Especial microbiologia Pt. 1

newslab.redacao
from newslab.redacao More from this publisher
01.04.2019 Views

Protocolos de Microbiologia Clínica Coprocultura Parte 1 - Salmonella e Shigella • Carlos Henrique Pessôa de Menezes e Silva Doutor em Microbiologia Microbiologista do Centro Tecnológico de Análises (CETAN), Vila Velha-ES Consultor em Microbiologia do Laboratório Landsteiner, Vitória-ES : carloshenrique@cetan.com.br A convite da Revista Newslab, preparamos uma série denominada “Protocolos de Microbiologia Clínica”, abordando os principais temas de interesse àqueles que militam na área, objetivando a educação continuada, o aprimoramento científico e a aplicabilidade imediata das diretrizes sugeridas para que os setores de Microbiologia Clínica dos laboratórios brasileiros possam realizar seus exames com acurácia e qualidade. Proporcionaremos, ainda, uma visão crítica, com sugestões construtivas, para a melhoria da qualidade neste setor, tanto para aqueles que já possuem um setor ativo, mas que desejam incrementá-lo com informações precisas e coesas, quanto para os laboratórios de pequeno porte, os quais terão a oportunidade de implementar rotinas de fácil execução com toda informação científica necessária. Inicialmente, abordaremos o tema Coprocultura, dividido em duas partes para melhor interpretação. Bimestralmente, a Revista Newslab trará novos protocolos, a saber: Urocultura, Microbiologia dos Líquidos Corporais Estéreis, Microbiologia das Secreções, Microbiologia do Sistema Genital Humano e Micologia Clínica. Introdução As doenças diarréicas continuam sendo uma freqüente causa de morte ainda nos dias atuais, especialmente em países em desenvolvimento. A incidência anual e o perfil etiológico das diarréias em diferentes populações podem variar de acordo com os diversos fatores de risco, tais como a idade muito jovem, deficiências nutricionais, higiene inadequada de alimentos e do próprio corpo, ausência de cuidados sanitários básicos, acesso a suprimentos de água contaminados e até mesmo o verão, estação do ano que sempre registra o maior número de casos de internações devido às diarréias. Nos países industrializados, a freqüência de casos de diarréia por criança é de somente 0,5 a 2 episódios/criança/ano, enquanto que em países em desenvolvimento este número pode alcançar facilmente os 10 episódios/ criança/ano. Nos países industrializados as diarréias por rotavírus predominam, enquanto que nos países em desenvolvimento as bactérias são comumente encontradas nos casos de diarréia (18). Quadro 1. Agentes etiológicos mais relacionados com as diarréias infecciosas Bactérias Vírus Protozoários Vibrio cholerae e outros vibriões, Shigella spp., Salmonella spp. (não tifóide), E. coli (enterotoxigênica, enteropatogênica clássica, enteroinvasora, enterohemorrágica, enteroagregativa), Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolitica, Clostridium difficile, Bacteroides fragilis (enterotoxigênico) Rotavírus, Adenovírus entérico, Calicivírus, Astrovírus Os agentes etiológicos envolvidos nas diarréias infecciosas incluem muitas espécies de bactérias, vírus e protozoários, todos possuindo grande número de sorogrupos e biotipos e sendo também Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Cyclospora 58 NewsLab - edição 86 - 2008

Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

Coprocultura<br />

Parte 1 - Salmonella e Shigella<br />

• Carlos Henrique Pessôa<br />

de Menezes e Silva<br />

Doutor em Microbiologia<br />

Microbiologista do Centro<br />

Tecnológico de Análises<br />

(CETAN), Vila Velha-ES<br />

Consultor em Microbiologia do<br />

Laboratório Landsteiner, Vitória-ES<br />

: carloshenrique@cetan.com.br<br />

A<br />

convite da Revista Newslab, preparamos uma série denominada “Protocolos de Microbiologia Clínica”,<br />

abordando os principais temas de interesse àqueles que militam na área, objetivando a educação continuada,<br />

o aprimoramento científico e a aplicabilidade imediata das diretrizes sugeridas para que os setores<br />

de Microbiologia Clínica dos laboratórios brasileiros possam realizar seus exames com acurácia e qualidade.<br />

Proporcionaremos, ainda, uma visão crítica, com sugestões construtivas, para a melhoria da qualidade neste setor,<br />

tanto para aqueles que já possuem um setor ativo, mas que desejam incrementá-lo com informações precisas e<br />

coesas, quanto para os laboratórios de pequeno porte, os quais terão a oportunidade de implementar rotinas de<br />

fácil execução com toda informação científica necessária. Inicialmente, abordaremos o tema Coprocultura, dividido<br />

em duas partes para melhor interpretação. Bimestralmente, a Revista Newslab trará novos protocolos, a saber:<br />

Urocultura, Microbiologia dos Líquidos Corporais Estéreis, Microbiologia das Secreções, Microbiologia do Sistema<br />

Genital Humano e Micologia Clínica.<br />

Introdução<br />

As doenças diarréicas continuam<br />

sendo uma freqüente causa de morte<br />

ainda nos dias atuais, especialmente em<br />

países em desenvolvimento. A incidência<br />

anual e o perfil etiológico das diarréias em<br />

diferentes populações podem variar de<br />

acordo com os diversos fatores de risco,<br />

tais como a idade muito jovem, deficiências<br />

nutricionais, higiene inadequada de<br />

alimentos e do próprio corpo, ausência<br />

de cuidados sanitários básicos, acesso a<br />

suprimentos de água contaminados e até<br />

mesmo o verão, estação do ano que sempre<br />

registra o maior número de casos de<br />

internações devido às diarréias. Nos países<br />

industrializados, a freqüência de casos de<br />

diarréia por criança é de somente 0,5 a 2<br />

episódios/criança/ano, enquanto que em<br />

países em desenvolvimento este número<br />

pode alcançar facilmente os 10 episódios/<br />

criança/ano. Nos países industrializados<br />

as diarréias por rotavírus predominam,<br />

enquanto que nos países em desenvolvimento<br />

as bactérias são comumente encontradas<br />

nos casos de diarréia (18).<br />

Quadro 1. Agentes etiológicos mais relacionados com as diarréias infecciosas<br />

Bactérias Vírus Protozoários<br />

Vibrio cholerae e outros<br />

vibriões, Shigella spp., Salmonella<br />

spp. (não tifóide),<br />

E. coli (enterotoxigênica,<br />

enteropatogênica clássica,<br />

enteroinvasora, enterohemorrágica,<br />

enteroagregativa),<br />

Campylobacter jejuni,<br />

Yersinia enterocolitica,<br />

Clostridium difficile, Bacteroides<br />

fragilis (enterotoxigênico)<br />

Rotavírus, Adenovírus entérico,<br />

Calicivírus, Astrovírus<br />

Os agentes etiológicos envolvidos<br />

nas diarréias infecciosas incluem muitas<br />

espécies de bactérias, vírus e protozoários,<br />

todos possuindo grande número de<br />

sorogrupos e biotipos e sendo também<br />

Entamoeba histolytica,<br />

Giardia lamblia, Cryptosporidium,<br />

Cyclospora<br />

58<br />

NewsLab - edição 86 - 2008


Quadro 2. Características gerais de alguns microrganismos envolvidos em diarréias<br />

