuminuria<br />

(UAE > 300 mg/24 h and ACR> 300 mg / g creatinine). Results: The results showed that of the<br />

control sample 12 had microalbuminuria analyzed in UAE and 11 samples from ACR among diabetic<br />

subjects showed microalbuminuria 28 in UAE and 27 in ACR. The tests showed a significant<br />

Pearson’s correlation (r = 0.903). The study showed a sensitivity of 90.0%, specificity 98.1%, positive<br />

predictive value 97.2% and negative predictive value of 92.9%. Conclusion: According to the results<br />

suggest the possibility of replacing the dosage microalbumin in urine 24 hours the albumin / creatinine<br />

ratio in the isolated sample, but multicenter studies with a larger number of samples must be<br />

performed.<br />

Keywords: Microalbuminuria, diabetes, albumin/creatinine ratio in isolated urine sample, urinary<br />

albumin excretion / 24h.


4<br />

INTRODUÇÃO<br />

Doença Renal Crônica<br />

A função renal é considerada bastante complexa, uma vez que este órgão desempenha um papel<br />

importante no equilíbrio eletrolítico, na excreção de produtos metabólicos, bem como no equilíbrio<br />

hormonal (1). A função de formação da urina pode ser considerada vital ao ser humano, uma vez que<br />

é por esta via que o organismo excreta de forma eficiente as substâncias ou fatores catabólicos não<br />

voláteis que alteram de alguma forma a homeostasia do corpo humano (1). O rim não é o único<br />

responsável pelo equilíbrio vital, porém, a perda da sua função irá interferir diretamente na<br />

homeostase do meio interno (2).<br />

A Doença Renal Crônica (DRC) vem surgindo hoje, em todo o mundo, como sério problema<br />

de saúde pública, devido ao aumento do número de indivíduos portadores desta doença e pelas<br />

complicações que acometem os mesmos (3). No Brasil, um estudo realizado em 2009, revelou que<br />

havia 77.589 indivíduos em diálise e que a prevalência e incidência de DRC em estágio terminal eram<br />

de 405 e 144 casos por milhão de população, respectivamente (4). Infelizmente, hoje não se conhece<br />

o número de indivíduos brasileiros em fase inicial da DRC (3,4).<br />

Em 2002 a National Kidney Foundation (NKF) através da Kidney Disease Outcome Quality<br />

Initiative (KDOQI) publicou uma diretriz sobre DRC. Esta diretriz foi aceita mundialmente, e<br />

compreende a avaliação, classificação e estratificação de riscos para o desenvolvimento de DRC (4).<br />

A definição de DRC é baseada em três componentes: 1 - componente estrutural (marcadores de dano<br />

renal); 2 - componente funcional (taxa de filtração glomerular - TFG); 3 - componente temporal. Com<br />

base nessa definição, seria portador de DRC, qualquer indivíduo que apresente uma TFG < 60<br />

mL/min/1,73m 2 ou uma TFG > 60 mL/min/1,73m 2 associado a pelo menos um marcador de dano<br />

renal (por exemplo, microalbuminúria) presente a pelo menos 3 meses (2).<br />

A NKF também apresentou uma classificação dos estágios de DRC baseado nos três<br />

componentes descritos acima. Esta classificação está demonstrada na Tabela 1.<br />

Diabetes Mellitus<br />

O Diabetes Mellitus inclui um conjunto de transtornos metabólicos de diferentes etiologias,<br />

caracterizado por hiperglicemia crônica resultante da redução da sensibilidade dos tecidos à ação da<br />

insulina ou da secreção deficiente de insulina (5). O diabetes constitui um dos mais importantes<br />

problemas de saúde pública no mundo atual e impõe uma importante e crescente sobrecarga ao<br />

sistema de saúde. O aumento do número de pessoas convivendo com o diabetes em todo o mundo<br />

ocorre devido ao crescimento da doença, ao envelhecimento da população, à maior urbanização e à<br />

crescente prevalência da obesidade e do sedentarismo, assim como à maior sobrevida dos diabéticos


