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Revista Dr Plinio 252

Março de 2019

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Hagiografia<br />

Luis Samuel<br />

Teófanes é um homem puro que<br />

se casa com uma moça pura; e os<br />

dois, coisa ainda mais rara, resolvem<br />

guardar a castidade perfeita.<br />

O Imperador intervém e manda<br />

esse homem para uma espécie de<br />

exílio dourado. Ele vai com um título<br />

meramente administrativo, mas<br />

pomposo – todos os títulos bizantinos<br />

eram pomposos –, para essa região<br />

exercer suas funções. Imaginem<br />

como era uma cidade de província<br />

daquele tempo: pequena, com um<br />

pequeno palácio destinado ao representante<br />

do imperador, com um tronozinho,<br />

sendo a miniatura – mas<br />

que miniatura! – do fausto imperial,<br />

e Teófanes movendo-se dentro daquilo<br />

diante de um povo genuflexo.<br />

Abandona tudo e vai<br />

para o deserto<br />

Entre os que vão falar com Teófanes<br />

aparece um monge vindo de<br />

algum deserto, de onde saiu levando<br />

consigo todos os silêncios daqueles<br />

pores de sol incandescentes, daquelas<br />

montanhas torradas pelo Sol,<br />

ou batidas por um vento tremendo,<br />

daquelas contemplações caracteristicamente<br />

orientais, com aqueles<br />

olhos enormes olhando para um firmamento<br />

lindíssimo e rezando. Esse<br />

monge sai de repente de seu isolamento,<br />

vai para a cidade e encontra<br />

Teófanes.<br />

Pode-se imaginar a conversa dos<br />

dois:<br />

— Teófanes, o que te adianta gozar<br />

essas coisas da Terra? Vejo em<br />

ti que és um homem puro, Deus te<br />

chama para uma pureza maior. Deixaste<br />

as delícias da carne, deixa, ó<br />

Teófanes, os outros deleites, pois<br />

maiores maravilhas te aguardam.<br />

E Teófanes pergunta:<br />

— Pai santo, o que farei?<br />

— Vai comigo ao deserto, onde os<br />

varões amados de Deus se separam<br />

de tudo quanto é do mundo e vivem<br />

exclusivamente na familiaridade do<br />

Senhor.<br />

Então, Teófanes deixa tudo e vai<br />

para o deserto. Isso é ambiente, isso<br />

é vida, isso é história.<br />

Após fazer promessas<br />

de benefícios, o<br />

Imperador o ameaça<br />

Anos depois, quando Leão, o Armênio...<br />

Que lindo nome para um imperador!<br />

Todas essas coisas em Constantinopla<br />

têm um outro jeito. Há uma<br />

coisa mais banal do que um homem<br />

chamado Leão? Há coisa mais comum<br />

do que um homem ser um armênio?<br />

Mas “Leão, o Armênio”, Imperador<br />

de Constantinopla, é uma<br />

coisa que se destaca de uma série<br />

de outras por vários imponderáveis.<br />

O Imperador Leão, o Armênio, que<br />

traz consigo os luxos e os mistérios da<br />

Armênia para o trono de Bizâncio, é<br />

uma coisa muito mais evocativa.<br />

Continua a ficha:<br />

Leão, o Armênio, renovou a perseguição<br />

às santas imagens...<br />

Era a heresia dos iconoclastas,<br />

que quebravam as imagens nas igrejas,<br />

uma forma ancestral de protestantismo<br />

e de progressismo.<br />

...e soube que Teófanes gozava de<br />

alta consideração entre os ortodoxos.<br />

Ortodoxos aqui somos nós, católicos,<br />

porque não tinha ainda havido<br />

o cisma.<br />

Querendo atraí-lo à sua causa,<br />

chamou-o à Constantinopla. Quando<br />

ele ali chegou, recebeu uma carta do<br />

soberano: “Vossas disposições pacíficas<br />

me fazem crer que aqui viestes para<br />

confirmar com vossos votos minhas<br />

opiniões sobre esse problema. Esse,<br />

aliás, é o meio certo de obter meus favores<br />

e de conseguir para vós, vossos<br />

parentes e vossos mosteiros, todas as<br />

graças que estão ao alcance do imperador<br />

conceder...”<br />

Portanto, todas as que existem,<br />

porque o Imperador de Constantinopla<br />

era onipotente.<br />

Se, ao contrário, vos recusardes a<br />

aquiescer comigo, incorrereis em minha<br />

indignação e dela sentireis todo o<br />

peso, vós e vossos amigos.<br />

É bem claro, o Armênio. No meio<br />

de frases amáveis, a coisa é suborno<br />

ou tiro.<br />

Jogado num calabouço<br />

Teófanes, que nunca se intimidara<br />

com promessas ou ameaças, assim<br />

respondeu:<br />

“Idoso e enfermo como estou, tenho<br />

cuidado em não ambicionar as<br />

coisas que desprezei por Jesus Cristo,<br />

em minha juventude, quando me era<br />

fácil usufruir das coisas do mundo.”<br />

Linda resposta. “Você me oferece<br />

o que eu desdenhei quando podia<br />

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