Microrganismos<br />

Fonte de Contaminação ou<br />

Condição Predisponente<br />

N o de Células que Levam à<br />

Infecção<br />

Período de Incubação<br />

Aeromonas spp. Água Desconhecido Desconhecido<br />

Bacillus cereus Carnes, vegetais Toxina 6-24 horas<br />

Campylobacter jejuni Água, leite, carnes Desconhecido 3-11 dias<br />

Clostridium difficile Terapia antimicrobiana Desconhecido 4-9 dias<br />

Clostridium perfringens Carnes 10 9 – 10 10 8-16 horas<br />

ETEC Alimentos, água 10 6 – 10 8 4-24 horas<br />

EIEC Alimentos 10 6 – 10 8 8-24 horas<br />

EHEC Carnes, leite Desconhecido 3-5 dias<br />

Plesiomonas shigelloides Água, pescados Desconhecido 1-2 dias<br />

Salmonella spp. Alimentos em geral 10 2 – 10 8 8-72 horas<br />

Shigella dysenteriae Água 10-200 3-5 dias<br />

Outras Shigella Água, alimentos 10-200 8-72 horas<br />

Staphylococcus aureus Carnes, laticínios Toxina 1-6 horas<br />

Vibrio cholerae Água, pescados 10 8 1-5 dias<br />

Vibrio parahaemolyticus Pescados 10 6 - 10 8 15-24 horas<br />

Yersinia enterocolitica Água, alimentos Desconhecido 16-48 horas<br />

todos transmitidos pela via fecal-oral.<br />

Pelo fato da grande diversidade de<br />

microrganismos que podem estar envolvidos,<br />

é virtualmente impossível para<br />

qualquer laboratório clínico realizar um<br />

completo exame de fezes diarréicas. Portanto,<br />

os patógenos mais freqüentes são<br />

investigados, dependendo da localização<br />

geográfica e da estação do ano (13).<br />

Shigella<br />

O homem é o reservatório natural e as<br />

infecções ocorrem via fecal-oral através<br />

da ingestão de 20 a 200 células viáveis<br />

em alimentos e água contaminados. Na<br />

shigelose, corre uma invasão e destruição<br />

da camada epitelial da mucosa com intensa<br />

reação inflamatória, gerando leucócitos,<br />

muco e sangue nas fezes. Deve-se<br />

suspeitar de espécies de Shigella quando<br />

observamos colônias lactose-negativas,<br />

bioquimicamente inertes em muitas<br />

provas bioquímicas de identificação. Elas<br />

tipicamente não produzem gás a partir<br />

de carboidratos, com exceção de alguns<br />

biogrupos de S. flexneri que são aerogênicos.<br />

Raras cepas de S. sonnei podem<br />

Quadro 3. Subgrupos, sorotipos e subtipos de Shigella<br />

Subgrupo<br />

Grupo A: Shigella dysenteriae<br />

Grupo B: Shigella flexneri<br />

Grupo C: Shigella boydii<br />

Grupo D: Shigella sonnei<br />

fermentar tardiamente a lactose (2%) e<br />

a sacarose (1%) e a maioria das cepas<br />

desta espécie descarboxila a ornitina,<br />

característica não observada em outras<br />

espécies de Shigella.<br />

Há quatro subgrupos principais e 43<br />

sorotipos reconhecidos de Shigella (Quadro<br />

3). A classificação do CDC combina<br />

S. dysenteriae (grupo A), S. flexneri (grupo<br />

B) e S. boydii (grupo C) como “Shigella<br />

sorogrupos A, B e C” por conta de suas similaridades<br />

bioquímicas. A presença de<br />

ornitina-descarboxilase e a atividade de<br />

beta-galactosidase fazem com que as cepas<br />

de S. sonnei sejam bioquimicamente<br />

distintas de outras espécies de Shigella. A<br />

incapacidade de fermentar o manitol distingue<br />

a S. dysenteriae. Todos os isolados<br />

clínicos identificados bioquimicamente<br />

Sorotipos e Subtipos<br />

15 sorotipos (o tipo 1 produz a shiga toxina)<br />

Oito sorotipos e nove subtipos<br />

19 sorotipos<br />

Um sorotipo<br />

como Shigella devem ser confirmados<br />

por testes sorológicos (13).<br />

Salmonella<br />

Salmonelas patogênicas ingeridas<br />

com água ou alimentos contaminados<br />

sobrevivem à passagem pela barreira ácida<br />

do estômago e invadem as células da<br />

mucosa dos intestinos delgado e grosso<br />

e liberam toxinas. A invasão das células<br />

epiteliais intestinais estimula a liberação<br />

de citocinas que induzem uma resposta<br />

inflamatória aguda. A reação inflamatória<br />

na mucosa intestinal induz diarréia e<br />

pode levar à ulceração e destruição da<br />

mucosa intestinal. Da mucosa, a bactéria<br />

pode disseminar-se para órgãos internos<br />

causando doença sistêmica. As salmonelas<br />

possuem antígenos somáticos (O) que são<br />

NewsLab - edição 86 - 2008 59


Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

lipopolissacarídeos e antígenos flagelares<br />

(H) que são proteínas. S. typhi também possui<br />

um antígeno capsular ou de virulência<br />

(Vi). Bioquimicamente elas geralmente são<br />

lactose e sacarose-negativas.<br />

Desde a época do primeiro isolamento<br />

de Salmonella, reportado em 1884 por Gaffky<br />

(Bacterium typhosum) e em 1886 por<br />

Salmon e Smith (Salmonella choleraesuis),<br />

o desenvolvimento da nomenclatura para<br />

este gênero tem sido variado e complexo.<br />

O gênero Salmonella possui mais de 2.400<br />

sorotipos descritos no esquema atual de<br />

Kauffmann-White. Antes de 01 de julho<br />

de 1983, três espécies de Salmonella foram<br />

usadas para reportar os resultados positivos<br />

dos exames: S. choleraesuis, S. typhi e S.<br />

enteritidis (com a maioria dos sorotipos<br />

pertencendo a este último sorotipo).<br />

Atualmente, todas as antigas denominações<br />

das espécies e subgrupos de Salmonella<br />

e Arizona são consideradas como<br />

pertencentes à mesma espécie, mas podem<br />

ser separadas em sete grupos taxonômicos,<br />

representando seis subgrupos distintos. A<br />

única exceção é S. bongori, anteriormente<br />

conhecida como subgênero V, sendo uma<br />

espécie totalmente distinta através de<br />

estudos de homologia de DNA. Portanto,<br />

há duas espécies e seis subespécies de S.<br />

enterica no atual sistema de classificação<br />

do CDC (Quadro 4).<br />

Na prática do dia-a-dia, os isolados<br />

desconhecidos provenientes de espécimes<br />

clínicos que são sugestivos de pertenceram<br />

ao gênero Salmonella, devem ser<br />

confirmados por sorologia. Subcultivo<br />

dos isolados confirmados devem ser encaminhados<br />

para laboratórios de saúde<br />

pública, onde as designações de sorotipos<br />

(ex: Salmonella sorotipo Typhimurium)<br />

serão realizadas. Répteis, particularmente<br />

cobras, são o reservatório natural de S. enterica<br />

subespécie arizonae, mas o homem,<br />

aves e outros animais também podem ser<br />

infectados por esta bactéria. As infecções<br />

humanas podem ser originadas quando da<br />

manipulação de aves, répteis e produtos à<br />

base de ovos (13).<br />

Microscopia<br />

A análise microscópica direta do material<br />

fecal é muito útil, pois pode se ter<br />

uma noção do que será encontrado na coprocultura.<br />

A presença de numerosos leucócitos<br />

polimorfonucleares (PMN) sugere<br />

um processo inflamatório invasivo (Figura<br />

1) envolvendo o cólon (como a exemplo de<br />

infecções por Shigella ou Campylobacter).<br />

Colites ulcerativas e a colite associada à<br />

antibioticoterapia (relacionada ao C. difficile)<br />

estão quase sempre associadas a um<br />

exsudato fecal contendo leucócitos. No<br />

Quadro 4. Classificação das espécies e subespécies de Salmonella<br />

Quadro 5. Leucócitos PMN em infecções intestinais<br />

Salmonella enterica subespécie enterica (I): inclui a maioria dos sorotipos<br />