5<br />

(6, 7). Segundo GROSS (6) e FERNAN<strong>DE</strong>S (8) cerca de 8% da população brasileira de 30 a 69 anos<br />

é portador de algum tipo de diabetes, porém 50% destes pacientes não foram diagnosticados e outros<br />

24%, mesmo tendo sido diagnosticados não realizam qualquer tipo de tratamento.<br />

Portadores de episódios hiperglicêmicos, quando não tratados, desenvolvem cetoacidose ou<br />

coma hiperosmolar. Com a progressão da doença, aumenta o risco de complicações crônicas como<br />

retinopatia, macroangiopatia, nefropatia e neuropatia. Os principais responsáveis pela morbidade e<br />

mortalidade destes pacientes são as complicações crônicas advindas do tratamento incorreto ou da<br />

ausência de tratamento destes diabéticos. Dentre as principais complicações encontram-se a<br />

hipertensão arterial e a Nefropatia Diabética (ND) (6).<br />

A ND é resultado de um conjunto de fatores genéticos, ambientais, metabólicos e<br />

hemodinâmicos que, quando somados promovem o enfraquecimento da membrana basal glomerular<br />

e fibrose tubulointersticial, aumentando a eliminação de macromoléculas proteicas, sendo a albumina<br />

encontrada em maior quantidade (9).<br />

Diagnóstico Laboratorial Precoce de DRC<br />

Os testes laboratoriais realizados nos dias de hoje podem identificar danos renais de forma<br />

precoce, como no caso da dosagem de pequenas quantidades de albumina na urina<br />

(microalbuminúria) em amostra isolada ou em amostra de urina coletada em 24 horas. Outros exames<br />

laboratoriais utilizados são o clearence de creatinina, creatinina sérica, ureia sérica e proteinúria,<br />

possibilitando aos indivíduos realizar o controle destes danos (10).<br />

A dosagem de albumina em amostra de urina 24 horas é utilizada amplamente para identificar<br />

danos renais precocemente em indivíduos portadores de Diabetes Mellitus e em indivíduos acima de<br />

45 anos. Para este segundo grupo o controle das microdoses de albumina é recomendado pelo<br />

Ministério da Saúde quando, mesmo não tendo Diabetes Mellitus, apresenta hipertensão arterial,<br />

obesidade, alta ingestão proteica, dislipidemia, tabagismo ou faz uso de anti-inflamatórios não<br />

esteroidais (3, 11).<br />

A microalbuminúria prediz evolução para insuficiência renal terminal em 80% dos diabéticos<br />

do tipo I e em 20% dos diabéticos do tipo II (10). Como a excreção urinária de albumina apresenta<br />

uma variação intraindividual de 40%, é recomendada a realização de múltiplos testes. De acordo com<br />

a literatura, três amostras positivas em um intervalo entre elas de pelo menos um mês e intervalo total<br />

de seis meses é considerado o resultado positivo. Entre os principais motivos da variação<br />

intraindividual estão a realização de atividade física prévia a coleta, infecção, febre, insuficiência<br />

cardíaca congestiva, gravidez, hipertensão grave, hematúria e leucocitúria (7). Além das variações<br />

intraindividuais existem as variações pré-analíticas que costumam interferir nos resultados, como


6<br />

erros na coleta da urina no período de 24 horas, má conservação do material e alimentação durante<br />

este período (8). Para descartar a maior parte dos erros, Fernandes (8), Abensur (12) e Bottini e<br />

colaboradores (13) sugerem a utilização da relação albumina/creatinina em amostra de urina isolada<br />

para substituir o resultado de microalbuminúria de 24 horas. Esta relação é realizada em uma coleta<br />

de amostra isolada, preferencialmente a primeira da manhã (12, 13, 14). Considerando que a<br />

determinação da microalbuminúria de 24 horas apresenta variações intraindividuais e pré-analíticas,<br />

o objetivo deste projeto foi verificar a possibilidade de substituir o teste de excreção urinária de<br />

albumina (EUA) – amostra de 24 horas pelo método da relação albumina/creatinina (RAC) – amostra<br />

isolada de urina para a detecção precoce de ND.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Para este experimento foram selecionadas amostras da rotina do Laboratório Santa Catarina SS<br />

