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Revista Dr Plinio 252

Março de 2019

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Mas ele era caracteristicamente um<br />

aristocrata brasileiro.<br />

Havia no Brasil duas espécies de<br />

aristocracia: uma era a aristocracia<br />

dos nobres de Portugal vindos para<br />

cá, nomeados pelo rei; outra, nascida<br />

da terra. Famílias que vieram para cá,<br />

não aristocráticas, que se constituíram<br />

aqui, tiveram larga descendência<br />

e uma longa série de gerações de proprietários<br />

rurais, exercendo seu domínio<br />

sobre extensões enormes.<br />

Essas pessoas tomavam um ar,<br />

uma tradição e um jeito aristocráticos<br />

e descendiam, em geral, dos fundadores<br />

do lugar onde viviam. Eram<br />

reconhecidas pelas leis coloniais do<br />

Brasil como aristocratas, e não menos<br />

autênticos do que os portugueses.<br />

Era uma aristocracia nascida da<br />

terra. Isso se deu largamente no Brasil<br />

e de uma delas era José Bonifácio.<br />

Homem muito inteligente, cortês<br />

e representativo.<br />

Com a partida de Dom Pedro I, os<br />

acontecimentos políticos no Brasil<br />

Pedro Corrêa do Lago (CC3.0)<br />

poderiam ter transcorrido<br />

de tal maneira<br />

que com ele<br />

fosse exilada para<br />

Portugal toda a sua<br />

descendência. Entretanto<br />

tal não se<br />

deu, e isso assegurou<br />

a unidade nacional.<br />

Porque o Brasil<br />

era grande demais<br />

para não se fragmentar,<br />

como ocorreu<br />

com as colônias<br />

José Bonifácio de Andrada e Silva<br />

Museu Paulista, São Paulo, Brasil<br />

espanholas quando<br />

ficaram independentes.<br />

A única coisa<br />

que podia torná-lo<br />

unido era um<br />

chefe de Estado não<br />

originário de nenhuma<br />

das Províncias<br />

brasileiras, mas que<br />

pairasse acima do<br />

Brasil como um símbolo.<br />

Assim, mantiveram-se<br />

aqui os filhos<br />

de Dom Pedro I, órfãos<br />

de Dona Leopoldina<br />

e já então<br />

órfãos de pai também,<br />

porque este ia<br />

para longe, para outra<br />

vida com outra esposa. Eles ficavam<br />

sem nada... Dom Pedro I deixou<br />

como tutor de seus filhos o próprio<br />

José Bonifácio, como o mais capaz<br />

de educá-los, orientá-los.<br />

Narra-se que, quando Dom Pedro<br />

I partiu para Portugal, José Bonifácio<br />

foi ao Palácio Imperial tomar<br />

contato com as crianças, e apresentaram-lhe,<br />

deitado numa almofada,<br />

o Imperador Pedro II. Ele tomou<br />

com ternura a almofada com o pequeno<br />

monarca e disse: “Meu Imperador<br />

e meu filho!” O que é uma exclamação<br />

muito brasileira...<br />

A reverente compaixão nacional<br />

pousou sobre essas crianças órfãs e<br />

isoladas, a bem dizer pupilas do País<br />

inteiro, e por cuja salvaguarda,<br />

educação, saúde, casamento sentia-se<br />

responsável a Nação inteira<br />

também.<br />

Desabrochava, assim, um vínculo<br />

filial e afetivo em torno da figura de<br />

Dom Pedro II, de todo o seu reinado<br />

e de sua família, constituindo uma<br />

espécie de relação familiar que vinha<br />

desse berço de onde renascia a monarquia.<br />

E fez com que Dom Pedro<br />

II, ao longo de sua vida, se tornasse<br />

pai e depois avô do Brasil. v<br />

(Continua no próximo número)<br />

(Extraído de conferência de<br />

23/11/1985)<br />

Benedito Calixto (CC3.0)<br />

23

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