S. enterica subespécie salamae (II)<br />

S. enterica subespécie arizonae (IIIa)<br />

S. enterica subespécie diarizonae (IIIb)<br />

S. enterica subespécie houtenate (IV)<br />

S. enterica subespécie indica<br />

Salmonella bongori (antigamente denominada subespécie V)<br />

Presentes Variáveis Ausentes<br />

Shigella,<br />

Campylobacter,<br />

E.coli invasora (EIEC)<br />

Salmonella, Yersinia,<br />

Vibrio parahaemolyticus,<br />

Clostridium difficile<br />

Figura 1. Gram: Diarréia muco-sanguinolenta<br />

por Shigella (numerosas hemácias, leucócitos<br />

PMN e acentuada presença de bacilos Gramnegativos;<br />

microbiota intestinal normal<br />

praticamente inexistente).<br />

Vibrio cholerae, E.coli toxigênica<br />

(ETEC), E.coli enteropatogênica<br />

(EPEC), Staphylococcus aureus<br />

[toxina], Bacillus cereus [toxina]<br />

entanto, deve-se ter em mente que nem<br />

todos os processos diarréicos causados<br />

por bactérias irão produzir leucócitos nos<br />

espécimes fecais. Para a realização do exame,<br />

coloca-se uma pequena quantidade<br />

do material fecal em uma lâmina de vidro<br />

limpa e desengordurada, misturando uma<br />

gota de água destilada estéril (ou salina) e<br />

uma gota de azul de metileno sob lamínula.<br />

Observar ao microscópio com aumento<br />

de 400x (13).<br />

Isolamento<br />

Grande parte dos métodos de identificação<br />

no laboratório ainda é demorada e requer<br />

uma bateria de meios de cultura, apesar<br />

do constante progresso no desenvolvimento<br />

de novos métodos rápidos de diagnóstico.<br />

Assim, o período decorrido entre a entrada<br />

do material no laboratório de Microbiologia<br />

e a identificação e antibiograma dos agentes<br />

isolados pode demorar vários dias para uma<br />

completa análise (13).<br />

A qualidade dos insumos utilizados<br />

por muitos fabricantes é questionável e<br />

muitas vezes ruim, levando a um alto grau<br />

de inconsistência de resultados lote a lote<br />

de um mesmo meio de cultura (24). Portanto,<br />

deve-se dar preferência para meios de<br />

cultura de fabricantes idôneos, seja em pó<br />

ou em placas/tubos prontos para uso. Desconfie<br />

de meios muito baratos, oferecidos<br />

comumente no mercado. Geralmente são<br />

de baixa qualidade e colocarão em cheque<br />

a qualidade dos serviços microbiológicos<br />

ofertados pelo seu laboratório.<br />

A metodologia tradicional para a detecção<br />

de patógenos entéricos invariavelmente<br />

emprega a combinação de meios de cultura,<br />

geralmente um meio seletivo em placa e<br />

um caldo de pré-enriquecimento. A necessidade<br />

de mais de uma placa é defendida<br />

por alguns autores, motivados pelo conhecimento<br />

de que se um meio é altamente<br />

60<br />

NewsLab - edição 86 - 2008


Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

inibitório para alguns membros da família<br />

Enterobacteriaceae (isto é, os coliformes da<br />

microbiota normal intestinal), poderá haver<br />

uma concomitante perda de sensibilidade<br />

na detecção de patógenos verdadeiros, tais<br />

como a Shigella. Os meios de cultura para o<br />

isolamento de patógenos entéricos utilizados<br />

atualmente ou são muito inibitórios para Shigella<br />

ou não suficientemente inibitórios para<br />

a microbiota intestinal normal. Além disso, a<br />

diferenciação das colônias não é tão boa o<br />

suficiente para evitar o subcultivo de muitos<br />

não patógenos os quais não fermentam a lactose,<br />

tornando-se um trabalho que demanda<br />

tempo e maior custo, especialmente em<br />

laboratórios que analisam muitos espécimes<br />

diariamente (10, 13).<br />

Os meios de cultura em placa mais<br />

utilizados para o isolamento de Salmonella<br />

e Shigella em laboratórios clínicos são:<br />

• Eosina-Azul de Metileno (EMB),<br />

MacConkey (baixa seletividade)<br />

• Xilose-Lisina-Desoxicolato (XLD),<br />

Salmonella-Shigella (SS), Hektoen Enteric,<br />

Citrato-Desoxicolato (média seletividade)<br />

(Figuras 2, 3, 4, 5, 6)<br />

• Verde Brilhante, Bismuto-Sulfito (alta<br />

seletividade)<br />

No entanto, os meios de alta seletividade<br />

só servem para o isolamento<br />

seletivo de Salmonella e foram adaptados<br />

de forma incorreta da <strong>microbiologia</strong> de<br />

alimentos para a <strong>microbiologia</strong> clínica<br />

humana. Infelizmente, também, muitos<br />

são os laboratórios clínicos brasileiros que<br />

utilizam de forma completamente equivocada<br />

combinações de meios de cultura<br />

que nada acrescentam para a realização<br />

de uma coprocultura de boa qualidade.<br />

Exemplo disso é a utilização de meios<br />

como ágar manitol hipertônico, ágar CLED,<br />

ágar sangue, dentre outros.<br />

O surgimento de meios cromogênicos<br />

e fluorogênicos tem permitido avanços<br />

significativos na formulação dos meios<br />

de cultura diferenciais, os quais detectam<br />

caracteres fenotípicos bacterianos, manifestos<br />

pela ação de enzimas características<br />

de certos grupos taxonômicos, orientando<br />

a sua identificação presuntiva. Estes meios<br />

incluem em sua composição compostos<br />

cromogênicos e/ou fluorogênicos, habitualmente<br />

incolores, os quais servem como<br />

substrato de enzimas específicas. Quando<br />

a enzima atua sobre o substrato, este sofre<br />

uma mudança estrutural, formando um<br />

novo composto colorido (cromóforo) ou<br />

fluorescente (12). Nos últimos anos surgiram<br />

diversos meios cromogênicos úteis<br />

para o isolamento e identificação presuntiva<br />

de Salmonella spp. (CHROMagar, SMID,<br />

Rambach, ABC, etc.); no entanto, até o<br />

momento, nenhum meio cromogênico<br />

foi desenvolvido para o isolamento e a<br />

identificação presuntiva de Shigella. O ágar<br />

Rambach (Figura 7) foi o primeiro meio<br />

cromogênico disponível comercialmente,<br />

seguido pelo SMID.<br />

Muitos estudos demonstraram altos<br />

índices de sensibilidade e especificidade,<br />

mas as investigações foram baseadas essencialmente<br />

no uso de culturas puras (estoque)<br />

de Salmonella. Estudos posteriores<br />