Ltda localizado na Rua Marechal Deodoro, 413 – Centro de São Bento do Sul. Foram utilizadas<br />

amostras de pacientes diabéticos (48 amostras) e de pacientes não diabéticos (46 amostras), sendo<br />

que as análises foram realizadas no período de maio à julho de 2013, após aprovação do projeto pelo<br />

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Região de Joinville (Univille), sob o Parecer número<br />

266.554.<br />

Os pacientes/clientes ao entregar sua amostra para análise responderam a um questionário (onde<br />

era verificado se haviam desprezado a primeira micção do dia e se haviam coletado todas as micções<br />

durante o período de 24 horas) que foi utilizado juntamente com o volume urinário (volume inferior<br />

a 600 mL) e altas doses de albumina (macroalbuminúria) como meio de exclusão.<br />

Cada indivíduo entregou uma amostra de urina coletada isoladamente pela manhã e a urina<br />

coletada durante todo o período de 24 horas. Estas foram identificadas e processadas conforme<br />

descrito abaixo.<br />

As amostras de urina de 24 horas tiveram seu volume urinário medido e anotado. Uma alíquota<br />

de 10 mL foi transferida para um tubo e centrifugada por 5 minutos a 3.000 rpm. Esta centrifugação<br />

é necessária para que cristais que por ventura estejam em suspenção na amostra sejam precipitados<br />

evitando que a probe do aparelho seja obstruída. Desta amostra realizou-se o teste de excreção urinária<br />

de albumina (EUA)/24horas conforme orientações do fabricante do teste.<br />

Das amostras de urina isolada, também transferiu-se uma alíquota de 10 mL para um tubo, que<br />

foi centrifugado por 5 minutos a 3.000 rpm. Desta amostra, realizou-se o teste de excreção urinária<br />

de albumina (microalbuminúria) em amostra isolada e de creatinina urinária conforme orientações<br />

dos fabricantes dos testes. Após a análise fez-se a relação albumina/creatinina (RAC).


7<br />

Para os testes de excreção urinária de albumina (microalbuminúria) de urina 24 horas e de<br />

amostra isolada, foi utilizado o kit de Microalbuminúria da Biotécnica, cuja quantificação da<br />

microalbuminúria é realizada por turbidimetria, e o aparelho Cobas Mira da Roche. O teste teve sua<br />

programação inserida na forma de bi-reagente, com curva de calibração realizada em duplicata e<br />

checada por controle fornecido pelo próprio fabricante.<br />

Já para o teste de creatinina urinária foi utilizado o kit de Creatinina Cinética da Laborclin que<br />

utiliza a reação de Jaffé e o aparelho Cobas Mira da Roche. Sua programação foi inserida na forma<br />

de mono-reagente, e sua curva de calibração realizada em duplicata com checagem por controle<br />

fornecido pelo Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ) da Sociedade Brasileira de<br />

Análises Clínicas (SBAC). As amostras foram diluídas manualmente 1:25 conforme orientação do<br />

próprio fabricante antes de ter sua creatinina dosada.<br />

De acordo com as metodologias utilizadas, como critérios de aferição e diagnóstico, utilizouse<br />

os valores citados abaixo (15).<br />

Excreção urinária de albumina (EUA) – amostra de 24 horas<br />

• Normoalbuminúria: < 30mg/24h<br />

• Microalbuminúria: ≥ 30mg/24h e


8<br />

amostras por apresentarem resultado de macroalbuminúria (EUA ≥ 300 mg/24h), uma vez que o<br />

estudo não tem o objetivo de avaliar macroalbuminúria.<br />

Inicialmente na Tabela 2 são apresentadas as características gerais das amostras utilizadas neste<br />

trabalho, na qual foram estudados 36 indivíduos do sexo masculino e 58 indivíduos do sexo feminino.<br />

