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Mas ele era caracteristicamente um<br />
aristocrata brasileiro.<br />
Havia no Brasil duas espécies de<br />
aristocracia: uma era a aristocracia<br />
dos nobres de Portugal vindos para<br />
cá, nomeados pelo rei; outra, nascida<br />
da terra. Famílias que vieram para cá,<br />
não aristocráticas, que se constituíram<br />
aqui, tiveram larga descendência<br />
e uma longa série de gerações de proprietários<br />
rurais, exercendo seu domínio<br />
sobre extensões enormes.<br />
Essas pessoas tomavam um ar,<br />
uma tradição e um jeito aristocráticos<br />
e descendiam, em geral, dos fundadores<br />
do lugar onde viviam. Eram<br />
reconhecidas pelas leis coloniais do<br />
Brasil como aristocratas, e não menos<br />
autênticos do que os portugueses.<br />
Era uma aristocracia nascida da<br />
terra. Isso se deu largamente no Brasil<br />
e de uma delas era José Bonifácio.<br />
Homem muito inteligente, cortês<br />
e representativo.<br />
Com a partida de Dom Pedro I, os<br />
acontecimentos políticos no Brasil<br />
Pedro Corrêa do Lago (CC3.0)<br />
poderiam ter transcorrido<br />
de tal maneira<br />
que com ele<br />
fosse exilada para<br />
Portugal toda a sua<br />
descendência. Entretanto<br />
tal não se<br />
deu, e isso assegurou<br />
a unidade nacional.<br />
Porque o Brasil<br />
era grande demais<br />
para não se fragmentar,<br />
como ocorreu<br />
com as colônias<br />
José Bonifácio de Andrada e Silva<br />
Museu Paulista, São Paulo, Brasil<br />
espanholas quando<br />
ficaram independentes.<br />
A única coisa<br />
que podia torná-lo<br />
unido era um<br />
chefe de Estado não<br />
originário de nenhuma<br />
das Províncias<br />
brasileiras, mas que<br />
pairasse acima do<br />
Brasil como um símbolo.<br />
Assim, mantiveram-se<br />
aqui os filhos<br />
de Dom Pedro I, órfãos<br />
de Dona Leopoldina<br />
e já então<br />
órfãos de pai também,<br />
porque este ia<br />
para longe, para outra<br />
vida com outra esposa. Eles ficavam<br />
sem nada... Dom Pedro I deixou<br />
como tutor de seus filhos o próprio<br />
José Bonifácio, como o mais capaz<br />
de educá-los, orientá-los.<br />
Narra-se que, quando Dom Pedro<br />
I partiu para Portugal, José Bonifácio<br />
foi ao Palácio Imperial tomar<br />
contato com as crianças, e apresentaram-lhe,<br />
deitado numa almofada,<br />
o Imperador Pedro II. Ele tomou<br />
com ternura a almofada com o pequeno<br />
monarca e disse: “Meu Imperador<br />
e meu filho!” O que é uma exclamação<br />
muito brasileira...<br />
A reverente compaixão nacional<br />
pousou sobre essas crianças órfãs e<br />
isoladas, a bem dizer pupilas do País<br />
inteiro, e por cuja salvaguarda,<br />
educação, saúde, casamento sentia-se<br />
responsável a Nação inteira<br />
também.<br />
Desabrochava, assim, um vínculo<br />
filial e afetivo em torno da figura de<br />
Dom Pedro II, de todo o seu reinado<br />
e de sua família, constituindo uma<br />
espécie de relação familiar que vinha<br />
desse berço de onde renascia a monarquia.<br />
E fez com que Dom Pedro<br />
II, ao longo de sua vida, se tornasse<br />
pai e depois avô do Brasil. v<br />
(Continua no próximo número)<br />
(Extraído de conferência de<br />
23/11/1985)<br />
Benedito Calixto (CC3.0)<br />
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