indicaram que a presença da microbiota<br />

intestinal normal, não inibida previamente<br />

por caldos de pré-enriquecimento, atrapalhava<br />

sobremaneira a performance destes<br />

meios (3). O ágar Rambach permite a<br />

identificação de salmonelas não-tifóides,<br />

gerando colônias de cor vermelha no meio.<br />

Os coliformes aparecem como colônias<br />

azuis, verdes, violetas ou incolores. Uma<br />

vez que as características bioquímicas usadas<br />

neste meio são altamente específicas<br />

Figura 2. Ágar Hektoen: Aspecto colonial de<br />

Shigella sonnei.<br />

Figura 3. Ágar SS: Aspecto colonial de<br />

Shigella sonnei.<br />

Figura 4. Ágar XLD: Aspecto colonial de<br />

Shigella sonnei.<br />

Figura 5. Ágar Hektoen: Aspecto colonial de<br />

Salmonella spp. (ausência de fermentação dos<br />

carboidratos do meio e produção de H 2<br />

S).<br />

Figura 6. Ágar SS: Aspecto colonial de<br />

Salmonella spp. (lactose-negativa e produção<br />

de H 2<br />

S).<br />

Figura 7. Ágar Rambach: Aspecto colonial<br />

de Salmonella não-tifóide (fermentação do<br />

propilenoglicol).<br />

62<br />

NewsLab - edição 86 - 2008


Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

para salmonelas não-tifóides (fermentação<br />

do propilenoglicol e ausência de betagalactosidase),<br />

somente poucos resultados<br />

falsos-positivos são encontrados.<br />

O maior problema deste meio é a incapacidade<br />

de isolamento de Salmonella<br />

enterica sorotipo Typhi, pois estas não<br />

fermentam o propilenoglicol (17). No meio<br />

SMID, as colônias de Salmonella são também<br />

distintas das demais pela formação<br />

de coloração vermelha intensa (devido à<br />

formação de ácido a partir do glicuronato e<br />

ausência de beta-galactosidase), enquanto<br />

outras bactérias acompanhantes aparecem<br />

como colônias azuis, violetas ou incolores.<br />

Este meio possibilita o isolamento e a<br />

identificação presuntiva de todos os sorogrupos<br />

de Salmonella. Já o ágar ABC (ágar<br />

alfa-beta-cromogênico) explora o fato das<br />

salmonelas poderem ser diferenciadas dos<br />

membros da família Enterobacteriaceae<br />

pela presença da enzima alfa-galactosidase,<br />

na ausência da atividade da enzima<br />

beta-galactosidase (10).<br />

Um total de 1.022 cepas de Salmonella<br />

spp. e 300 outros bacilos Gram-negativos<br />

foram inoculados neste meio. Destas,<br />

99,7% das cepas de Salmonella produziram<br />

colônias com uma coloração verde<br />

característica, ao passo que somente uma<br />

cepa de Escherichia coli atípica (0,33%)<br />

também produziu colônias verdes (100%<br />

de sensibilidade e 90,5% de especificidade)<br />

(10). Atualmente, outros meios<br />

cromogênicos para Salmonella já estão<br />

disponíveis comercialmente e quase todos<br />

eles (com exceção dos meios Rambach e<br />

ABC) detectam a atividade de esterase (Figura<br />

8), positiva para todas as salmonelas.<br />

Figura 8. Ágar cromogênico: Aspecto colonial<br />

de Salmonella spp. (utilização do substrato<br />

cromogênico através da enzima esterase)<br />

Porém, estes meios possuem custo elevado<br />

e são específicos somente para Salmonella.<br />

Outros meios em ágar, invariavelmente,<br />

devem ser usados em conjunto para o isolamento<br />

de outros enteropatógenos, onerando<br />

muito o custo final da coprocultura.<br />

Estes meios obtiveram excelente aceitação<br />

em laboratórios de controle de qualidade,<br />

os quais pesquisam somente Salmonella<br />

(em amostras de águas e alimentos).<br />

Quando qualquer meio de cultura<br />

desidrata, o potencial de oxi-redução (eH)<br />

é alterado, as concentrações dos agentes<br />

inibidores são aumentadas e o efeito<br />

mais visível disso é o pouco ou nenhum<br />

crescimento de colônias. Nos laboratórios<br />

clínicos, onde é freqüente a prática de se<br />

confeccionar meios de cultura para uma<br />

ou mais semanas de trabalho, este efeito<br />

pode ser minimizado embalando as placas<br />

em sacolas plásticas ou, preferencialmente,<br />

envoltas por plástico-filme de PVC (o<br />

mesmo utilizado em cozinha). Mesmo<br />

um tempo razoavelmente curto de duas<br />

semanas sob refrigeração é suficiente para<br />

promover efeitos deletérios nos meios em<br />

placa sem proteção, proporcionando resultados<br />

aberrantes nas análises (13).<br />

Isenberg et al. (6) estudaram vários<br />

meios de cultura seletivos (ágares SS, XLD,<br />

Hektoen) na tentativa de avaliar o grau de<br />

supressão da microbiota intestinal normal<br />

em espécimes fecais, permitindo o crescimento<br />

dos reais patógenos significativos.<br />

Salmonella e Shigella, isolados de espécimes<br />

clínicos humanos, foram misturados<br />

com Escherichia, Klebsiella, Enterobacter,<br />

Serratia e Proteus. Foram feitas diferentes<br />

diluições destas misturas e então semeadas<br />

nas placas de ágar. Os resultados<br />

demonstraram um maior grau de inibição<br />

de Shigella utilizando o ágar SS, ao passo<br />

que os ágares XLD e Hektoen permitiram<br />

o isolamento normal desta bactéria (bem<br />

como de Salmonella), suprimindo consideravelmente<br />

a microbiota intestinal normal<br />

acompanhante.<br />

Vários estudos (5, 25, 26) comprovaram<br />

a inibição de Shigella por microrganismos<br />

pertencentes à microbiota intestinal<br />

normal. Os primeiros estudos mostraram<br />

que Klebsiella/Enterobacter inibia o crescimento<br />

de Shigella em culturas mistas,<br />

indicando que uma possível competição<br />

por fontes de carboidratos fermentáveis<br />

seria a causa principal. Outros estudos<br />

comprovaram parcialmente esta teoria,<br />

uma vez que também foram relatadas inibições<br />

do crescimento de Shigella quando<br />

em presença de Klebsiella/Enterobacter,<br />

mesmo em meios aerados e com excesso<br />

de glicose. No entanto, estes estudos também<br />

provaram que a produção de ácidos<br />

acético e fórmico por estas bactérias (e<br />

também por E. coli) fazia com que as<br />

Shigella entrasse em fase logarítmica de<br />