A idade média dos indivíduos foi de 56,7 anos com um DP de 15,2. Destes, 46 foram classificados<br />

como não diabéticos e 48 como diabéticos. Quanto à análise da função renal pelo método de EUA<br />

(microalbuminúria/24h) 54 indivíduos apresentaram normoalbuminúria e 40 indivíduos<br />

microalbuminúria e pela análise da função renal pelo método RAC (relação albumina/creatinina –<br />

amostra isolada) 57 indivíduos apresentaram normoalbuminúria e 37 indivíduos microalbuminúria.<br />

Após a realização dos testes, conforme as tabelas 3 e 4, fez-se a separação dos resultados por<br />

sexo e os mesmos foram classificados em normoalbuminúria (EUA 30mg/24h e RAC 30mg/g<br />

creatinina) e microalbuminúria (EUA entre 30 e 300 mg/24h e RAC entre 30 e 300 mg/g creatinina).<br />

De acordo com a tabela 3, a qual avalia os resultados da comparação dos exames para o sexo<br />

masculino, dos indivíduos controle (não diabéticos), 14 apresentaram normoalbuminúria e 2<br />

microalbuminúria tanto pelo método de excreção urinária da albumina (EUA)/24horas quanto pelo<br />

método da relação albumina/creatinina (RAC) em amostra isolada. Em relação aos indivíduos<br />

diabéticos, 6 apresentaram normoalbuminúria e 14 microalbuminúria pelo método de excreção<br />

urinária da albumina (EUA)/24horas; 9 normoalbuminúria e 14 microalbuminúria pelo método da<br />

relação albumina/creatinina (RAC) em amostra isolada. Com relação aos resultados da tabela 4, a<br />

qual avalia os resultados da comparação dos exames para o sexo feminino, dos indivíduos controle<br />

(não diabéticos), 20 apresentaram normoalbuminúria e 10 microalbuminúria pelo método de excreção<br />

urinária da albumina (EUA)/24horas; 21 normoalbuminúria e 9 microalbuminúria pelo método de<br />

relação albumina/creatinina (RAC) em amostra isolada. Considerando os indivíduos diabéticos, 14<br />

apresentaram normoalbuminúria e 14 microalbuminúria nos dois métodos avaliados.<br />

Posteriormente foi realizado o Gráfico 1, o qual demonstra a prevalência de indivíduos com<br />

microalbuminúria, de acordo com os métodos estudados, presentes no grupo de diabéticos e no grupo<br />

controle.<br />

Com o objetivo de correlacionar os resultados, foi realizada a correlação linear de Pearson<br />

entre os dois testes, onde podemos observar que o valor de r encontrado foi de 0,903, conforme<br />

demonstrado no Gráfico 2. Este valor indica uma forte correlação entre as metodologias utilizadas no<br />

estudo. Em testes comparativos como este aceita-se uma correlação (r) superior a 0,75.<br />

De acordo com a curva ROC, podemos observar uma especificidade de 98,1%, uma<br />

sensibilidade de 90,0%, conforme mostra o gráfico 3 e a Tabela 5, o que sugere que a relação


9<br />

albumina/creatinina em amostra isolada como preditora de microalbuminúria se correlaciona com o<br />

método da excreção urinária da albumina (EUA)/24horas quanto a análise de microalbuminúria.<br />

DISCUSSÃO<br />

Uma das maiores preocupações em um laboratório clínico é o erro pré-analítico, pois este foge<br />

do controle interno do mesmo. O laboratório e o médico precisam confiar que o paciente entendeu<br />

corretamente as instruções de coleta, e realizou a coleta em seu domicílio de acordo com a forma<br />

orientada (16). Shaw e colaboradores (17) demonstraram em seus estudos que 15 a 30 % das amostras<br />

de urina 24 horas necessitavam ser desprezadas devido a erros na coleta.<br />

Além do erro pré-analítico, diversos fatores podem contribuir para a variabilidade<br />

intraindividual da excreção de albumina, tais como infecções do trato urinário, realização de atividade<br />

física, dietas hiperproteicas, gravidez e a falta de controle metabólico de indivíduos diabéticos e/ou<br />

hipertensos (18). De acordo com Bottini e colaboradores (13) e Corrêa e colaboradores (19) a<br />

variabilidade intraindividual pode chegar a 40% no nível de excreção urinária de albumina. Para<br />

alguns autores a melhor avaliação é obtida quando a determinação é feita na primeira urina da manhã,<br />

evitando-se as variações diurnas que ocorrem com a atividade física (13; 15).<br />

