Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Eduardo Bueno (CC3.0)<br />
António José Quinto (CC3.0)<br />
Dom Miguel - Biblioteca Nacional,<br />
Lisboa, Portugal<br />
Corte Portuguesa em 1822 - Museu Paulista, São Paulo, Brasil<br />
Chegando a Portugal, encontrou<br />
a seguinte situação: Dom Miguel, irmão<br />
mais novo de Dom Pedro I, tinha<br />
se candidatado ao trono português.<br />
Morreu Dom João VI, Dom Pedro<br />
I tornara-se Imperador do Brasil<br />
e se descolara de Portugal. Logo,<br />
argumentava Dom Miguel, uma vez<br />
que ele traíra a nação, separando dela<br />
uma parte, não tinha mais direito<br />
a ser Rei de Portugal. E afirmava:<br />
“O rei sou eu!” Dom Pedro I dizia o<br />
contrário: “Eu não renunciei, e agora<br />
que deixei o Brasil quero governar<br />
aqui em Portugal!”<br />
A isso somava-se uma complicação<br />
de caráter ideológico: também<br />
os monarquistas portugueses estavam<br />
divididos pela mesma questão<br />
que dividira as opiniões no Brasil.<br />
Aliás, era a grande questão daquele<br />
tempo: saber se uma monarquia<br />
deveria ser absoluta, à maneira<br />
do Ancien Régime, ou parlamentar,<br />
como vigorou após a Revolução<br />
Francesa.<br />
Os partidários de Dom Miguel<br />
eram monarquistas absolutistas, enquanto<br />
os de Dom<br />
Pedro I eram a favor<br />
da monarquia<br />
parlamentar. Ele<br />
que no Brasil tinha<br />
sustentado o princípio<br />
da monarquia<br />
absoluta, com<br />
o direito de fechar o<br />
Parlamento quando<br />
quisesse, em Portugal<br />
chefiou o parido<br />
liberal.<br />
A guerra entre<br />
esses dois partidos<br />
dividiu Portugal a<br />
fundo. Quase todas<br />
as boas famílias de<br />
Portugal tiveram antepassados lutando<br />
ou do lado dos “miguelistas”,<br />
ou de Dom Pedro I, ou de sua filha,<br />
Dona Maria da Glória, a quem ele<br />
deixou os direitos quando morreu.<br />
Morto Dom Pedro I, sua imagem<br />
apagou-se na recordação dos brasileiros<br />
como fato político, mas permaneceu<br />
como fato lendário-histórico.<br />
E ficou como a de um príncipe<br />
tumultuoso e inconstante.<br />
Muito curiosamente veio parar<br />
em mãos de minha família uma espada<br />
pertencente aos partidários de<br />
Dona Maria da Glória, filha de Dom<br />
Pedro I. Era uma espada em forma<br />
ligeiramente curva à maneira das espadas<br />
turcas, em cuja copa estava es-<br />
21