morte, comprovando que a produção de<br />

ácidos voláteis com a concomitante redução<br />

acentuada do meio eram os principais<br />

mecanismos de inibição do crescimento de<br />

Shigella em culturas mistas.<br />

Os caldos de enriquecimento seletivo<br />

são utilizados para diminuir a quantidade<br />

de bactérias da microbiota intestinal normal<br />

no espécime fecal, inibindo de alguma<br />

forma seu metabolismo e propiciando o<br />

desenvolvimento franco dos verdadeiros<br />

enteropatógenos. Estes caldos devem ser<br />

sempre utilizados como uma etapa prévia,<br />

uma vez que a semeadura direta das fezes<br />

em meios sólidos geralmente leva a um<br />

supercrescimento da microbiota normal,<br />

em detrimento às poucas colônias que<br />

podem ser formadas pelos verdadeiros<br />

patógenos (13).<br />

Deve ser observado que cada caldo<br />

possui suas próprias características e seu<br />

uso deve ser criterioso, seguindo todas as<br />

informações dadas pelos fabricantes para<br />

uma melhor performance. No entanto, em<br />

muitos laboratórios clínicos estes caldos<br />

são usados de forma equivocada, muitas<br />

vezes sem o real conhecimento científico<br />

de sua utilidade. Muitos são os caldos para<br />

o pré-enriquecimento seletivo utilizados em<br />

<strong>microbiologia</strong>: tetrationato segundo Muller-<br />

Kauffmann, Rappaport-Vassiliadis, selenito<br />

segundo Leifson, selenito-cistina e GN<br />

segundo Hajna. No entanto, com exceção<br />

dos dois últimos, estes meios foram adaptados,<br />

incorretamente, da <strong>microbiologia</strong><br />

de alimentos para a <strong>microbiologia</strong> clínica<br />

64<br />

NewsLab - edição 86 - 2008


Figura 9. Caldo GN Hajna: 1) meio inoculado<br />

com espécime fecal; 2) meio não inoculado<br />

humana, pois são utilizados somente para<br />

o isolamento de Salmonella. Eles possuem<br />

diversas substâncias tóxicas para as outras<br />

bactérias (especialmente E. coli e Shigella)<br />

e, portanto, não devem ser utilizados em<br />

espécimes fecais (9, 11, 14, 15).<br />

Mesmo muito utilizado em <strong>microbiologia</strong><br />

clínica, o caldo selenito-cistina<br />

também é bastante inibidor para o desenvolvimento<br />

de Shigella, especialmente<br />

pelo contato prolongado das células com<br />

o selenito de sódio (este caldo deve ser<br />

incubado por 24 horas antes do repique<br />

em meios sólidos). Já o caldo GN (Gram-<br />

Negative), idealizado por Hajna em 1955<br />

(4), continua sendo o melhor meio para o<br />

pré-enriquecimento seletivo tanto para o<br />

isolamento de Salmonella quanto de Shigella,<br />

a partir de espécimes fecais humanos<br />

(Figura-9). O meio deve ser inoculado<br />

com pequena porção de fezes, incubado<br />

por até 8 horas em estufa bacteriológica e<br />

repicado para meios em placa (o tempo<br />

ideal para a incubação é de 6 a 8 horas).<br />

O citrato e o desoxicolato de sódio presentes<br />

em sua formulação impedem o rápido<br />

crescimento da microbiota intestinal<br />

normal, possibilitando a multiplicação<br />

dos verdadeiros enteropatógenos. No<br />

entanto, após 8 horas de incubação, esta<br />

capacidade inibitória começa a se perder<br />

e as bactérias intestinais acompanhantes<br />

começam a se multiplicar normalmente.<br />

Portanto, nunca devemos utilizar o caldo<br />

GN após 8 horas de incubação pois,<br />

dessa forma, é praticamente como se<br />

estivéssemos semeando o espécime fecal<br />

diretamente nas placas (10, 13).<br />

Taylor e Schelhart (21) compararam caldos<br />

de pré-enriquecimento e três meios em<br />

placa durante a análise de 1.405 espécimes<br />

fecais com o intuito de escolherem a melhor<br />

combinação caldo/placa para o isolamento<br />

de Shigella. Os caldos GN e selenito foram<br />

semeados em ágar EMB, SS e XLD. Com<br />

o uso dos caldos de pré-enriquecimento,<br />

obteve-se o dobro de isolamentos de Salmonella<br />

e Shigella em comparação com a<br />

semeadura direta em placas das amostras<br />

fecais. Todos os três caldos obtiveram<br />

resultados ótimos no pré-enriquecimento<br />

seletivo de Salmonella; no entanto, o caldo<br />

GN possibilitou o isolamento de quase três<br />

vezes mais Shigella do que o caldo selenito<br />

(Tabela 1). A comparação entre os meios em<br />

placa mostrou que o ágar XLD foi muito<br />

mais eficiente que os ágares SS e EMB para<br />

o isolamento de ambos os gêneros bacterianos<br />

(Tabela 2), indicando que a combinação<br />

GN/XLD foi a mais eficiente.<br />

Quatro meios de cultura em placa<br />

(MacConkey, citrato-desoxicolato, XLD e<br />

verde brilhante) foram inoculados diretamente<br />

com amostras fecais e também após<br />

o pré-enriquecimento seletivo usando os<br />

caldos selenito, GN e tetrationato, em<br />

um estudo conduzido por Taylor e Schelhart<br />

(22) com 1.117 espécimes fecais na<br />

tentativa de isolamento de Salmonella e<br />

Shigella. O ágar XLD foi claramente superior<br />

na detecção destas bactérias (Tabela<br />

3) e o uso do caldo GN mostrou-se de<br />

Tabela 1. Performance dos caldos de pré-enriquecimento no isolamento de Salmonella e Shigella<br />

Bactéria Semeadura direta Caldo GN* Caldo Selenito*<br />

Salmonella 160 332 260<br />

Shigella 57 118 38<br />

Total 217 450 298<br />

* pré-enriquecimento com posterior semeadura em placa<br />

Tabela 2. Performance dos meios em placa no isolamento de Salmonella e Shigella<br />

Bactéria EMB XLD SS<br />

Salmonella 235 (47%) 497 (99%) 343 (68%)<br />

Shigella 103 (73%) 137 (96%) 75 (53%)<br />

Total 338 (52%) 634 (98%) 418 (65%)<br />

Tabela 3. Total de amostras positivas para Salmonella e Shigella usando caldos de pré-enriquecimento seletivo<br />

Bactéria Semeadura direta Caldo GN* Caldo Selenito* Caldo Tetrationato*<br />

Salmonella 157 250 257 164<br />

Shigella 53 77 66 27<br />

Total 210 327 323 191<br />

* pré-enriquecimento com posterior semeadura em placa<br />

NewsLab - edição 86 - 2008 65


Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

Tabela 4. Total de amostras positivas para Salmonella e Shigella utilizando os meios em placa<br />