Devido aos erros pré-analíticos, recentemente, diversos estudos estão surgindo, com o intuito<br />

de se encontrar uma alternativa laboratorial que possa, de algum modo, reduzir drasticamente os erros<br />

pré-analíticos da dosagem de microalbuminúria em amostra de urina 24 horas (20). Diversos autores<br />

têm demonstrado a viabilidade da substituição da dosagem de microalbuminúria em urina de 24 horas<br />

por uma relação microalbumina/creatinina em amostra isolada (17, 20). Autores como Zanella (15),<br />

Arora (16) e Biesenbach (20) têm referenciado a relação microalbumina/creatinina em amostra<br />

isolada como um teste viável para diagnóstico precoce de DRC em diabéticos e hipertensos.<br />

De acordo com a correlação linear de Pearson utilizada neste trabalho, podemos observar que<br />

há uma correlação significativa entre o teste de microalbuminúria realizado em amostra de urina 24<br />

horas e o teste de relação albumina/creatinina realizado em amostra isolada, onde obteve-se um r =<br />

0,903, valor muito próximo ao encontrado em estudos realizados por Bottini e colaboradores (13) que<br />

utilizaram uma amostragem semelhante a deste estudo.<br />

Os valores de especificidade (98,1%) e sensibilidade (90,0%), bem como os valores preditivo<br />

positivo (97,2%) e negativo (92,8%) observados na curva ROC são semelhantes aos encontrados em<br />

estudos realizados por Bottini e colegas (2005) (13) e por Derhaschning e colegas (2002) (21),<br />

sugerindo novamente a possível substituição de metodologias para a detecção precoce de ND.


10<br />

Embora o teste de microalbuminúria em urina de 24 horas ainda seja utilizado amplamente,<br />

podemos observar diversos esforços por parte de pesquisadores com a intenção de substituir a<br />

metodologia, a fim de se obter um controle mais eficaz no laboratório e por parte do próprio médico<br />

sobre os resultados obtidos, uma vez que os erros pré-analíticos, segundo Vale (no prelo) (18)<br />

interferem em aproximadamente 7,5% dos resultados obtidos em teste com amostra isolada, que<br />

podemos afirmar ser inferior aos erros com amostra de urina 24 horas.<br />

CONCLUSÃO<br />

Nossos achados indicam que é possível substituir a avaliação da excreção urinária de albumina<br />

(EUA)-24h pela relação albumina-creatinina (RAC) de amostra isolada sem perda expressiva de<br />

acuidade no diagnóstico de problemas renais.<br />

Porém, um estudo multicêntrico, com um número maior de pacientes, poderá nos mostrar<br />

resultados mais precisos quanto a esta substituição.<br />

Agradecimentos<br />

Nosso agradecimento ao Laboratório Santa Catarina SS Ltda., no nome de seus diretores<br />

Alyrio Liberato de Alcantara e Elizabeth Vaz de Alcantara, por cederem suas instalações e<br />

equipamentos, bem como as amostras, para que este estudo fosse realizado.<br />

Conflito de interesse<br />

Os autores declaram que não possuem conflitos de interesse.


