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ça fora do ventre materno tem uma<br />
vida própria, liberdade de movimentos,<br />
enfim, todo um dinamismo próprio<br />
ajudado pela mãe. Mas não vive,<br />
propriamente, da vida da mãe.<br />
Pelo contrário, a criança que está no<br />
seio materno, vive da vida da mãe;<br />
em tudo é conduzida e, por assim dizer,<br />
circunscrita por ela.<br />
Como sujeição, é um estado bastante<br />
semelhante ao de escravidão,<br />
porque neste o escravo renuncia<br />
completamente à sua liberdade para<br />
ficar inteiramente circunscrito pela<br />
vontade de seu senhor. Sua vida,<br />
seus atos são para o serviço de seu<br />
senhor, seus pensamentos tendem a<br />
ele. Assim era Nosso Senhor em relação<br />
a Nossa Senhora.<br />
Aquele que, sendo infinito, criou<br />
o universo e a quem o Céu e a Terra<br />
não podem conter, foi contido pelas<br />
entranhas indizivelmente gloriosas<br />
da Santíssima Virgem e teve para<br />
com Ela um grau de sujeição inimaginável!<br />
Em resposta ao “Non<br />
serviam” de Lúcifer, o<br />
“Amém” do Filho de Deus<br />
Portanto, quem quiser ser verdadeiro<br />
escravo de Nossa Senhora deve<br />
venerar de modo muito especial essa<br />
miraculosa e insondável sujeição de<br />
Jesus a Maria, na qual o infinitamente<br />
maior deixou-Se dominar e conter<br />
pelo menor, na realização de um<br />
plano divino, cuja sabedoria excede a<br />
qualquer cogitação humana.<br />
Por outro lado, este é o mistério da<br />
Contra-Revolução, porque se a Revolução<br />
é um grande “Non serviam” 2 ,<br />
o mais alto grau de alienação – praticado<br />
pelo Filho de Deus em Maria<br />
Santíssima – é o mistério que mais esmaga<br />
a psicologia, a mentalidade e os<br />
falsos ideais da Revolução. Em lugar<br />
do “Non serviam” é o “Amém”. Lúcifer<br />
bradou: “Não servirei”; Nosso Senhor<br />
disse: “Assim seja” a tudo quanto<br />
Nossa Senhora quis.<br />
Exatamente isso dá uma constrição<br />
especial no homem de espírito revolucionário,<br />
diabólico. Não é apenas<br />
ver a Deus servido por sua criatura<br />
e, portanto, sendo observada aí uma<br />
espécie de ordem de mérito, mas é o<br />
próprio Criador querendo obedecer à<br />
sua criatura e esta mandando n’Ele.<br />
É levar a obediência a um grau que se<br />
não soubéssemos, pela Revelação, ter<br />
havido a Encarnação, nunca poderíamos<br />
imaginar que essa virtude chegaria<br />
a tal extremo.<br />
Se isso deu tanta glória a Deus, a<br />
ponto de naquilo que abusivamente<br />
poderíamos chamar a História d’Ele<br />
– porque Deus é infinito e não tem<br />
História – Ele quis que figurasse esse<br />
ato de obediência insondável, compreendemos<br />
também como a obediência<br />
praticada por nós dá glória a<br />
Nossa Senhora. Em contrapartida,<br />
como a revolta injuria a Maria Santíssima<br />
e seu Divino Filho.<br />
Vemos, assim, até que ponto a Revolução<br />
é odiosa a Deus, e isso nos leva<br />
a compreender melhor o Inferno,<br />
com seus tormentos eternos, o desespero<br />
completo, o esmagamento perpétuo<br />
do demônio, à vista do fato de<br />
que ele atentou contra este princípio:<br />
ele deveria obedecer e não quis.<br />
Certos teólogos dizem que a revolta<br />
de Lúcifer deu-se porque lhe<br />
foi mostrado o plano da Encarnação<br />
e dada a ordem de adorar o Verbo<br />
de Deus Encarnado. E por ser um<br />
anjo de tão alta categoria, ele não<br />
quis e revoltou-se.<br />
Esta hipótese, que me parece totalmente<br />
provável, adquire uma clareza<br />
ainda maior se pensarmos no<br />
demônio considerando Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo contido no claustro<br />
sacratíssimo de Nossa Senhora<br />
e obedecendo a Ela. Ver essa obediência<br />
do Verbo Encarnado a uma<br />
criatura infinitamente menor do que<br />
Deus – por mais excelsa que seja –,<br />
e a inferioridade d’Ele em relação a<br />
essa criatura, isso deve ter levado ao<br />
paroxismo a indignação de Lúcifer.<br />
A festa da Contra-Revolução<br />
Nós podemos dizer, portanto, que<br />
o dia 25 de março é a festa da Encarnação<br />
do Verbo, da escravidão a<br />
Nossa Senhora, da Contra-Revolução.<br />
É a festa na qual se celebra o espírito<br />
de obediência, o amor à hierarquia,<br />
à ordem, à dependência, a<br />
tudo quanto a Revolução odeia.<br />
É mais do que concebível que nos<br />
preparemos para essa festa por meio<br />
de orações especiais para pedir a<br />
Nossa Senhora que esse espírito representado<br />
pela Encarnação atinja<br />
em nós a plenitude desejada por<br />
Deus quando nos criou.<br />
De outro lado, vemos também o<br />
espírito mais do que humilde e contrarrevolucionário<br />
de Maria Santíssima<br />
em face deste mistério. Quando<br />
Ela soube que o Verbo Se encarnaria<br />
n’Ela, sua reação não foi de Se<br />
vangloriar, mas de pronunciar esta<br />
frase humílima: “Eis aqui a escrava<br />
do Senhor, faça-se em mim segundo<br />
a tua palavra” (Lc 1, 38). Como<br />
se dissesse: “Se Deus quer de mim<br />
essa coisa inexplicável, isto é, que eu<br />
mande n’Ele, até isso Ele pode exigir<br />
de mim. Portanto, se Deus pede<br />
o meu consentimento a essa situação<br />
inimaginável, por obediência a Ele,<br />
n’Ele mandarei! Mas é Ele o Senhor,<br />
e a sua vontade, em todas as coisas,<br />
eu farei.”<br />
Como ganha um realce especial, à<br />
luz disso, a atitude de Nossa Senhora<br />
na Anunciação, dizendo-Se escrava<br />
de Deus no momento em que Ele<br />
queria fazer um ato supremo de servidão,<br />
de dependência, de escravidão<br />
em relação a Ela! Encontramos<br />
nisto a perfeição do espírito da Contra-Revolução.<br />
v<br />
(Extraído de conferência de<br />
16/3/1971)<br />
1) Cap. VIII, art. 1, §4, n. 243.<br />
2) Do latim: “Não servirei.”<br />
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