Bactéria MC XLD CD VB<br />

Salmonella 178 (55%) 305 (94%) 115 (35%) 230 (71%)<br />

Shigella 66 (75%) 78 (89%) 24 (27%) 55 (63%)<br />

Total 244 (59%) 383 (93%) 139 (34%) 285 (69%)<br />

MC: MacConkey; XLD: Xilose-lisina-desoxicolato; CD: Citrato-desoxicolato; VB: Verde brilhante.<br />

Tabela 5. Distribuição dos resultados falsos-positivos (H 2<br />

S+ não Salmonella) nos meios em placa<br />

Bactéria XLD SS Hektoen<br />

Citrobacter freundii 27 (6,7%) 82 (9,5%) 361 (36,5%)<br />

Proteus vulgaris/mirabilis 122 (30,1%) 359 (41,6%) 244 (24,7%)<br />

Total 149 (36,8%) 441 (51,1%) 605 (61,2%)<br />

fundamental importância para a detecção<br />

de ambos os patógenos, especialmente<br />

Shigella (Tabela 4).<br />

Vassiliadis et al. (24) reportaram que<br />

105 Shigella foram isoladas em ágar citratodesoxicolato<br />

quando semeadas diretamente<br />

mas somente 16 foram recuperadas após<br />

o uso do pré-enriquecimento com caldo<br />

selenito, das quais 13 de 25 foram S. sonnei<br />

e somente três de 78 foram S. flexneri.<br />

Dois caldos de enriquecimento e quatro<br />

meios em placa foram avaliados por Taylor e<br />

Schelhart (23), comparando a eficiência de<br />

detecção de Salmonella e Shigella a partir<br />

de 1.597 espécimes fecais. Todas as 17<br />

Shigella foram isoladas no ágar XLD após<br />

o enriquecimento prévio em caldo GN.<br />

A semeadura direta das fezes nos quatro<br />

meios em placa permitiu o isolamento de<br />

somente 92 das 170 Salmonella (54%); da<br />

mesma forma, somente 10 das 17 Shigella<br />

(59%) foram recuperadas. Os caldos de<br />

pré-enriquecimento se mostraram efetivos<br />

para a recuperação de todos os patógenos<br />

pesquisados, sendo que o caldo GN proporcionou<br />

o isolamento de 87% das Salmonella<br />

e 100% das Shigella e o caldo selenito 97 e<br />

76%, respectivamente.<br />

Foi observado que o ágar XLD produziu<br />

mais resultados positivos para ambos<br />

os patógenos em comparação com os<br />

outros três meios. O ágar XLD recuperou<br />

3%, 12% e 99% mais Salmonella que os<br />

ágares Hektoen, SS e EMB, respectivamente.<br />

Para Shigella, o ágar XLD produziu<br />

13%, 33% e 44% mais isolamentos que<br />

os ágares Hektoen, SS e EMB, respectivamente.<br />

Neste mesmo estudo, os autores<br />

observaram que o número de resultados<br />

falsos-positivos na observação preliminar<br />

das placas (colônias H 2<br />

S+ que não foram<br />

identificadas como Salmonella) foi maior<br />

nos meios SS e Hektoen (Tabela 5).<br />

A vantagem do ágar XLD sobre os outros<br />

meios seletivos avaliados neste estudo<br />

(SS e Hektoen) provavelmente seja um<br />

sistema de diferenciação de colônias com<br />

maior poder de discriminação (a xilose,<br />

presente no XLD, é fermentada por muito<br />

mais membros da família Enterobacteriaceae<br />

do que a salicina, presente no Hektoen).<br />

Portanto, todas as colônias salicina(-) de não<br />

fermentadores ou fermentadores tardios de<br />

lactose/sacarose são uma fonte de possíveis<br />

resultados falsos-positivos no ágar Hektoen.<br />

No entanto, a maioria destes microrganismos<br />

fermenta rapidamente a xilose,<br />

possibilitando uma maior discriminação no<br />

ágar XLD. Já o ágar SS, não possuindo nem<br />

xilose nem salicina como características diferenciais<br />

(somente lactose), é dependente<br />

quase que exclusivamente do maior efeito<br />

inibitório de sua formulação.<br />

King e Metzger (7, 8) desenvolveram o<br />

meio de cultura Hektoen Enteric em 1968<br />

como um modo de melhorar a performance<br />

de isolamento de patógenos intestinais,<br />

obtendo bom crescimento de Shigella e<br />

Salmonella através da utilização de proteosepeptona<br />

e a adição da salicina como um<br />

terceiro carboidrato fermentável, além de<br />

melhorar o sistema indicador da produção<br />

de H 2<br />

S. Durante o estudo, comparando a<br />

performance do recém-criado meio Hektoen<br />

Figura 10. Ágar XLD: Aspectos coloniais de<br />

Citrobacter freundii (Cf), Proteus mirabilis<br />

(Pm) e Escherichia coli (Ec)<br />

Enteric com os ágares SS e EMB, somente Salmonella<br />

e Shigella foram pesquisados a partir<br />

da semeadura de 2.855 espécimes fecais.<br />

Os autores relataram que o meio Hektoen<br />

possibilitou mais isolamentos de Shigella que<br />

os demais. Do total de 98 Shigella isoladas<br />

de todos os três meios, 97 foram isoladas em<br />

Hektoen e somente 40 no ágar SS.<br />

Citrobacter freundii, bacilo Gramnegativo<br />

pertencente à família Enterobacteriaceae,<br />

membro da microbiota intestinal<br />

normal da grande maioria das pessoas<br />

sadias, lactose(-) e produtor de H 2<br />

S, não<br />

tem o seu crescimento inibido nos ágares<br />

EMB, MacConkey, Hektoen e XLD, mas o<br />

ágar SS mostra-se bastante inibidor para<br />

esta espécie. Conseqüentemente, C. freundii<br />

está entre as causas menos freqüentes<br />

de resultados falsos-positivos no ágar SS.<br />

No ágar XLD esta espécie geralmente não<br />

causa resultados falsos-positivos pois,<br />

devido ao sistema diferencial daquele<br />

meio, as colônias de C. freundii tornam-se<br />

amarelas (Figura-10), semelhantes àquelas<br />

66<br />

NewsLab - edição 86 - 2008


Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

dos coliformes da microbiota intestinal<br />

normal, mesmo as cepas fermentadoras<br />

tardias de lactose são xilose(+) e lisina(-).<br />

O ágar Hektoen, entretanto, não possui<br />

nenhum sistema inibidor nem diferencial<br />

para distinguir C. freundii de Salmonella,<br />

uma vez que ambos podem ser lactose/<br />

sacarose/salicina(-) e H 2<br />

S(+). Portanto, C.<br />

freundii também é a causa mais freqüente<br />

de resultados falsos-positivos quando se<br />

usa este meio de cultura em amostras fecais<br />

(13) (Figura 11).<br />

Os efeitos de temperaturas de incubação<br />

diferentes (20, 35 e 40 o C), longos<br />

períodos de transporte, caldos de préenriquecimento<br />

e meios em placa foram<br />

determinados por análises exaustivas,<br />

pesquisando Salmonella e Shigella, em 132<br />

amostras fecais (20). Estes espécimes foram<br />

semeados diretamente em ágares SS, XLD e<br />

EMB, meios de transporte Cary-Blair (CB) e<br />

salina e caldos de pré-enriquecimento GN<br />