11<br />

REFERÊNCIAS<br />

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13<br />

Tabela 1 – National Kidney Foundation: Estadiamento da Doença Renal Crônica e sua Prevalência<br />

Estágio Descrição TFG<br />

(mL/min/1,73m 2 )<br />

Proteinúria Prevalência<br />

(%)<br />

- Com risco aumentado ≥60 (com fatores<br />

de risco para<br />

DRC)<br />

Ausente -<br />

1 Lesão renal com TFG normal<br />

ou aumentada<br />

>90 Presente 3,3<br />

2 Lesão renal com diminuição<br />

significativa da TFG<br />

60-89 Presente 3,0<br />

3A TFG moderadamente<br />

45-59<br />

diminuída<br />

3B TFG diminuída 30-44<br />

Presente ou ausente 4,3<br />

4 TFG gravemente diminuída 15-29 Presente ou ausente 0,2<br />

5 Insuficiência Renal


14<br />

Tabela 2: Características Gerais da Amostra<br />

Sexo<br />

Idade<br />

Frequência absoluta e<br />

relativa (%)<br />

Masculino 36 (38,3%)<br />

Feminino 58 (61,7%)<br />

Média aritmética e desvio<br />

padrão (DP)<br />

56,7 (DP=15,2)<br />

Diagnóstico de diabetes<br />

Não diabético 46 (48,9)<br />

Diabético 48 (51,1%)<br />

Função renal (EUA)<br />

Normoalbuminúria 54 (57,4%)<br />

Microalbuminúria 40 (42,6%)<br />

Função renal (RAC)<br />

Normoalbuminúria 57 (60,6%)<br />

Microalbuminúria 37 (39,4%)


15<br />

Tabela 3: Resultados da comparação dos exames para o sexo masculino<br />

Excreção Urinária da<br />

Albumina (EUA)/24horas<br />

Relação Albumina/Creatinina<br />

(RAC) em amostra isolada<br />

Controle Normoalbuminúria 14 Normoalbuminúria 14<br />

Microalbuminúria 2 Microalbuminúria 2<br />

Diabéticos Normoalbuminúria 6 Normoalbuminúria 9<br />

Microalbuminúria 14 Microalbuminúria 14


16<br />

Tabela 4: Resultados da comparação dos exames para o sexo feminino<br />

Excreção Urinária da<br />

Albumina (EUA)/24horas<br />

Relação Albumina/Creatinina<br />

(RAC) em amostra isolada<br />

Controle Normoalbuminúria 20 Normoalbuminúria 21<br />

Microalbuminúria 10 Microalbuminúria 9<br />

Diabéticos Normoalbuminúria 14 Normoalbuminúria 14<br />

Microalbuminúria 14 Microalbuminúria 14


Nº de indivíduos<br />

17<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Não Diabéticos<br />

Diabéticos<br />

EUA alterada<br />

RAC Alterada<br />

Gráfico 1 – Comparação entre testes de função renal, quanto ao diagnóstico de<br />

microalbuminúria


Relação albumina/creatinina (amostra isolada)<br />

18<br />

250,00<br />

200,00<br />

r = 0,903<br />

R² = 0,814<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

y= 0,9833x + 2,1366<br />

0,00<br />

0 50 100 150 200 250<br />

Excreção urinária de albumina (amostra de 24 horas)<br />

Gráfico 2 – Correlação linear entre excreção urinária de albumina (EUA) e relação albuminacreatinina<br />

(RAC)


19<br />

Gráfico 3 –Avaliação da relação albumina/creatinina na predição de microalbuminúria –<br />

Curva ROC


20<br />

Tabela 5 – Avaliação da acuidade da relação albumina/creatinina como preditora de<br />

microalbuminúria<br />

EUA ≥ 30 mg/24h EUA < 30 mg/24h<br />

TOTAL<br />

RAC ≥ 30 mg/g creatinina 36 1 37<br />

RAC < 30 mg/g creatinina 4 53 57<br />

TOTAL 40 54 94<br />

EUA: Excreção urinária de albumina (amostra de 24 horas); RAC: Relação albumina-creatinina<br />

(amostra isolada); Sensibilidade = 90,0%, Especificidade = 98,1%; Valor preditivo positivo<br />

(VPP)=97,2%; Valor preditivo negativo (VPN)=92,9%.

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