e selenito. Os melhores resultados dos caldos<br />

na recuperação de Salmonella foram<br />

GN > selenito > salina > CB > semeadura<br />

direta. Para Shigella, GN > salina > semeadura<br />

direta > CB > selenito, provando<br />

que o caldo selenito não é adequado para<br />

o isolamento de Shigella. A eficiência dos<br />

meios em placa, tanto para Salmonella<br />

quanto para Shigella, foi: XLD > EMB > SS.<br />

Além disso, 10 das 39 Shigella não foram<br />

isoladas a partir da combinação selenito/<br />

SS. As temperaturas de incubação não<br />

afetaram as taxas de recuperação de Salmonella;<br />

no entanto, somente metade das<br />

Shigella foi isolada a 40 o C e os isolamentos<br />

a 20 e 35 o C foram equivalentes. A análise<br />

das placas com crescimento de Salmonella<br />

Figura 11. Ágar Hektoen: Aspecto colonial de<br />

Citrobacter freundii (ausência de fermentação<br />

dos carboidratos do meio e produção de H 2<br />

S).<br />

e Shigella revelou que a semeadura direta<br />

das amostras fecais deve ser desencorajada,<br />

uma vez que o supercrescimento da<br />

microbiota intestinal normal atrapalha o<br />

desenvolvimento daquelas colônias dos<br />

verdadeiros patógenos, principalmente<br />

através da competição por nutrientes.<br />

Tem sido provado por diferentes<br />

autores (2, 10, 13, 14, 16,) que a combinação<br />

de pré-enriquecimento com caldo<br />

selenito e semeadura posterior em ágar SS<br />

é excessivamente inibidora para Shigella.<br />

Taylor e Schelhart (23) mostraram que 19<br />

das 39 cepas de Shigella não cresceram em<br />

nenhuma das 78 replicatas por espécime<br />

em placas de ágar SS e 20 não foram isoladas<br />

dos 48 subcultivos de caldo selenito<br />

com Shigella. Cinco de seis S. flexneri não<br />

cresceram em ágar SS, quatro de seis não<br />

cresceram em selenito, nenhuma das cinco<br />

cepas de S. dysenteriae foi detectada na<br />

combinação selenito/SS e somente uma<br />

cresceu em ágar SS. Desta forma, somente<br />

10 das 39 cepas de Shigella puderam<br />

ser isoladas da combinação selenito/SS,<br />

mesmo com 16 replicatas de cada amostra<br />

fecal. Os autores concluíram que é altamente<br />

insatisfatória a combinação destes<br />

meios, embora eles sejam utilizados por<br />

muitos laboratórios clínicos para a realização<br />

de coproculturas.<br />

Em um estudo conduzido por Pollock<br />

e Dahlgren (16), em um período de 12<br />

meses, vários meios em placa (MacConkey,<br />

XLD, SS, Hektoen) e caldos de pré-enriquecimento<br />

(selenito, tetrationato) para o<br />

isolamento de Salmonella e Shigella foram<br />

comparados, utilizando 455 amostras fecais.<br />

Destas foram isolados 53 patógenos,<br />

dos quais 56% foram S. sonnei e 13%<br />

foram S. flexneri. Destes isolados, 90%<br />

foram recuperados em ágar XLD, 87% em<br />

ágar Hektoen e 80% em ágar MacConkey,<br />

mas somente 28% em ágar SS. Menos da<br />

metade das Shigella foi isolada a partir do<br />

pré-enriquecimento em caldo selenito e<br />

somente duas foram isoladas à partir do<br />

caldo tetrationato. O ágar XLD mostrouse<br />

o melhor meio para o isolamento tanto<br />

de Salmonella quanto de Shigella, seguido<br />

pelo ágar Hektoen. Ambos possuem formulações<br />

que evitam a combinação de<br />

ingredientes sabidamente responsáveis<br />

pela baixa eficiência na recuperação de<br />

várias cepas de Shigella, como ocorre no<br />

ágar SS (sais biliares + citrato).<br />

Dunn e Martin (2) avaliaram cinco<br />

meios de transporte, oito meios em placa<br />

e três caldos de enriquecimento seletivo<br />

para o isolamento de Salmonella e Shigella<br />

em oito laboratórios de diferentes regiões<br />

dos Estados Unidos, os quais submeteram<br />

para análise 490 espécimes fecais de suas<br />

rotinas nos meios de transporte fornecidos<br />

pelos autores. Os resultados sugerem a<br />

utilização de mais de um meio de cultura<br />

para o isolamento primário aliado ao uso<br />

de um caldo de pré-enriquecimento seletivo<br />

e a obrigatoriedade de utilização de<br />

swabs com meios de transporte nos casos<br />

onde as amostras “in natura” não puderem<br />

ser inoculadas imediatamente. Os autores<br />

concluíram, também, que o uso de ágar<br />

XLD em conjunto com o caldo GN como<br />

pré-enriquecimento seletivo foi a melhor<br />

combinação para o isolamento de Salmonella<br />

e Shigella.<br />

Embora um número bastante grande<br />

de meios de transporte tenha sido descrito,<br />

eles possuem as mesmas funções básicas:<br />

manter o status quo da população bacteriana<br />

no espécime clínico, bem como prevenir<br />

o supercrescimento de uma população<br />

bacteriana em particular (como as enterobactérias<br />

da microbiota normal intestinal).<br />

Swabs retais podem ser utilizados, desde<br />

que adequada e racionalmente. Deve-se dar<br />

preferência para a inoculação das amostras<br />

“in natura” mas, nos casos onde a inoculação<br />

destas amostras no laboratório não<br />

seja possível (como nos casos de envio de<br />

espécimes para laboratórios de referência<br />

localizados em outras cidades), os swabs<br />

podem e ser utilizados. No entanto, jamais<br />

utilizar swabs “secos”, ou seja, sem meios<br />

de transporte. Atualmente os swabs comerciais<br />

possuem preços bastante acessíveis a<br />

qualquer laboratório e devem ter preferência.<br />

Colocando os custos diretos e indiretos<br />

na ponta do lápis, os swabs confeccionados<br />

no próprio laboratório elevam substancialmente<br />

o valor final do teste (13).<br />

68<br />

NewsLab - edição 86 - 2008


Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

Alguns estudos relataram a importância<br />

da utilização de meios conservantes para<br />

espécimes fecais com a finalidade de realização<br />

de coproculturas. Stuart (19) foi o<br />

primeiro a publicar um meio quimicamente<br />

definido para a preservação de células bacterianas<br />

até o momento da inoculação em<br />

meios apropriados no laboratório, inclusive<br />

para amostras destinadas ao cultivo de Salmonella<br />

e Shigella. Seu estudo concluiu que<br />

as evidências sugeriam que os swabs retais<br />

preservados no meio de transporte proposto<br />

não possuíam performance inferior aos espécimes<br />

fecais “in natura” para o isolamento<br />

de Salmonella e Shigella após um ou dois<br />

dias de transporte. Posteriormente, Cary e<br />

Blair (1) reportaram o desenvolvimento de<br />

um novo meio de transporte para amostras<br />

fecais, indicando que Salmonella e Shigella<br />

poderiam ser isoladas por até 49 dias, Vibrio<br />

cholerae por até 22 dias e Yersinia pestis por,<br />

pelo menos, 75 dias quando armazenadas<br />

neste novo meio.<br />

No entanto, estudos mais recentes,<br />

comparando a eficiência na manutenção<br />

de células viáveis de Shigella em meios<br />

de transporte comumente utilizados em<br />

laboratórios clínicos (Cary-Blair e salina<br />

glicerinada tamponada), questionaram a<br />

real utilidade dos swabs com meios de<br />

transporte no isolamento de patógenos<br />

entéricos mais delicados e que morrem<br />

rapidamente quando há demora no seu<br />

isolamento. Em um estudo (1), 376 espécimes<br />

fecais de pacientes envolvidos<br />

em surtos de diarréia por Shigella foram<br />

analisados utilizando swabs com meio de<br />

transporte Cary-Blair e salina glicerinada<br />

tamponada. A duração do transporte das<br />

amostras até o laboratório variou de um a<br />

seis dias. Os maiores índices de isolamento<br />

foram obtidos em espécimes refrigerados<br />

ou congelados, em ambos meios de transporte,<br />

em comparação com os meios em<br />

temperatura ambiente. Esta diferença foi<br />

mais evidente na análise dos espécimes<br />

deixados à temperatura ambiente por mais<br />

de três dias. Os autores concluíram que a<br />

salina glicerinada tamponada é melhor<br />

para o transporte e posterior isolamento<br />

de Shigella do que o swab com Cary-Blair,<br />

mas o grau de superioridade é dependente<br />

da temperatura de transporte.<br />

Baseado nas informações anteriores<br />

e ainda na nossa experiência prática,<br />

sugerimos a utilização do caldo GN (com<br />

incubação a 35-37 o C por 6 a 8 horas)<br />

e repique deste para placas de ágares<br />

MacConkey e XLD, para uma ótima recuperação<br />

de Salmonella, Shigella e outros<br />

enteropatógenos bacterianos. No entanto,<br />

a análise destes últimos será tema da Parte<br />

2 deste protocolo de coprocultura. •<br />

Referências Bibliográficas<br />

1. Cary SG, Blair EB. New transport medium for shipment of clinical specimens. J. Bacteriol.<br />

88:96-98, 1964.<br />

2. Dunn C; Martin WJ. Comparison of media for isolation of salmonellae and shigellae from<br />

fecal specimens. Appl. Microbiol. 22:17-22, 1971.<br />

3. Freydiere AM, Gille Y. Detection of salmonellae by using Rambach agar and by a C8 esterase<br />

spot test. J. Clin. Microbiol. 29:2357-2359, 1991.<br />

4. Hajna AA. A new enrichment broth medium for gram negative organisms of the intestinal<br />

group. Publ. Hlth. Lab. 13:83-89, 1955.<br />

5. Hentges DJ. Inhibition of Shigella flexneri by the normal intestinal flora. J. Bacteriol. 93:1369-<br />

1373, 1967.<br />

6. Isenberg HD et al. Isolation of Salmonella and Shigella from na artificial micture of fecal<br />

bacteria. Appl. Microbiol. 18:656-659, 1969.<br />

7. King S, Metzger WI. A new plating medium for the isolation of enteric pathogens. I: Hektoen<br />

enteric agar. Appl. Microbiol. 16:577-578, 1968.<br />

8. King S, Metzger WI. A new plating medium for the isolation of enteric pathogens. II: Comparison<br />

of Hektoen enteric agar with SS and EMB agar. Appl. Microbiol. 16:579-581, 1968.<br />

9. Knox R et al. The selective action of tetrathionate in bacteriological media. J. Hyg. 43:147-158,<br />

1943.<br />

10. Koneman EW et al. Color atlas and textbook of diagnostic microbiology. Baltimore: Lippincott<br />

Williams & Wilkins. 6 a ed., 2006.<br />

11. Leifson E. The effect of sodium selenite on the growth of bacteria and its use as the basis<br />

for a new enrichment medium for the isolation of typhoid bacilli from feces, water, mil, etc. J.<br />

Bacteriol. 31:26-27, 1936.<br />

12. Manafi M, Sommer R. Comparison of three rapid screening methods for Salmonella spp.:<br />

MUCAP test, MicroScreen latex and Rambach agar. Lett. Appl. Microbiol. 14:163-166, 1992.<br />

13. Menezes e Silva CHP, Neufeld PM. Bacteriologia e Micologia para o laboratório clínico.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 1 a ed., 2006.<br />

14. Muller VR, Banwart GJ. Milleu d’enrichment pour la recherche du Bacilie typhique et des<br />

Paratyphiques. Compt. Rend. Soc. Biol. 89:434, 1923.<br />

15. Palumbo AS, Alford JA. Inhibitory action of tetrathionate enrichment broth. Appl. Microbiol.<br />

20:970-976, 1970.<br />

16. Pollock HM, Dahlgren BJ. Clinical evaluation of enteric media in the primary isolation of<br />

Salmonella and Shigella. Appl. Microbiol. 27:197-201, 1974.<br />

17. Rambach A. New plate medium for facillitated differentiation of Salmonella spp. from Proteus<br />

spp. and other enteric bacteria. Appl. Environ. Microbiol. 56:301-303, 1990.<br />

18. Souza EC et al. Etiologic profile of acute diarrhea in children in São Paulo. J. Pedriatr.<br />

78:31-38, 2002.<br />

19. Stuart RD. Transport medium for specimens in Public Health bacteriology. Pub. Hlth Rep.<br />

74:431-438, 1959.<br />

20. Taylor WI, Schelhart D. Effect of temperature on transport and plating media for enteric<br />

pathogens. J. Clin. Microbiol. 2:281-286, 1975.<br />

21. Taylor WI, Schelhart D. Isolation of Shigellae - V. Comparison of enrichment broths with<br />

stools. Appl. Microbiol. 16:1383-1386, 1968.<br />

22. Taylor WI, Schelhart D. Isolation of Shigellae - VI. Performance of media with stool specimens.<br />

Appl. Microbiol. 16:1387-1393, 1968.<br />

23. Taylor WI, Schelhart D. Isolation of Shigellae - VII. Comparison of xylose lysine deoxycholate<br />

agar, Hektoen enteric agar, Salmonella-Shigella agar, and Eosin methylene blue agar with stool<br />

specimens. Appl. Microbiol. 21:32-37, 1971.<br />

24. Vassiliadis P, Pateraki E, Politi G. Compertement des Shigella dans le milieu d’enrichissement<br />

au selenite. Bull. Soc. Pathol. Exotique 59:31-42, 1966.<br />

25. Wynne ES. Antagosnism by Aerobacter strains. J. Bacteriol. 44:209-219, 1947.<br />

26. Wynne ES; Norman, JO. On the concept of “direct antagonism” in bacteria. J. Infect. Dis.<br />

93:243-246, 1953.<br />

70<br />

NewsLab - edição 86 - 2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!